“O essencial é invisível aos olhos”
Reginaldo de Souza Silva
Caríssimos colegas de profissão, amados aluno(a)s e todos aqueles comprometidos com a qualidade da educação na Bahia. Mais uma vez tenho a honra de ser convidado para ser o paraninfo do curso de Ciências Biológicas. Teoricamente será a última aula ministrada antes de obterem a certificação para se tornarem oficialmente profissionais da área na qual muitos já estão atuando. Nosso coração sempre irá dizer, relembrar e reafirmar nossos sonhos neste momento tão grandioso. Prezados afilhados e afilhadas, é sempre um momento de grande prazer e também de muita preocupação, receber o convite para ser o paraninfo e me tornar, assim, aquele que deixaria as palavras finais desta que, sem dúvida, é uma das fases mais importantes de suas vidas. Durante dias, a dúvida a respeito do que dizer e de como fazê-lo reduziu ainda mais as minhas, já tão poucas, horas de sono e me levou a pesquisar o que já teriam dito outros paraninfos em outros tempos, mas em contextos tão semelhantes a este que vivemos agora.
Em minha pesquisa, descobri, por exemplo, que, na Grécia antiga, ser paranýmphe era estar ao lado (Pará, em grego) ou conduzindo os nubentes. Para os romanos, que herdaram dos gregos o mesmo sentido, havia a paraninfa (madrinha da noiva) e o paranymphus (padrinho do noivo). Que o conceito original da palavra é o mesmo do termo padrinho, do latim patrinus, diminutivo de pater. Isto é, aquele que substitui o pai, que protege.
Portanto, etimologicamente falando, um paraninfo teria a dupla função de testemunhar e de proteger. A primeira, investido de autoridade, cabe a ele atestar e confirmar ter observado os vários atos dos formandos e, para no instante da colação de grau, diante de todos e principalmente de Deus, os tornar válidos e autênticos. A segunda, como um padrinho, o paraninfo assume a responsabilidade de proteger os seus afilhados e afilhadas, apontando caminhos e aconselhando quanto à atitude mais apropriada que se deve assumir quando a vida exigir respostas.
Assim, em primeiro lugar, com a autoridade outorgada pelo convite, e em nome de todos os docentes da UESB, diante de Deus, do Estado representado e da sociedade, testemunhamos que os afilhados e afilhadas presentes cumpriram todos os atos necessários e pertinentes para sua formação, bem como detêm as qualidades e os conhecimentos que exige a profissão docente, além do compromisso com o bem público, tornando-se todos, portanto, aptos a se licenciarem como professores e professoras de ciências biológicas.
Em segundo lugar, como a profissão que escolhemos nos impõe dia a dia grandes desafios, os quais precisarão enfrentar quase sempre sozinhos, deixo para vocês alguns conselhos, algumas indicações que poderão ajuda-los e ajudá-las a vencerem e conquistarem algumas vitórias.
Ao escolherem como profissão a docência em biologia, por certo já sabiam que ela se baseia, na ciência (que é um dos modos que nós, seres humanos, utilizamos para dar sentido ao mundo que nos cerca, um meio de adquirirmos e reelaborarmos conhecimentos e, através dele expandir de forma extraordinária nossa compreensão sobre ele) e, na prática pedagógica (que é a forma de aproximação intencional e sistematizada das novas gerações dos conhecimentos produzidos pela ciência).
Durante o curso, aprenderam como esses dois conjuntos de conhecimentos (a ciência e a prática pedagógica) se encontram, se determinam e se refazem no espaço escolar e, mais especificamente, no espaço da escola pública, local de iniciação ao conhecimento sistematizado para a maioria dos representantes das novas gerações (crianças, adolescentes, jovens e adultos). E entenderam a responsabilidade que isso acarreta. Aprenderam que, tal como a ciência, a prática pedagógica se concretiza pelo trabalho coletivo, o que significa todos envolvidos em um único projeto, objetivando uma mesma missão e executando ações, mesmo que diversas, mas coesas e coerentes. Aprenderam também como transformar o saber científico em saber escolar e como garantir, através de metodologias adequadas a cada faixa etária, que as novas gerações se apropriem desse conhecimento e de suas formas de produção.
Preparados, desta forma, para desenvolver a docência em Biologia, o que, então, me restaria como conselho para deixar hoje a cada um de vocês? Pensei, então, em quatro questões fundamentais.
A primeira delas diz respeito à condição da docência como espaço de produção de novos conhecimentos. Nestes anos que estiveram na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia ampliaram e fundamentaram seus conhecimentos sobre plantas, animais, praias, florestas e sobre os seres humanos. Vocês agora podem realmente apreciar a maravilha que é o desenvolvimento de uma planta, da germinação da semente à formação das folhas e frutos. Conseguem ver a beleza que existe na interação entre os organismos em um ecossistema, no modo como a evolução integrou plantas, animais e o ambiente para, entre outras coisas, permitir que nós pudêssemos sobreviver neste mundo.
É preciso que vocês confirmem nos seus atos pedagógicos que o conhecimento que almejamos compartilhar esse foi verdadeiramente assimilado. É preciso não aceitar a reprodução mecânica de conhecimentos, mas procurar ensinar a seus alunos a buscarem, produzirem e reelaborarem conhecimentos, interagindo com o mundo e com as pessoas e esse espírito de busca deve ser a continuidade daquele que, durante o curso, os conduziu a estudarem, a pesquisarem e a sistematizar o que encontravam. Trata de manter o espírito de pesquisadores, de investigadores que, aqui, fizemos brotar em vocês.
A segunda questão diz respeito ao necessário envolvimento nas discussões coletivas sobre a nossa profissão docente. Infelizmente, em nossa sociedade ainda encontramos gestores públicos que desconhecem o papel da educação escolar e, por isso, desvalorizam a função docente. Diante disso, não nos cabe a comoda tarefa de apenas lamentar, mas sim a dura missão de combater politicamente tal descaso. E essa não é uma luta solitária, é uma luta coletiva e armada com a arma do conhecimento, do compromisso político com a população brasileira. Lutem pela valorização da profissão, por condições dignas de trabalho e salários.
Em terceiro e último lugar, aponto a questão da necessidade de continuidade da formação. O que vocês aqui viram e aprenderam é só apenas o começo. Por isso chamamos de formação inicial. É preciso, portanto, que continuem estudando, pois a profissão docente assim o exige. Somos e seremos eternos estudantes. Assim, além de outros cursos, de participar de eventos e oficinas, constituam em suas escolas espaços de formação, nos quais possam discutir projetos, compartilhar ações e textos, negociar conflitos, aprofundar decisões. A escola é um espaço fundamental de formação não só dos alunos, mas também dos professores e assim deve ser organizada em tempo e no seu espaço.
Para terminar, gostaria de dizer neste momento, no qual estão presentes para muitos, o pai, a mãe, os irmãos, a esposa, o marido, os filhos, os avós, os amigos, mas, acima de tudo, DEUS (que nos proporcionou a oportunidade, nos deu força e condições para chegar neste momento) que, hoje, a festa é de vocês, que são todas vencedoras… Vencedores em Cristo! Parabéns!
Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva, docente do PARFOR de Ciências Biológicas da UESB.