Ruy Medeiros
Ontem, ainda vivendo a emoção de haver sido reintegrado no corpo discente (discente mesmo) do Curso de Direito da Universidade Federal da Bahia, fui às ruas ver a manifestação preponderantemente jovem que, como em outros lugares, ocorre em nossa cidade. Mas explico minha reintegração (simbólica) no corpo de alunos da Faculdade de Direito da UFBA: em abril de 1969, após férias, quando preenchi minha confirmação de matrícula no ano letivo , o funcionário pediu que eu me dirigisse até o quadro de avisos e lesse portaria do Diretor da faculdade. Lí-a. Lá estava ato que, com base no Decreto – Lei 477, o diretor atendendo ordem dos ditadores expulsa-me e a outros colegas. Pronto. Expulso do curso, da residência universitária, do restaurante universitário e, depois, do emprego, proibido de matricular-me em outra universidade, deixei de estudar durante um bom (mau) tempo. Fui proibido de fazê-lo pela ditadura militar.
Não se surpreendam. Vivíamos tempos de opressão e terror do Estado.
Mas ontem, ainda sob emoção de lembranças, fui às ruas. Lá estavam jovens, com sua ironia, espírito crítico e combatividade. Expressões de descontentamento e de mal estar que o capitalismo cada vez mais provoca no mundo, a sensibilidade jovem busca afirmar-se nesse tempo em que “o velho” não quer ceder lugar ao novo, agarra-se a velhas fórmulas e, tenta via mídia, desfazer o pensamento contra a ordem vigente do capital.
Vi a juventude alegre, forte, questionadora. Mas não deixei de preocupar-me com o fato de grupo nitidamente eleitoreiro vinculado à defesa de interesses imediatos, querer faturar em seu favor as manifestações, tentar direcionar o que dizer e o que fazer.
Sei que os jovens saberão repudiar aproveitadores. Isso me conforta. O Movimento, que expressa reação, embora necessita aprofundar questões, certamente saberá como encaminhar a crítica ao oportunismo e ao imediatismo eleitoreiro, fazendo valer sua autonomia.
13 Respostas para “Nas ruas, novamente”
Matheus
Belas palavras professor! Realmente havia um pequeno grupo de políticos interessados em se promover, más não obtiveram a mínima relevância diante da verdadeira intenção do manifesto.
José Maria Caires
Palavras sábias, mas sobretudo um testemunho de um passado de opressão, vivido no Brasil. Viva a liberdade e a democracia.
Carlos A.S.Silva
“Eles são muito sabidos, agora em seus discursos serão sempre os defensores das livres manifestações das massas. Na realidade são uns verdadeiros caras de pau, não se mancam e vão querer continuar com suas demagogias para manterem o status quo, quando ‘eles’ são os verdadeiros culpados por tudo isto que acontece pelo país afora, com a revolta de todos os segmentos da população! Façam uma reflexão senhores políticos, pensem mais em: Educação,principalmente, Saúde e Segurança Pública,e não se esqueçam da ética, que se esvaiu pelo espaço!!!”
valmir neves silva
É verdade Dr.Ruy,fiquei muito emocionado com a juventude com seu coração civil fazendo valer sua opinião nas ruas de Vitória da Conquista.Foi uma manifestação ordeira e com uma cara totalmente jovem.Observei sim reafirmo a presença de grupos eleitoreiro,mas sem expressão a juventude estava sabendo o que fazer.Também vi gente como eu sem partido, apenas sendo Brasil nas ruas.
Vinícius Pales
Por fazer parte do quadro de alunos de Direito da UESB e, sendo assim, pertencente ao corpo de alunos do Centro Acadêmico Ruy Medeiros, conheço um tanto dessas suas passagens na luta contra a ditadura e imagino a comoção que essa sucessão de fatos lhe causa. Fico feliz e pedi uma foto para guardar de recordação. Obrigado!
Viviane
Caro professor, não vamos perder o foco, as manifestações não tem sido contra o capitalismo, são bem mais objetivas e menos ideológicas: são contra a corrupção e a má gestão dos recursos públicos do nosso país.
Elve Cardoso
Tive a honra de ser aluno do mestre Ruy Medeiros e fui testemunha ocular de sua prisão pela ditadura militar aqui no centro de Conquista de onde foi levado diretamente para Salvador. O povo sabe sim identificar os oportunistas e os vândalos travestidos de manifestantes.
Gelcí Oliveira Gusmão
Dr. Ruy Medeiros é meu colega na profissão de advogado. Na condição de professor de direito, considero-o, um mestre. Na condição de cidadão, dispensa adjetivos. Na condição de político, é um exímio pensador, é um mestre. Na condição de perseguido político da ditadura militar de 1964, nos igulamos. Agora, na condição de participante do movimeto que tomou conta das ruas do nosso País, e, com sua advertência para que os “políticos oportunistas e carreiristas” não se aproximem dos manifesantes, para tirartem proveitos eleitoreiros desta sitauçao, deve ser levada em consideração. Meus parabéns. Dr.Ruy, meus parabéns pelo artigo postado.
Geralda
Também estou muito feliz por ver a juventude atual em marcha, em luta, mesmo que ainda um pouco difusa. Porém, com a presença do espírito altruísta e indo de encontro ao que prega o capitalismo, individualismo. A maioria dos políticos acreditavam que o Brasil dormia em berço esplêndido, mas ironicamente, como diz na propaganda da copa, o gigante acordou e foi convocado às ruas. O povo ouviu e percebeu que a rua, realmente, é a maior arquibancada do Brasil.
edenaldo souza martins
E pra não entender, um cidadão que e conhecido por apoiar um grupo politico na cidade dando concelhos pra não usar a manifestação politicamente, sera porque o grupo que ele apoia esta no poder ?
E a mesma coisa da raposa aconselhar as galinhas.estamos no fim do mundo, kkkkkk Me Deixe!!!
EDIVALDO FERREIRA
Creio que a injustiça praticada contra o nobre mestre Ruy Medeiros, foi, em parte reparada. Entretanto, as sequelas de tal ato, jamais. Mesmo assim, o que se viu foi ele praticar o bom cambate e se impor do ponto de vista do pensador e intelectual que é. Sempre. Tenho sempre, na pessoa do Dr. Ruy Medeiros um referencial na advocacia de nossa cidade. Concordo com suas sábias palavras quanto àquelesque querem “pongar” no movimento reivindicatório.
Arnon Chagas
Se tem um homem corajoso, determinado, inteligente, honrado e humilde. Esse homem é Dr. Rui Medeiros. O conheci descendo a praça Barão do Rio Branco, nos anos 70 a frente de alguns excluídos, protestando contra ações do governo. Quando vejo protestos dessa natureza, vem logo na mente o Dr. Rui. Parabéns dr. por saber que o você está presente.
Não vos peço a miséria aborrecida, Nem tamanha riqueza que me tente: Daí-me senhor, o necessário a vida, um GOVERNO DESCENTE e serei contente.
lúcia
não conheço pessoalmente o dr Rui, mas já tenho adimiração por ele. pois sei bem o que foi a ditadura. não se podia abrir a boca que, já estava preso. avante juventude, façam a coisa certa!