Um novo Chico Bento

Jorge Maia

Jorge Maia

Em minha casa, todos os domingos, desde que as crianças aprenderam a ler, isso vai há mais de vinte anos, uma frase que permanece em prática é: Vamos à banca comprar revistinhas? É um ritual semanal que, incorporado aos nossos hábitos, permanece como algo de lembrança dos tempos de criança. Todos os domingos nosso encontro com a Turma da Mônica. Além disso, não ficamos na simples leitura. Comentamos os absurdos e a magia dos quadrinhos e sempre pensamos que não haverá outra história igual àquela que tanto nos surpreendeu. Ledo engano. 

Há alguns meses, certamente mais de doze meses, fomos surpreendidos com a edição da  Turma da Mônica, agora adolescentes. Lancei meu protesto no face e recebi algumas adesões. Mas a publicação continua. Confesso que tive a coragem, sentindo-me meio traíra, de adquirir um exemplar para conhecer o teor. Não me impressionou, mas compreendo que a mudança do mercado exige a satisfação dos novos clientes. O meu conforto é que continuam publicando a edição tradicional, mas não se atrevam  a parar  de publicar a turma antiga. Se isso acontecer irei de arco e flecha fazer a minha guerra.

 Na primeira semana deste outubro li a notícia que seria publicada a  versão jovem de Chico Bento. Perdi a noção de tempo, aferi a pressão. Pensei que era labirintite. A notícia dizia que Chico Bento ia para a Universidade, já na fase da sua juventude e iria estudar Agronomia, senhores foi um susto.

 Como transformar aquele caipira tão nosso, tão ingênuo e esperto ao mesmo tempo, em alguém que perde o seu caipirês? Aquela criatura que estuda, trabalha a terra, ama de modo tão profundo os animais do seu sítio e que enlouquece com as perguntas e afirmações de Zé Lelé?  Eterno namorado de Rosinha, em um universitário?   Meu Deus! O que dirá Nhô Lau? Confesso que não dormi.

 Fiz uma pausa para meditação. Procurei ler a revistinha, é assim que chamamos esse tipo de “gibi”, “magazine” ou mais surpreendente: guri, do Chico Bento, adolescente, na cidade; um universitário, cursando Agronomia e em exame de consciência compreendi o meu engano, misto de egoísmo e de indiferença, o que me permitiu mudar de opinião.

 Por que o nosso Chico Bento não pode cursar a universidade? Por que deve permanecer eterno caipira, descalço e falando  o seu caipirês? Então, ele não poder ser universitário, adquirir conhecimentos científicos e ter uma nova visão do mundo?

 Desculpe-me Chico. Venha para a Universidade, aprenda a ciência moderna  e leve  dela as coisas boas  que ela possui e leve para “Vila Abobrinha” uma visão gostosa do saber, pois em troca eu sei que você está trazendo para a cidade grande algo especial: a sua bondade e boa índole de amante da natureza, a honestidade do homem simples do campo, tudo isso  que está em escassez na cidade grande.

 Os demais alunos da sua Universidade serão premiados por sua presença. É claro que não deixarei de ler as suas aventuras no formato antigo, pois haverá publicação paralela com a outra, você universitário. É claro, que em todos os domingos da minha vida eu ouvirei o convite: pai! Vamos a banca comprar revistinha de Chico Bento?  Vit. Conquista161013


3 Respostas para “Um novo Chico Bento”

  1. Adriano

    Gênio das meditações comuns. Consegue transformar o corriqueiro em algo excepcional, a verdadeira representação do homem sábio. Mesmo que por ínfimo período, orgulho inestimável de ter sido seu aluno.

  2. CÁSSIO MAU MAU!

    HJ EM DIA AS CRIANÇAS TEM UM APLICATIVO DO REDTUBE NO IFHONE!
    #SECANDO A MENTE NAS MINA !!
    rsrs

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