Jorge Maia
Não há glamour na máfia. A música adocicada do “Poderoso Chefão” ( Parla più piano e nessuno sentirà) nos transporta para um romantismo piegas e com tendência a simpatia para com a família Corleone. Claro, o trabalho de Mário Puzzo sob os holofotes de Coppola é do ponto de vista da sétima arte belíssimo, Não há como não se encantar com aquelas cenas e com aqueles diálogos.
A máfia é brutal e sem noção de valores, confirmando a regra que os fins justificam os meios, no pior sentido que possamos atribuir a tal expressão. Por essa razão, chamar alguém de mafioso, brincando, pode ter algum sentido de humor, mas uma simples reflexão nos conduz a evitar tal hábito, pois, não devemos banalizar com gestos simpáticos aqueles que geram a dor profunda causada por sua violência e por sua capacidade de corrupção.
Quem não se lembra de Valfrido Canavieira? Aquele personagem de Chico Anísio, prefeito de Chico City? O nosso Chico Anísio, um gênio do humor, conseguiu transformar o eterno prefeito de Chico City em uma figura folclórica bem representativa da administração pública brasileira. Sempre no poder, corrupto dos mais atuantes, não permitia que outros chegassem ao poder. Gentil, nunca usando de violência, aumentava o seu patrimônio de forma desmedida, ao contrário da vida dos cidadãos daquela cidade.
Era gostoso ouvir o tema de abertura do programa “ Chico City” com aquele balé desfilando e cantando: ” Isto é muito bom, isto é bom demais…” era imperdível e víamos desfilar todos aqueles personagens que caricaturavam muito bem o nosso país.
Não há diferença entre os dois personagens, Corleone e Canaviera. O que os distingue são os métodos. Enquanto o primeiro não teme esfolar, estripar ou decapitar pessoas ou algum animal para obter a sua pretensão. Canavieira, com a sua voz mansa, trejeitos e atitudes assistencialistas causa os mesmos danos, embora sem violência física. Em ambos a corrupção é a tônica. Quem perde é o cidadão, mas o Estado fica fragilizado e as instituições enfraquecidas, pois, inertes, denunciam com a sua passividade, a sua fraqueza.
Estamos diante de uma dualidade do mal, talvez uma nova escola maniqueísta: uma subdivisão do mal, ou seja um mal violento que assusta pelas consequências imediatas com a eliminação física ou ameaças aos adversários ou de quem simplesmente se interpõe em relação aos seus interesses e aquele mal, rasteiro,cheios de subterfúgios e escaninhos dos desvios do dinheiro público, cujas consequências chegam sob a forma de manchetes sobre a falta de leitos hospitalares, ensino de má qualidade, professores mal remunerados, cárceres desumanos, violação diária dos direitos humanos.
Não posso compreender; se tudo estava previsto no orçamento, porque os recursos não chegam ao destino final? E quando chegam, por que não são aplicados? Afinal, se havia previsão orçamentária, por que o dinheiro que chegou é menor do aquele previsto? Sabe? Don Corleone e Valfrido Canaviera são pontas diferentes da mesma meada. Comandam os seus interesses pelo telefone, das cadeias ou dos casarões. São excelentes na tela, mas danosos na vida real. Nós, trabalhadores e honestos, sempre perdemos o fio da meada e a cidadania. Vit.Conquista, 21.10.13
Uma Resposta para “Don Corleone e Valfrido Canavieiras”
Claudio Emilio da Costa Primo
É a história atrai a leitura, confunde bondade com perversidade,pior contamina, prejudica por demais a humanidade