FIEB: Presidente sugere novos polos na Bahia

Foto: Blog do Anderson
Fotos: Blog do Anderson

É impossível falar em desenvolvimento da Bahia sem pensar no interior do estado. Em entrevista ao CORREIO, a primeira de uma série de reportagens sobre os temas do Fórum Agenda Bahia 2013, o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José de Freitas Mascarenhas, ressalta os principais polos de desenvolvimento do estado e aponta os desafios para a existência de uma economia estadual integrada. Desenvolvimento Regional será o segundo seminário do Agenda Bahia e irá abordar o tema Novos Centros, destacando as potencialidades e oportunidades em cidades médias do estado para um melhor crescimento da economia baiana.

É consenso que os grandes centros, como Salvador, estão saturados e sofrem de sérios problemas de infraestrutura. Isso leva à tendência de interiorização do desenvolvimento?

Sim, a interiorização é uma tendência e uma prioridade nossa. Nós [representantes da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb)] entendemos que hoje é preciso tirar a pressão sobre Salvador. Cremos que é necessário criar e fortalecer os novos polos de desenvolvimento no interior porque isso criará riquezas e melhorará a qualidade de vida das pessoas nesses municípios, por um lado, e aumentará a produtividade, do outro. Essa é uma prioridade e todos nós devemos dar atenção a ela.

Ainda é possível resolver os problemas dos grandes centros, ou já podemos dizer que esse modelo concentrado de desenvolvimento já falhou?

Você está tocando em um tema bastante sensível. Nós estamos estudando isso na Confederação Nacional das Indústrias (CNI) há algum tempo porque as cidades brasileiras não foram planejadas para o crescimento que elas têm. Isso traz um problema muito grande de provimento de infraestrutura e um ônus muito grande para as administrações das prefeituras. Na situação atual, promover melhorias acaba ficando muito caro e difícil, porque exige desapropriações complicadas. Mas é preciso fazê-lo e temos debatido alternativas.

E, como falávamos, tudo isso desloca as atenções para o interior. Como garantir que haverá desenvolvimento de fato nesses novos polos?

A indústria é, por excelência, um setor modernizador. É a indústria que traz a tecnologia, é a indústria que traz a exigência de qualidade das pessoas. Ela, em si, já é modernizadora do desenvolvimento. Se conseguirmos levar para o interior o desenvolvimento industrial adaptado às potencialidades e circunstâncias de cada cidade e de cada região, já estaremos levando o desenvolvimento.

Mas isso exige outras coisas…

Sim. Exige serviços de qualificação profissional, educação, inovação, ciência e tecnologia. Desenvolver tudo isso é um processo. Ao pensar no desenvolvimento industrial de diferentes regiões, também estamos pensando nisso. Escolhemos, até agora, cinco regiões do estado e vislumbramos que, no futuro, elas serão irradiadoras e assistentes do seu entorno para promover um desenvolvimento integrado.

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Quais são esses cinco futuros polos de desenvolvimento destacados pelo senhor?

Primeiro, observamos o polo da região Oeste, que tem entre seus principais municípios Barreiras e Luís Eduardo. Essa é uma região com economia destacada, focada no agronegócio, mas que precisa de uma atenção especial porque está ainda mais distante dos outros polos baianos. Como é uma região que possui um desenvolvimento autônomo, é importantíssimo pensar na integração deles com a Bahia para afugentar ideias separatistas, que são estapafúrdias. O segundo é a da região de Ilhéus e Itabuna, que possui um polo de informática com 42 empresas. Em um passado recente, elas viviam mais voltadas para São Paulo do que para a Bahia. Hoje, já foi criada associação desse segmento aqui em Salvador e estamos em pleno contato com eles. Inclusive, está nos nossos planos implantar nessa região centro de desenvolvimento de pesquisa em eletrônicos.

E os outros polos?

O terceiro é o de Feira de Santana, um centro industrial muito importante e diversificado que tende a crescer ainda mais, pois envolve muitos municípios e possui uma boa integração com Salvador. O quarto é o de Vitória da Conquista, uma zona de desenvolvimento industrial que engloba muitos municípios. Lá, eles têm produção de alimentos, de plástico, indústria têxtil, além de outras indústrias menores. Iremos em breve para Juazeiro, que também tem foco na agroindústria. Além de ser um dos principais municípios da região Norte, Juazeiro é um ponto importante, pois deverá servir de base regional de transporte, tanto através da utilização do Rio São Francisco como por meio de ferrovias que serão construídas. Para cada uma dessas zonas, temos um programa de investimento específico.

O senhor está falando do Programa de Interiorização do Sistema Fieb, criado em 2011. Como funciona?

Abrimos unidades novas e levamos os serviços do sistema S [Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)] para fazer atendimento às indústrias locais. Mantemos uma pessoa em cada um desses polos, que fica responsável por coordenar as lideranças regionais e manter diálogo com a nossa coordenação o tempo todo.

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Quando se fala em polos de desenvolvimento, não se pode tirar a integração entre essas regiões da pauta. O que é necessário para fazer essa integração acontecer?

O que mais necessitamos para que essa integração ocorra é de infraestrutura. Quando um governo cuida do provimento da infraestrutura, isso ajuda bastante o empresário. Para o setor privado, a falta de infraestrutura é um item de muito custo que ele não consegue resolver. Isso tudo está nas mãos do governo. O governo tem uma imensa agenda de infraestrutura e logística para cumprir. E não estou falando apenas de estradas, ferrovias e portos. Também de telecomunicações. Por exemplo: em Barreiras, até hoje não existe um padrão de telecomunicações bom. É preciso levar fibra ótica a esses municípios todos.

Nesse sentido o polo de informática de Ilhéus é ilustrativo…

Pois é. Descobrimos recentemente, em visita ao polo de informática, que lá não havia banda larga instalada, por incrível que pareça. Não é possível um negócio desses! O mundo hoje é um mundo de comunicação, essas coisas básicas não podem deixar de existir. Felizmente, hoje, eles já estão instalando banda larga lá.


Temos hoje no Brasil bons exemplos de desenvolvimento regional? Quais?

Sem dúvida, o melhor exemplo é São Paulo. O interior daquele estado hoje tem cidades muito desenvolvidas, grandes em tamanho e com um desenvolvimento da melhor qualidade. Destacam-se municípios como Ribeirão Preto, Campinas e Araraquara, por exemplo, que possuem um centro de desenvolvimento de tecnologia muito bom. E apesar disso, eles continuam pensando no desenvolvimento e na integração para o futuro, como o Projeto Macrometrópole, em que eles discutem a integração da capital com mais 180 municípios. Temos que olhar para esses bons exemplos.

Centros de pesquisa e inovação estão à frente do desenvolvimento. O interior do nosso estado tem bons centros de pesquisa?

Atualmente, estamos dando prioridade para formar aqui em Salvador um centro de desenvolvimento de tecnologia de porte internacional. Hoje, o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec) já é uma referência nacional. Essa base da capital, que está em pleno crescimento, é quem vai dar suporte aos centros de pesquisa do interior. A estratégia é essa, pensar de forma integrada.

Ao falar sobre o desenvolvimento do interior, é impossível não mencionar a crise que vive a Azaléia, em Itapetinga. Que lições tirar desse caso?

O caso da Azaléia é um problema nacional. A indústria brasileira vem assistindo à perda de competitividade dos seus produtos à medida que enfrenta a forte concorrência de produtos vindos de países asiáticos. O câmbio favorece os importados e temos também problemas tributários, de infraestrutura, etc. A solução que o governo está arrumando, a de desonerar alguns setores, é uma medida paliativa. Esse é um problema que está na agenda nacional que não se resolve.

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Que outros empecilhos o senhor observa para que a Bahia se desenvolva regionalmente, e o estado, como um todo?

Um ponto muito importante e no qual eu tenho insistido muito é: precisamos de uma solução para o Porto de Aratu. A Bahia tem uma economia que produz e importa basicamente produtos intermediários. Por precisar importar e exportar, a economia baiana precisa de portos eficientes e competitivos. A esperança é o novo marco regulatório dos portos, que abre espaço para a iniciativa privada.

O Porto Sul não vai ajudar a resolver?

Será um porto de perfil diferente, focado em atividades econômicas diferentes. Para que a mineração da Bahia se desenvolva, é preciso que o Porto Sul se desenvolva. Esse setor depende disso para engrenar.

Ao falar em desenvolvimento regional, também não podemos deixar de mencionar necessidade de qualificação dos nossos trabalhadores. Como o senhor observa isso na Bahia?

Apesar do baixo crescimento, está havendo muito crescimento do emprego e, com isso, falta pessoal qualificado. Essa é uma questão nacional que se repete aqui. Mas o governo federal tem dado atenção a isso, com programas como o Pronatec e o Ciências sem Fronteiras. Aqui na Bahia, nós temos a seguinte filosofia: nenhuma indústria deixa de se instalar no estado por falta de profissional qualificado.

O interior do estado, enfim, deve ser visto como um campo de oportunidades?

Sim, sem dúvida. O nosso Centro das Indústrias, da Fieb, hoje é voltado  praticamente para o interior. O dirigente desse centro tem responsabilidade de fazer conexões de todas as áreas do interior e trazer para a federação, para ajudar a coordenar as demandas locais. Nós estamos dando uma grande atenção ao desenvolvimento regional do interior.


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