Adão, o Profeta da Alameda

Jorge Maia

Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando atravessava a alameda Ramiro Santos em direção à Praça da Bandeira. Naquele tempo, década de sessenta a rua era calçada com paralelepípedos e conservava dois cavaletes em cada extremidade, neles escrito: permitido veículos das 18 às o6 da manhã. Imaginem já havia preocupação com o trânsito.

Na parte superior, do Aldo direito de quem desce, na esquina onde hoje é uma farmácia era a famosa “casas Pernambucanas” loja tradicional e só existente nas grandes cidades e Conquista era desde então um grande centro comercial. As paredes eram pintadas de um amarelo forte e que, sinceramente, não me agradava. A parte inferior da parede era de um azul muito escuro, formando uma barra em todo o seu prolongamento.

Em das portas laterais, voltada para a alameda, sentava-se Adão, figura tradicional, orador político e ao que tudo indicava era um homem da direita. Na verdade eu não sabia o que era aquilo que ele falava sobre política, eu não tinha compreensão para tudo aquilo, mas sei que o seu alvo preferido era o pessoal pretendente à Presidência da Republica.

Era uma figura esguia, mística, cabelos brancos e longos, às vezes usando um chapéu e trazia no pescoço uma fita vermelha com um crucifixo. Não posso esconder os meus temores de menino diante daquela figura pouco comum, em especial em um país em que o idoso serve como referencia para assustar criança, portanto, justificado o meu medo. Usava um par de muletas, era portador de hanseníase e bradava em altos gritos as suas profecias sobre o fim do mundo.

Dentre os seus ataques aos políticos, dois são memoráveis, fui testemunha de ambos e meio assombrado diante daquela voz forte, com a Ramiro Santos cheia de gente, ouvi: Brizola, aquele cara de viola e João Gulart, naquele momento meus pensamentos voaram rápidos buscando uma rima e conclui que Adão não completaria a sua rima. Tudo isso foi muito ligeiro e mal eu terminava de pensar, ele completou: aquele cara de cocar.

Fiquei impressionado com aquele orador que buscava chamar a atenção com as suas rimas e que era motivo de riso de todos os que passavam pela Ramiro Santos. Mas sempre havia novos discursos e na campanha de Lote e Jânio Quadros, Adão se revelou militarista e fazia longos discursos em defesa do General Lote. O que eu ouvi foi bem agressivo. Depois da sua longa oratória, concluiu: Lote enfiou a sua espada no *** de Jânio e só o cabo ficou de fora. Meninos eu ouvi. Vit. Conq. 041113


2 Respostas para “Adão, o Profeta da Alameda”

  1. Elivaldo Moreira

    Meu caro colega Jorge Maia, nos somos contemporâneos. Quando menimo, também conheci o “profeta” Adão. Faltou você falar das unhas daquele barbudo, que eram do tamanho das unhas do zé do Caixão.

  2. maria trindade

    Dr.Jorge Maia, um exímio contador de causos…

Os comentários estão fechados.