Uma Periguete na Beócia

Jorge MaiaJorge Maia

Meninos eu vi! Era trinta de fevereiro de um ano qualquer. Naquela manhã o sol era de outono, lembre-se que as estações do ano na Beócia não tem data certa. O tempo e o clima são móveis de tal modo que o serviço de meteorologia anuncia as previsões do tempo a cada meia hora. Aquele dia foi diferente. O sol se anunciava tépido e o brilho era suave, o toque em nossa pele era quase uma saudação de bom dia, era diferente e para mim significava um prenúncio de algo inusitado. Por alguns instantes pensei ouvir aquelas notas da quinta sinfonia: tan,tan,tan,tan, síntese do prenúncio de uma catástrofe que se aproxima ou que se anuncia. Segui em frente desprezando a minha intuição, absorvido pela beleza do dia.

Ao chegar á esquina da Rua Dr. Felismino Pero No Mucho observei uma jovem usando um vestido tipo tubinho, muito colante e curto na parte da saia. Usava salto alto. Seu andar era dificultado pela roupa colante e pela altura do salto. Pernas bem torneadas,, longilínea, rosto anguloso e um decote generoso exibia fartos apetrechos que chamavam atenção, e não havia quem não olhasse. Era um típico exemplar de que se costumava chamar de perigeute. Depois eu soube que o nome daquela jovem é Maria Periguete.

Ela parou em frente a uma casa, toucou a campainha e atendeu à porta uma jovem senhora, que vendo aquela moça assim vestida, franziu a testa e perguntou o que desejava? Prontamente, respondeu que queria falar com o José Caladão, marido daquela senhora, a qual foi logo perguntando o que queria com seu marido. A reposta não se fez demorada: desejava cobrar uma ida ao motel que ele não pagou. Isso foi na semana passada, e ela queria receber o seu pagamento.

Foi o suficiente para que a mulher de Zé Caladão, dona Sensitiva Cantilena, enlouquecesse e proferisse as mais duras palavras contra a periguete. Mas, esta não se alterava e se dizia tão generosa que havia aberto um crédito para o marido da outra, a qual respondeu que ela abria créditos e outras coisas, e  sem pestanejar, Maria Periguete respondeu que se dona Sensitiva abrisse outras coisas para o marido, talvez ele não procurasse as aberturas de outras.

Nesta altura já havia uma multidão, muitos gritos insultos e torcidas organizadas, foi quando ouvi uma voz conhecida lá da Beócia, era Maria Joaquina do Amaral Pereira Góes quem gritava: Aqui na Beócia é assim, comeu tem que pagar. Formou-se um coro: Periguente unida, jamais será vencida. As vozes se alteravam e dona Sensitiva, em seu desespero, agarrando o marido pelos cabelos, procurou algo para atirar contra Maria Periguete e a primeira coisa que conseguiu foi um gatinho que estava na janela de sua casa, que arremessado contra a sua rival, grudou nos cabelos da moça que em desespero dizia,: desgraça, eu paguei foi duzentos Reais no salão de Marcos, em Vitória da Conquista, perto do Fórum, agora esse gato quer me descabelar? Atirou o gato no chão, o qual soltou um grande miado, mas foi socorrido por José Clício, que estava ali a negócios e que em um gesto de piedade, sentido o olhar profundo daqueles olhos felinos, sentiu sua alma tocada por aquele olhar pedindo misericórdia e o levou consigo.

Depois, chegou a polícia, que, dispersando a multidão, pediu às duas mulheres que parassem com aquela cena, recomendando à dona Sensitiva que cuidasse do seu marido, enquanto à periguete, que não mas trabalhasse para receber depois, só fizesse trabalho com pagamento à vista. Há coisa que só se vê na Beócia. Informo que o gato sobreviveu e está sendo bem cuidado.  Vit. Conquista, 30.08.13.


Uma Resposta para “Uma Periguete na Beócia”

  1. José Clício Souza de Almeida

    Muito bom… Valeu….

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