Vou-me embora pra passárgada. Lá, pelo menos tem rei

Valdir Barbosa

Valdir Barbosa

Lembro-me de ter lido, certa feita, algo escrito não sei se em tom de chiste, ou retratando a verdade, do tipo: “Uma vez o único caminhão dos bombeiros do Maranhão pegou fogo. Outra ruiu a casa do engenheiro civil, por erro na estrutura”.  Vejo estampadas nas manchetes dos jornais soteropolitanos, divulgadas nas matérias dos programas televisivos, radiofônicos e reverberadas nas redes sociais, a notícia do quanto ocorreu com o Comandante da Polícia Militar do Estado da Bahia. Leia-se escrito do preclaro Djalma Argolo, em sua página no facebook: “O Comandante da PM foi assaltado aqui em Salvador. E agora, ele vai queixar da falta de policiamento? Vai denunciar a política para Segurança Pública do Governo da Bahia? Ou vai ficar entupigaitado. Será que vai usar o prestígio do cargo para prender e reaver o que foi roubado? Ou vai prestar queixa e aguardar sentado como todos os que são roubados em Salvador?”.

Dia de ontem, quando caminhava na orla, o Coronel Comandante foi abordado por indivíduos, até agora não identificados perdendo para eles seu aparelho de telefone celular, no qual se fazia habilitada a linha funcional. Pior que desta feita não é anedota, não é pilheria de mau gosto. É verdade. Parece mentira, mas não é.

Recentemente, ícone da comunicação, a velha raposa, o político Mario Kertz foi também alvo de criminosos. Quando em transito, numa das vias congestionadas desta metrópole, quem sabe indo ou voltando da Metrópole, se viu atacado no volante do automóvel a conduzir alcançando certo agente criminoso, mesmo objetivo. O Promotor Aurisvaldo Sampaio posta nesta semana, também no seu face, mensagem tranquilizando amigos. Trata da subtração de relógio e celular, por bandidos armados dizendo estar tudo bem, mas afirma: “o dano maior foi na minha dignidade”. Semanas atrás, numa só tarde, dezenas de alunos, alguns acompanhados de responsáveis perderam seus ifones, galaxys e similares, sob graves ameaças, na movimentada Leovigildo Filgueiras, Garcia, onde estão vários colégios expressivos da nossa malha escolar. Certo é que, ultimamente, em todos os quadrantes da nossa lindíssima, mas degradada cidade, fatos como estes, muitíssimos não divulgados, posto nem mesmo registrados pelas vítimas, se repetem a mancheia.
Claro, os bandidos responsáveis por subtrair o aparelho onde as maiores decisões acerca da segurança pública do estado fluíam, não sabiam deste particular. Tanto melhor. Via de regra, o alto risco, em casos como tais, aos quais estão submetidos profissionais de polícia, quando assim identificados, não afligiu a vítima por força deste anonimato. Alivio para ele, extensivo a todos nós, companheiros, amigos e demais próximos.

Frise-se, não é justo crucificar o competente e consagrado profissional, com tantos anos nas lides policiais e enormes serviços prestados ao estado, por este revés e esta mínima – pelas consequências – fatalidade. Falo com conhecimento amargo de causa, porque meu caçula engrossou a onda daqueles indigitados alunos do Vieira que, ao pleno sol do meio dia foram obrigados a entregar seu equipamento, na mira de armas empunhadas por jovens infelizes, posto jogados pelo sistema no cipoal dos miseráveis e viciados. A estes, pouco, ou nada resta, senão buscar nas alternativas da delinquência, a satisfação dos seus desejos e o lenitivo de suas síndromes abstinentes.

Mas, não posso estar silente. Preocupa-me esta situação sem freios. São homicídios incontáveis; furtos; roubos de toda espécie; o consumo e tráfico de drogas, sobretudo crack ascendendo a níveis insustentáveis; ataques a caixas eletrônicos e agências bancárias em todo o estado, com uso de potentes artefatos destruindo ambientes inteiros, em assaltos audaciosos; trocas de tiros nas ruas da nossa capital, como ocorrido há pouco, justo nesta hora em que escrevo vitimando inocentes transeuntes, alvos de malditas balas perdidas.

Esta escalada atrevida da violência me faz lembrar, a face aterrorizada do Sub-Secretário da Segurança Pública do Estado, recentemente estampada nos jornais, entrincheirado num dos andares do prédio onde despacham, além do titular da pasta, seus subordinados diretos. Naquele momento registrado por câmeras diversas, ele atira com sua pistola, para intimidar invasores, prestes a tomar de assalto o edifício. Não discuti e nem discuto suas razões. Tenho por certo, àquela altura seria imponderável permitir a violação da casa, onde os desígnios da segurança do estado são tratados. Contudo, ponderei e pondero, o nível de competência da atividade do órgão de inteligência deixou a desejar. Não cuidou de antever as coisas, no sentido de que não chegassem ao ponto que chegaram, quando tudo poderia desandar em catástrofe, quem sabe transformando o episódio, num carajászinho baiano.
De igual sorte, me permito considerar sobre a desídia em relação ao Comandante. Lembro-me da célebre frase: “À mulher de Cesar não basta ser honesta, tem que parecer honesta”. Assim carece se diga: a segurança não precisa tão somente ser segura, deve passar também a sensação verdadeira do ser segura. Neste caso, nem uma coisa nem outra.

Mas, repito locução que tem pontuado minhas assertivas. Polícia é o oceano, para onde deságuam todos os rios da miséria humana. Nenhuma polícia do mundo será suportável, se os gestores responsáveis pelas políticas públicas não souberem drenar, com ações sérias, multifatoriais, os afluentes e principais córregos que fazem correr ao seu mar, torrentes incalculáveis de águas fétidas. Sem educação, sem saúde, sem austeridade, sem compromisso, sem responsabilidade, não se terá jamais um estado seguro.
Pensei então: Meu amigo Pedreira, o Carlos, que sumiu daqui nos deixando a ver navios, mesmo sem ser filho de Almirante deve ter razão. Qualquer dia faço como ele e debando. Permito-me, enfim, lembrando o poeta, pedir vênia ao mestre Bandeira e bradar alterando seu verso.

Vou-me embora pra Passárgada. Lá, pelo menos tem Rei.
Assim espero.

Salvador, 7 de novembro de 2013


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