Quatorze anos

Valdir Barbosa

Valdir Barbosa

Há exatos quatorze anos, justo às cinco horas de uma manhã em final setembro, mês da primavera, depois de nove meses gestado no ventre de cuidadosa criatura e vinte horas de doloroso trabalho de parto fostes lançado ao mundo, por esta tua atual mãe terrena. Por isto estas primeiras palavras devem ser dedicadas a ela, diuturna sombra soberana que lhe acompanha e protege desde então. Ela lhe acompanhará, protegendo-o enquanto vida tiver, posto representas para ela a mais importante e significativa razão do seu viver. Sou testemunha permanente deste amor sublime, que alimenta em reciprocidade os espíritos destas pessoas que estiveram ligadas em harmonia, até quando se fez cortado o cordão umbilical responsável por nutrir seu corpo. Admirei quando buscavas ávido, no regaço sempre disponível, a seiva brotada no peito que guarda um coração valente, capaz de matar e morrer por ti. Tenho vivido desde então, embalado na força desta simbiose amando-os aos dois, como se também fosse parte desta unidade indivisível.

Dormi e acordei imaginando o que escrever para ti, justo quando a música metaleira, de uma adolescência pujante executa acordes no seu intimo, em decibéis vibrantes, exercitando a dicotomia de lhe fazer querer ser homem, sem permitir que deixes de ser menino, ao talante dos invasivos hormônios que transformam o corpo e alternam o humor na puberdade.

Decidi começar por dizer que na esteira desta caminhada irreversível, quando afinal te tornares homem feito, nunca deixe morrer a criança que existe em ti, como de resto deve haver em todos nós, na forma e exercício da pureza, da inocência, da candura, da alegria, da esperança e da criatividade lúdica que habita as mentes pueris.

E peço que pises firme, mas procure fazê-lo de forma leve. Que uses teus pés para te levar adiante, porém sem jamais pisar, ou chutar seu semelhante, em qualquer hipótese. Mesmo que te sintas ofendido, ou ameaçado usa-os para te afastar do perigo. Isto não indica covardia, se trata de forma inteligente no trato da sobrevivência, lembrando que não apenas os fisicamente mais fortes perpetuaram sua espécie. Também assim o fizeram todos aqueles que, com sabedoria, driblaram as armadilhas sempre presentes nos caminhos da vida de toda a humanidade. Caso seja impossível não lançar os pés contra outrem, por não haver forma alternativa de te defenderes, lembre-se de perdoar a quem te causou risco fazendo-o chegar a este ponto, mesmo porque, no projeto de elevação do espírito por suas próprias ações, preponderam a caridade e o perdão.

Procure não pisar jamais nos charcos lamacentos da desonestidade, da desonra, da iniquidade, porém se nos teus calçados respingarem algum tipo de betume, agradece por não estares descalço e procures rápido o nascedouro onde brota a água mais pura e cristalina que possas encontrar, para lavá-los você mesmo, até quando não reste mais um mínimo resquício de sujeira.
Caminhe na direção de um futuro sempre por fazer, estribado na consciência de um presente capaz de lhe deixar realizado, buscando lastro nas experiências boas e ruins de um passado que não volta – neste plano -, convicto de que suas escolhas determinarão a excelência do teu destino, não olvidando que apenas você poderá construí-lo com suas ações positivas.

Quando te sentires cansado, em fase de desânimo recorda-te do que disse o poeta sobre o valor da utopia. Segundo afirmou, ela nada mais é do que o horizonte que enxergamos longe. Quanto mais caminhamos em sua direção, mais ele se distancia de nós, portanto, a utopia serve para nos fazer caminhar. Assim. Sigas sempre em frente. Não desistas nunca.
Ore com fervor, como tua mãe te vem ensinando, com palavras e exemplo. Jamais esqueças que és a imagem e semelhança de Deus, portanto, seja digno por isto. Não tenho dúvidas de que és esta imagem e semelhança, porque O tenho visto sempre que lhe miro; Lhe sinto perto sempre que te abraço, sinto Sua energia quando acolho seus carinhos. Talvez por isto te ame tanto, filho.

Parabéns,
Feliz aniversário.
Seu pai.
Salvador, 28 de setembro de 2013.


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