Roberto Midlej e Osmar Marrom Martins | Correio
A hora da despedida está chegando: o Carnaval de 2014 marcará oficialmente a saída de Bell Marques, 61 anos, do Chiclete com Banana. Bell continua com os companheiros até terça-feira de Carnaval, quando, às 21 horas, dá início oficialmente a sua carreira solo, no circuito Barra-Ondina, num trio pipoca. E o primeiro álbum solo, ainda em gravação, não tem nome, mas Bell garante que já tem estilo. E o estilo vai ser bem parecido com o do Chiclete, mas com algumas mudanças, como o uso de um celo e um violino, “como fazem as bandas de rock inglesas”, diz o cantor. Bell esteve ontem na Bahia FM (88.7), onde participou, ao vivo, do programa Fuzuê, que comemora 5 anos no ar, com apresentação de Marrom e Maurício Habib. O cantor falou sobre a sua saída, os rumores das brigas entre os integrantes e as perspectivas da caminhada solo. Sobre o novo vocalista do Chiclete, Rafa Chaves (ex-Via Circular), ele foi breve: “Não o conheço como artista e nem pessoalmente, por isso não tenho o que falar. Mas desejo que realize todos os sonhos dele”.
Afinal, por que você tomou a decisão de sair do Chiclete?
Decidi sair do Chiclete porque, quando subia no palco, não sentia mais aquele frio na barriga. Muita gente disse que foi por causa de dinheiro, mas quem falou isso não aceita que você mude sua vida para buscar sua felicidade. E saí num momento em que a banda continua em alta, uma das mais tocadas no país.
Muito se especulou sobre brigas entre você e seus irmãos. Houve mesmo rusgas em sua saída?
A iniciativa de sair foi minha e eu disse a eles que não estava feliz. Mas não houve nada, exatamente como falei no depoimento que dei comunicando minha decisão. Não houve briga alguma. Nunca brigamos nem quando éramos crianças, nem no ambiente familiar. Está tudo bem, tanto que depois que comuniquei minha saída continuamos viajando, dando risada e continuamos a fazer nossos trabalhos.
Vocês são sócios em vários empreendimentos, inclusive em blocos. Como ficam as sociedades daqui em diante?
Para você ter ideia de como minha saída foi amigável, nem discutimos sobre isso ainda. O que tenho definido é que vou me apresentar solo no Camaleão em 2015 porque foi uma escolha dos donos do bloco. Mas não decidimos nada sobre o Nana Banana nem a Central do Carnaval, em que somos sócios. Por enquanto, fica tudo como está. O destino da sociedade será definido naturalmente. Vai ser algo assim: ‘Você quer ficar com o bloco?’, ‘Quero’. ‘Então fique’. Porque sempre fomos assim.
Alguma notícia recente relacionada à sua saída incomodou você?
Fiquei triste quando li que eu havia agredido meu irmão e me pergunto por que as pessoas falam isso. Que interesse têm nisso? Não é verdade.
A discussão sobre as biografias autorizadas ou não-autorizadas despertou discussões sobre a privacidade do artista. Você já sentiu sua privacidade invadida?
Em meus 36 anos de carreira, nada invadiu minha privacidade, até porque nunca dei espaço pra isso. A única vez que me aborreci mesmo foi com Nizan Guanaes, mas não pelas coisas que falou, mas pela maneira como falou [em 2010, no Twitter, o publicitário afirmou: “Esta indústria do axé, personificada em Bell do Chiclete, só destrói a Bahia. Ele não é um artista. É um crooner careca”]. Então, fui pra Justiça e o processo ainda está rolando. Falam que briguei com meu irmão, que xinguei fulano, mas não processei ninguém. Muita gente não gosta de mim porque não vivo em escândalo e não rendo notícia. Não vivo em farra e não vivo cercado de mulheres.
Você tem acompanhado a discussão sobre as biografias? Você acha necessária uma autorização prévia para a biografia de um artista?
No meu caso, não permitiria uma biografia porque já tenho uma praticamente pronta que deve sair logo (risos). Comecei a escrever e acabei parando há uns dez anos, mas vou retomar e colocar o que aconteceu mais recentemente. Já tem até nome: Ao Bell Prazer. Procurei Jorge Amado lá atrás pra ele escrever com um sotaque bem baiano, mas ele logo morreu. Depois, procurei Zélia [Gattai] e ela não pôde fazer porque estava com uns problemas e me pediu desculpas. Agora, preciso de um escritor para ele dar o toque final.
Quando a banda de seus filhos, a Oito7Nove4, foi lançada, muito se falou que era apenas um produto comercial e que estava no mercado graças a você. As críticas o incomodaram?
É lógico que eles nasceram no meio do Carnaval, então foi natural que seguissem o meu caminho. Estranho seria se tocassem rock’n’roll. Mas eles têm um estilo próprio e total autonomia nas decisões. Não participo de nada. Às vezes, dizem que eles tocam só porque estão no show do pai. Mas é claro. Vou botar meus filhos onde? No show do vizinho? Tenho que botar no meu palco, afinal sou uma referência e eles estudam muito e são ótimos músicos.
E como está a preparação da carreira solo?
Vou lançar um disco solo uma semana antes do Carnaval. Ainda não tem título, mas já estou gravando. Mas no Camaleão não vou tocar nada desse disco, porque os fãs vão mesmo querer ouvir as coisas do Chiclete, afinal é muita música. Até terça-feira de Carnaval, à noite, continuo no Chiclete e vou me despedir na Praça Castro Alves. O início oficial da minha carreira solo será às 21h, quando sairei no circuito Barra-Ondina.
O estilo de seu som vai seguir o do Chiclete?
Eu tenho que seguir aquilo ali e acrescentar algo. O Carnaval vai ter minha cara, o som é carnavalesco, não mudo nada, apenas acrescento. Vou usar celo e violino, mas de uma maneira diferente, como as bandas de rock inglesas. Vai ser um som pesado, ‘pancada’. Mas na carreira solo também vou cantar músicas do Chiclete, afinal, a história do Chiclete é minha também.
Saída de Bell Marques teve repercussão nacional
No dia 10 de setembro, Bell Marques, 61 anos, comunicava sua saída do Chiclete com Banana. O anúncio foi gravado em um vídeo postado no YouTube, batizado de Um Novo Jeito de Caminhar, e já acumula mais de 850 mil visualizações. Depois de 30 anos à frente da banda, que vende o abadá mais cobiçado do Carnaval, Bell não disse exatamente por que estava abrindo mão do grupo, mas pontuou, no vídeo, que todo relacionamento sofre com o desgaste provocado pelos anos de convivência. O adeus repercutiu em todo o Brasil. Orfã, a nação chicleteira ficou inconsolável após a fala, que o músico classificou como uma das mais difíceis de sua vida.