Dois corpos, duas medidas

Por Celino SouzaCS

Todos somos iguais, perante Deus, mas não perante os homens. Um contemporâneo exemplo disso foi o episódio que marcou a exoneração da diretora do Centro Cultural “Camillo de Jesus Lima” (CCCJL), historiadora Maris Stella Schiavo Novaes, pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), pelo fato de ela permitir a realização do velório do artista J. Murilo, em abril deste ano, nas dependências do espaço em Vitória da Conquista. Um golpe contra a democracia cultural, não restou dúvida. Como, num estado democrático de direito, fatos como esses podem acontecer, como se a cultura disseminada pelo povo simples só tivesse valor aos olhos dos poderosos enquanto vivo for o disseminador de tal arte. Morreu, acabou e que seu inerte corpo seja velado o quanto distante for da sua “verdadeira casa” – no caso, o centro de cultura, melhor. Buscamos respostas. E ela veio. Em forma de nota oficial, redigida friamente por quem desconhece a nossa realidade regional. Eivada de termos imperiosos e sob a suposta égide da lei, só fez aumentar ainda mais a descrença nessa desastrosa gestão da Secult quando se trata de reconhecimento profissional.

Alegando estar lastreada numa normativa elaborada junto à Procuradoria Geral do Estado, que cita expressamente o impedimento a velórios, a Secult não pensou duas vezes antes de despedir sumariamente uma servidora cuja breve – porém exitosa passagem pelo CCCJL – foi marcada pela coesão, união, realizações e conquistas jamais experimentadas na história recente deste órgão.

Foi o bastante para acender o estopim da discórdia e fazer surgir um levante contra o abuso de poder governamental, contra o desrespeito aos que tantos fazem ou, no caso de J, Murilo, Geraldo Sol e Miguel Cortes, fizeram pelo engrandecimento da arte e cultura em nosso Estado.

Movimentos pacíficos, conduzidos por jovens, estudantes ou não, artistas ou não, simpatizantes ou não, ativistas ou não, ganharam as ruas e encontraram abrigo no mesmo centro cultural. Diante do impasse entre a Secult e ativistas culturais o CCCJL continua ocupo, porém “acéfalo” há meses.

Mas, eis que surge fato novo. Morto dia 2 deste mês, o bailarino, coreógrafo e educador Augusto Omolú, teve o corpo velado no Foyer do Teatro Castro Alves, na capital baiana. Com o merecido respeito á sua memória e longe de mim a intenção de querer tirar o mérito da homenagem póstuma ao falecido, mas não seria – nesse caso em tela – a aplicação do que classifico de “dois corpos, duas medidas” ?

Como se sabe, o TCA é regido pela Funceb, vinculada da Secult e regido pela mesma normativa e regimento que culminou com a exoneração de Maris Stella. Sendo assim, senhores burocratas engravatados, cadê o respeito aos nossos artistas, ou será que a arte do interior é menos importante que aquela repercutida exaustivamente na mídia, reverberando o clamor público?

Não se esqueça de que a cultura não tem dono, mas ao mesmo tempo pertence a todos nós – ao contrário do que pensam as cabeças errantes da Secult, dentre elas, a do Senhor secretário, Albino Rubin – a quem cobramos rápidas – e elucidativas – explicações, sem rodeios.

Celino Souza, jornalista


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