Presidente do PV avisa que não existe aliança automática com o DEM

Alan Lacerda | Foto: Blog do Anderson
Alan Lacerda | Foto: Blog do Anderson

O entrevistado da semana pelo Teia de Notícias é o presidente estadual do PV, Alan Lacerda, que também é prefeito de Licínio do Almeida, cidade pacata do sudoeste baiano que ficou famosa no estado pela excelência no sistema público de Educação, o que lhe rendeu a maior nota do IDEB da Bahia. Para se ter uma ideia, as escolas públicas de Licínio andam tão bem, ao ponto de o único colégio particular da cidade fechar as portas por falta de alunos. Na entrevista, Alan Lacerda conta os detalhes de sua gestão no município e fala também como pretende conduzir o Partido Verde na Bahia. E para os desavisados, apesar de o PV compor a base do prefeito ACM Neto, não existe esse negócio de aliança automática com o DEM nas eleições do próximo ano.

O PV terá candidato a governador da Bahia em 2014?

Esse é o nosso desejo. Acreditamos que devemos ter candidato para o PV se firmar enquanto partido, como opção, principalmente nesse momento que sociedade busca alternativas. Então esse é o primeiro desejo, que a gente construa uma candidatura própria ao governo do Estado da Bahia, lógico que a gente entende toda complexidade que é ter uma candidatura própria, por isso nosso esforço máximo agora é montar candidaturas fortes para deputados federal e estadual para que o PV tenha representação tanto na Assembleia, quanto na Câmara Federal. Esse é o principal objetivo, mas ao longo da caminhada a gente vai avaliando a possibilidade de candidatura majoritária, o que é uma realidade ainda pouco concreta, apesar de ser meu desejo.

A gente não vê o PV envolvido nesse projeto de união das oposições, como estão DEM, PMDB, PSDB, PTN e PPS. Esse afastamento é um sinal de que há possibilidade de o PV se aliar ao grupo do PT?

Olha, primeiro eu quero dizer que avalio como um erro histórico do PV que era o alinhamento automático com o Partido dos Trabalhadores. Então demos um passo importantíssimo para a nossa independência quando lançamos candidatura própria, rompendo essa aliança histórica e fomos para o campo da oposição no governo do estado. Na capital, temos um relacionamento muito próximo, muito estável com o prefeito ACM Neto. Entretanto, eu penso que não podemos repetir o mesmo modelo de aliança automática com o DEM ou com as oposições. A nível estadual, o PV é independente, apoiando as ações do governo quando elas são importantes para a coletividade e combatendo aquilo que vai contra esse sentido. No partido temos a máxima quando se diz que o PV não é nem de esquerda nem de direita, somos à frente. Agora é claro que há uma tendência natural de compor as oposições, mas isso não é uma aliança automática.

Apesar de ser um partido pequeno, o PV vive com os ânimos exaltados internamente, vive em chamas. Como você, que assumiu a presidência do partido internamente, pretende lidar com o comportamento dos seus correligionários?

Em primeiro lugar, eu penso que a divergência dentro de um grupo que pensa no coletivo é muito bem vinda porque é a característica da democracia. O PV não tem cacique, mas sim lideranças do mesmo nível que debatem e divergem. Agora eu avalio que o partido teve um crescimento nas ultimas eleições e isso naturalmente exige um tempo de acomodação. Mas penso que de abril para cá as coisas se acalmaram. Nesse sentido, a gente amadureceu muito nesses últimos meses e acredito até a eleição de 2014 estaremos com um discurso muito afinado, muito arrumado, mesmo que eventualmente a gente tenha discordância. Estamos fazendo um esforço de institucionalizar o partido, para que todas as discussões passem pela instância do partido e a partir daí o Partido Verde, como organismo, tenha um posicionamento único.

Agora sobre a vice-prefeita Célia Sacramento, ela disse há um tempo que seria candidata ao governo do estado e recentemente chegou a dizer que sairia candidata à presidência da República. Até que ponto isso tem fundamento?

Olha, eu considero Célia Sacramento como um dos grandes quadros do Partido Verde no país. Ela tem mostrado competência e tem andado muito pelo Brasil. Tem sido uma importante agente de ação no país inteiro, principalmente através da Fundação Hebert Daniel, que é uma instituição ligada ao PV. Ela está alinhada ao partido a nível nacional e tem estatura sim para ser candidata a governadora ou a presidente, inclusive há muita gente defendendo a sua candidatura à presidência. Se essa for a escolha do Partido Verde e a escolha de Célia, penso que estaremos muito bem representado.

Como você avalia a relação nada amistosa entre os dois vereadores do PV de Salvador, Marcell Moraes e Ana Rita Tavares?

(Para e respira) É…Veja bem, eu penso que partido poderia ter se fortalecido muito mais com a parceria desses dois mandatos. Mas como sou um entusiasta do ser humano, eu estou muito animado para que a gente consiga pacificar a relação dos dois vereadores, que militam dentro de um campo muito específico. Mesmo sabendo da dificuldade de relacionamento entre os dois, eu torço para que eles estejam unidos para defender a cidade e suas bandeiras mais efetivamente.

Como você avalia a candidatura de Marina Silva, que certamente vai dividir o eleitorado com o PV?

Alguns dizem que a candidatura de Marina Silva e a criação da Rede enfraquecem o Partido Verde. Já eu penso exatamente o contrário. Penso que a criação da Rede fortalece o campo da política que pensa no desenvolvimento sustentável e na economia verde. Agora mesmo torcendo para que isso se concretize, a formalização da Rede está beirando a inviabilidade, por isso não descarto a volta de Marina ao Partido Verde. Claro que falo isso muito mais pelo sentimento.

Deixando de lado o PV, vamos falar sobre Licínio do Almeida, uma cidade pequena, pacata, mas que conseguiu a maior nota do IDEB da Bahia. O que foi feito pela prefeitura para que a Educação tivesse esse destaque?

Foi uma coisa multifatorial. A gente tem lá em Licínio uma parceria com uma instituição que tem expertise na gestão de Educação que é o Instituto Ayrton Senna; temos professores competentes e sensíveis; temos uma grande secretária e tem um prefeito que é entusiasta da área e deixa as coisas acontecerem. Em primeiro lugar, a gente faz o que manda a Constituição, que é aplicar 25% da arrecadação municipal em Educação, o que nos garante fazer um grande trabalho. Esses são os aspectos gerais para esse avanço. Agora tenho exemplos pontuais que, na verdade, nem gosto muito de citá-los para não parecer promoção pessoal: mas as minhas filhas estudam em escola pública. Os secretários todos têm filhos estudando em escolas públicas. Penso que essa foi uma atitude corajosa, mas ao mesmo tempo inteligente.

Isso é uma determinação ou uma orientação?

Uma orientação. Não formalizamos isso como decreto, mas é uma recomendação. O nosso êxito foi tão grande que em Licínio ocorreu um fenômeno quase inexplicável. A única escola particular cidade fechou. Fechou porque nem as pessoas mais abastadas, com mais condições econômicas, procuravam mais a escola para matricular seus filhos. Isso é um dado interessante. Mesmo com os erros que são naturais nas gestões, os acertos na Educação nos deixa em uma situação vantajosa. Somos uma cidade de 12 mil habitantes, estamos muito longe da capital, não temos atrativos culturais nem turísticos, mas ficamos conhecidos como uma cidade que tem educação pública de qualidade.

E a economia da cidade vive de quê?

Licínio tem duas marcas históricas. Primeiro, ela tem uma marca que é ligada à ferrovia centro-atlântica e no primeiro momento a ferrovia e os ferroviários foram muito importantes para a economia da cidade. Em seguida havia também uma grande quantidade de minério, sobretudo o manganês, que deu também base econômica à cidade por muito tempo. Mas recentemente essas duas atividades praticamente deixaram de existir e a economia ficou comprometida. Então passamos a fazer um trabalho de excelência voltado para a agricultura familiar. Lá podemos dizer que houve reforma agrária, pois cada um tem seu pedaço de terra, pequeno mas tem. Demos assistência técnica para os pequenos produtores, trazendo parceiros, como a Fundação Banco do Brasil, que implanta alguns programas na pecuária leiteira e na área de horte frutes granjeiros. Lá o Poder Público compra produtos da agricultura familiar para abastecer a merenda escolar. Então isso tem sido um vetor importante para o crescimento. Para se ter uma ideia, quando assumimos o governo em 2009, tínhamos uma única agência do Banco do Brasil com apenas três funcionários. Hoje essa agência tem oito funcionários e ainda tem mais uma agência do Bradesco. Então avalio que isso seja um indicador forte para o crescimento econômico.


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