Jorge Maia
Eu era menino, e não faz muito tempo, quando as tardes de domingo eram esperadas com ansiedade. Depois do almoço a pressa em vestir a domingueira para ir à matinê, para os mais jovens, a sessão de cinema das 14 às 16. Era uma festa. Eu saia da Rua Leonídio Oliveira, antes chamada de Barra do Choça, cruzava a Otávio Santos, em seguida a São Geraldo e seguia em frente pela rua das Sete Casas, hoje Rotary Clube, parte nobre da cidade, onde ficavam as boas casas da cidade.
A Praça Barão do Rio Branco descortinava-se como palco da grande aventura. Naquele horário, uma multidão de crianças, algumas com os pais, lotavam a porta do Cine Conquista, hoje, loja insinuante. Uma fila enorme para comprar ingressos. A Maioria dos meninos carregava uma pilha de “guri” “gibis” revistas em quadrinhos, não sei o porquê daqueles nomes, para vender, trocar, ou emprestar e devolver na semana seguinte. Foi o meu inicio na atividade de vendas. Na outra extremidade; o Lindóia, bar e sorveteria.
Dentro do cinema continuávamos o nosso escambo em meio a um barulho infernal de crianças e adolescentes. Acompanhando tudo isso, a presença do nosso tradicional “ baleiro” que vendia sues doces até antes do filme começar. Sim, aquele mesmo “baleiro” que vende na porta da escola das Irmãs Sacramentinas, no Cento de Cultura e outros pontos da cidade.
A emoção maior era quando tocava o prefixo musical para indicar que o filme ia começar, sim, havia um prefixo musical. Gente! Pense em um barulho. Gritos, batidas de pés e assovios. Era assim.
O filme era: Tom e Jerry, ou: um faroeste, um filme de Tarzan, Zorro, ou ainda um filme de índio. Era assim que classificávamos as produções de Hollywood.
Muitas vezes torcemos, sem saber o que fazíamos, pela sétima cavalaria, em pleno domínio cultural estabelecido pelos yankees. Hoje, confesso minha admiração por Touro Sentado, Nuvem Vermelha e Gerônimo, repudiando o papel do general Custer e Búfalo Bill. Quem assiste a filmes sobre o assunto sabe a que me refiro.
O filme acabou. Não, não era assim. Depois do filme o seriado. Vocês não sabem sobre o que estou falando. O seriado era um filme de aventuras, especialmente do Zorro, que semanalmente passava um trecho, nos obrigando a ir todo domingo para a matinê. Perder um capítulo do seriado era uma frustação e tínhamos que encontrar alguém que assistiu para nos contar.
Tudo isso era apenas o prelúdio de uma grande aventura: sair do cinema em desabalada carreira até o Lindóia e comprar o picolé de coco. Era tanta criança que ás vezes mal se conseguia chegar perto do balcão de picolés. Em muitas ocasiões eu não conseguia comprar aquele picolé de coco, mas nem por isso as tardes de domingo deixavam de ser belas e inesquecíveis. Vit.Conquista, 01 de agosto de 2013
10 Respostas para “Outros sabores e lembranças”
jose carlos
realmente o domigo era uma festa com muita muisca da radio clube os campos todos lotado sem violencia agora o povo conquistens esta pagando caro pelo o desevolvimento da cidade eu ja tenho 30 anos que estou fora de conquista acabou sao joao canaval as catanicas da sububanas so saudade da minha terra natal sao vicente sp jose gostei muinto do comentario do sr jorge continui
Dagoberto Correia de Souza
Aguardo o lançamento do seu livro de crônicas, reserve o meu exemplar. Também negociei com revistas e figurinhas na porta do cinema, conseguindo assim multiplicar a mesada que recebia do meu pai. O delicioso picolé de coco do Lindóia era produzido por Miguel, o sorveteiro. Abraços!
RGS
Fala-se muito em “AVANÇOS”!!!.Tratando-se da política regional.Mas,ao recordarmos cenas do passado,como é o caso deste belo e memorável texto.Os tais “avanços””atropelaram” e destruiram muita coisa boa do passado!.Tivesse no presente os substitutos adequados aos meios de entretenimento e cultura do passado – Teríamos as boas recordações,porém, não estariamos entristecidos com a pouca atenção dos “poderes” públicos a este respeito
Rose
Nasci em outra década, certamente, mas ouvi muitas histórias do Lindoia. Minhas tardes de domingo foram recheadas pelo Taquara, quem se lembra? Hoje as tardes de domingo são neutralizadas diante de uma TV sem assunto e sem opção. Valeu Jorge!
Antônio
Realmente Jorge tínhamos ótimas tardes de domingo, a matinê era esperada com muita apreensão e ansiedade e depois do filme de acordo com o seu gênero saiamos dando “tiros, chutes e golpes de karate” ao vento. A propósito eu conheci aquele cinema onde hoje e a Insinuate como Cine Riviera.
Jairo
Jovens tardes de domingo … Bons tempos.
Álvaro
realmente é com muita saudades que relembro a infância em conquista, o taquara, matinês nos cinemas, matinês no clube social de carnaval e tantas brincadeiras na rua com os amigos “patinete” feita por nós com tábua cabo de vassoura e rolimãs garimpadas nas oficinas, carro de lata de óleo e tantas outras brincadeiras sadias e na rua. Hoje tento passar para meus filhos, mas com bastante dificuldades devido a tal modernidade que esta gerando gerações de robores.
Edivaldo Ferreira
Não só os filmes relacionados, como os épicos, filmes como Sansão e Dalila, Macistes, Hercules, os faroestes italianos, cujo astro maior era Giulliano Gema. Boas recordações e um texto limpo. Tínhamos, também, além do Cine Conquista, o Glaria o Ritz e o Eldorado, do outro lado da cidade, que abrigava a gurizada do Bairro Brasil. Parabéns, meu amigo e mestre J. Maia.
Edivaldo Ferreira
Não só os filmes relacionados, como os épicos, filmes como Sansão e Dalila, Macistes, Hercules, os faroestes italianos, cujo astro maior era Giulliano Gema. Boas recordações e um texto limpo. Tínhamos, também, além do Cine Conquista, o Gloria o Ritz e o Eldorado, do outro lado da cidade, que abrigava a gurizada do Bairro Brasil. Parabéns, meu amigo e mestre J. Maia.
Dantas de BH
KD o meu comentário?