Jorge Maia
Eu poderia simplesmente escrever: céu, café e pão. O latim tem um que de mistério que mais assombra que fascina, mas chama à atenção, por isso o título. Mas aqui é apenas para impressionar, uma vez que o tema é leve, mas precisava causar impacto. Sempre tive uma boa impressão sobre o céu, para onde irei, não sei quando, mas tenho a certeza vai demorar muito. Aliás, não tenho pressa. Há algo que sempre me inquietou, é a paisagem celeste e as atividades ali desenvolvidas. Não acho que seja um lugar onde se ouve apenas cantos gregorianos os quais sempre estou a ouvir. Deve haver uma diversidade cultural das mais intensas. Não conseguiria viver, em lugar algum, sem as manifestações artísticas e culturais, daí ser forte a minha crença de que no céu deve vicejar um ambiente dos mais intelectuais, em que todas as manifestações artísticas se apresentam e você pode escolher entre um clássico e um moderno, para ver, ouvir ou ler em um domingo depois da missa, quem sabe antes da matinée!
Provavelmente, em sua última entrevista, Chico Anísio disse que não tinha medo de morrer, tinha pena. Compreendi o que quis dizer, pois sempre pensei a mesma coisa. Nunca me conformei em ter de deixar aqui, para sempre, a vastidão criativa de tantos gênios; Feline, Chaplin, Voltair, Kant, Marx, Freud…
É por isso que penso que todos estarão no céu discutido as suas teses e teorias e deles não sentirei falta, pois terei a oportunidade de trocar idéias e deles discordar, a não ser que tenham feito uma revisão dos seus pensamentos.
Há algo, entretanto, que não tenho certeza de como funciona no céu. No domingo, imagino, será sempre festivo e cultural, mas durante a semana, com todo este mundo para cuidar, deve ser uma labuta diária das mais febris. Mas há uma coisa de que eu levarei saudade da terra; uma xícara de café e um pão com manteiga.
Chego a imaginar que no intervalo das três da tarde, Deus, fazendo uma pausa. Pede para servir café *** e pão da padaria*** com manteiga ***. Se for assim matarei a minha saudade, quando lá estiver.
Entre um gole e outro do café opinarei sobre direito natural, discutirei com Kelsen, ouvirei os noturnos de Chopin e trocarei impressões com Machado de Assis sobre Captu, quando então repetirei a segunda xícara, mas pedirei o **** tradicional, o encorpado é muito forte. *** Por questões de direito pessoal omiti os nomes e marcas. Afinal, não fui pago tanto.13 de maio de 2012