Valdir Barbosa
Dia destes, semana atrás, não mais que isto usei imagem indicativa de cólera, que teria sido provocada por desídia minha, no dia dos namorados, em artigo nominado Camisa de Força, atenciosamente publicado por expressivos blogs baianos. Confesso. Usei tal recurso como figura retórica, para explicitar as mazelas da cidade de Salvador, paulatinamente deteriorada, sobretudo nos últimos anos de descuidadas administrações. Por isto, há de ser reconhecido que o prefeito em assunção aceitou um desafio sem tamanho. Creio poder ser capaz de superar obstáculos dos mais íngremes, afinal, além dos seus valores pessoais trás, no código genético, a arte de administrar e fazer política. Porém, não se deve olvidar: isto demandará tempo.
No entremeio do escrito arguindo meu desleixo imaginário, naquela oportunidade quis mesmo foi falar do desmazelo público. Da falta do transporte coletivo de qualidade representada e vista no monumento ao desrespeito – o metrô natimorto – que se contrapõe, no cruzamento de ambos, em certo ponto da via que não veio, ao marco construído entre suspeições de superfaturamento – a Arena Fonte Nova.
Do transito caótico, das artérias sujas e maltratadas, das ruas destruídas e ainda mais prejudicadas por um inverno inclemente, da insegurança gritante e assustadora contracenando com uma falsa sensação de segurança, a custo de milhões despendidos pelos cofres públicos, apenas para atender as imposições da toda poderosa Fifa. Além disto, na esteira de suas injunções, por conta da Copa intermediária mudam-se os trajetos já confusos do transito, ditam-se regras sobre o comercio, alteram-se costumes, tradições de muitas e muitas décadas, mesmo sendo marcas indiscutíveis de nossa cultura.
Contudo, emocionado e entusiasmado vejo eclodir nos quatro cantos do país, protestos por conta destas incúrias públicas. Ouço nas praças e nos estádios vaias estridentes manifestando o desagrado e o início da retomada de consciência. No desejo de não permitir vincular e rotular os movimentos, na intenção de fazê-los apartidários, se vê mensagem clara dando conta do descrédito às facções políticas e seus integrantes desgastados.
Ao revés assisto discursos demagógicos, cheios de psicologia reversa, e noto que ainda creem os maquiadores da realidade ser possível continuar enganando por mais tempo. Sei, todavia, que a onda quando vem – e ela chegou – apenas retorna ao oceano dos seus propósitos e das suas convicções para recolher novas energias. O tsunami próximo cuidará de invadir as praias dos desmandos, dos absurdos e cumprirá seu papel, mesmo que preços altos tenham de ser pagos.
Não se busque arguir riscos advindos de um movimento lícito, enfocando aproveitadores e vândalos de plantão. Eles estarão sempre presentes em todos os lugares travestidos das mais diferentes roupagens. Não vejo diferença entre depredadores do patrimônio, que surgem nestas horas e malversadores do dinheiro público, a exemplo dos corruptos declarados condenados e ainda assim defendidos pelo sistema. No meu sentir, também vândalos e depredadores, com a diferença agravada de estarem, ao dilapidar, investidos no poder.
Nascidos no berço da badalada alternância de domínio, quando defendiam valores e criticavam práticas ditas abusivas, nada fizeram, além de olvidar estes mesmos valores e maximizar o uso daquelas idênticas práticas abusivas.
Certo é que de novo, agora de forma inversa, uso um argumento diverso, embora vibrante e atualíssimo, para suportar outro tema.
Quem pôde estar comigo, na data de hoje, em 2004 foi testemunha do meu casamento realizado no hotel Pousada da Conquista, na terra baiana do frio. Referendamos, eu e Roberta diante de ultrapassada centena composta por figuras especiais – amigos e parentes -, nossa relação que já caminha para quinze anos.
Cuido então de prestar a minha jovem esposa, nestas palavras, justa homenagem. Permito-me reprisar texto firmado no rosto de lembrança a ela ofertada, como mimo, exemplar de obra do genial Gabriel Garcia Marquez, O Amor nos Tempos do Cólera:
Querida,
Não tenho dúvida que vale a pena insistir sempre, sobretudo, quando se perscruta o coração.
Mesmo porque é impossível fugir a uma certa forma de destino, embora consciente de que somos a força motriz do nosso destino.
As escolhas condicionam os resultados, os finais são consequência dos começos, as perdas são resultantes da falta de foco e da perseverança.
Por isto, porque acreditamos neste amor que fez espera durante longuíssimo tempo por si mesmo, ele vem se tornando enfim, dia após dia, um fruto maduro. Completamos assim, mais uma era de matrimônio, treze anos de relação e uma eternidade de convívio. Certamente, este nosso amor sobreviveu, sobrevive e sobreviverá, mesmo em tempos de cólera.
Beijos.
Seu marido.
Mas, volto e me dirijo principalmente a esta plêiade de jovens a quem também homenageio, que foi e irá às ruas, para pacificamente lutar por um Brasil de verdade repetindo frases do texto acima. Minha amada não se importará. Ao contrário, faz parte desta onda. Optou por buscar seu mestrado em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social e, certamente, os pleitos dos que hoje reivindicam nas avenidas, nas praças e mesmo em seus lares passam por esta premissa: Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social. Assim, repriso:
Mesmo porque é impossível fugir a uma certa forma de destino, embora consciente de que somos a força motriz do nosso destino.
As escolhas condicionam os resultados, os finais são consequência dos começos, as perdas são resultantes da falta de foco e da perseverança.
Foco e perseverança, dignidade e respeito, ética e moralidade. Apenas estas matérias amalgamadas poderão possibilitar a construção de um novo e verdadeiro país dos nossos sonhos.
Salvador, 19 de junho de 2013
valdir barbosa