Às vezes me flagro, no limite das minhas duvidas e sinto serem elas, por certo, os elementos das fronteiras que revelam em mim o indecifrável, me levando adiante. Certifico-me que entre a madrugada fria e a manhã ensolarada do dia seguinte existe um lapso imperceptível aos sentidos nossos, onde tudo para, para fazer do seguinte momento aquele mágico instante de algo novo. Sim, pois acredito que, por um milésimo de segundo, mesmo a natureza, pródiga no seu existir, mãe e exemplo de tudo estanca de repente. Contudo, neste mínimo hiato busca inspiração, para pulsar seus raios iluminados, capazes de rasgar o horizonte e se mostrar rediviva, soberana, diante do próprio opaco que não lhe resiste. Não fora o ressurgir, a renovar pétalas e dormentes, capazes de despertar e suportar hiperativos e dementes, tudo se resumiria na mesmice concubina, que não pode esposar o ser amado, posto não passa de algo que acabou antes de começar e se fez natimorta.
A dinâmica, ela e tão somente ela, pujante e efervescente, guarda o condão de descartar células mortas repondo, num momento seguinte, a vida em sua plenitude, como facho inebriante de luz, que renasce em raios multicores diante do labirinto apagado daquilo que ficou para trás.
Nenhuma escuridão absoluta, fruto da mais encaixada eclipse, responsável por frios glaciais profundos, pode resistir ao brilho de repetidas alvoradas acendendo as luzes, a cada sucessiva manhã, resgatando a vida, naquilo que parecia apagado para sempre, sobretudo aos céticos, justo afligindo aqueles que não têm fé.
Este é o segredo. Seremos capazes de renovar positivamente, se pudermos imitar esta dança do renascer a cada dia, a todo o momento, transformando nossas noites de incertezas em manhãs de convicções recuperadas, na confiança de que tudo é possível àqueles que creem.
Pouco importa se as injustiças visitam nossas praias; se a ingratidão, mãe do amigocídio derrama lama apodrecida no leito de nossos caminhos; se os percalços do cotidiano abalam nossas estruturas; se a corrupção dos que governam e a violência decorrente destas práticas descolorem nossas paisagens diuturnas. Sempre haverá saída, basta que se lute por ela, sem permitir nos abata a desesperança.
Há que cuidar de não vestir as fantasias perigosas da hipocrisia, da vaidade e da cobiça. Usar sempre as roupas leves, transparentes, da ética, da moralidade, da concórdia, do desprendimento e do perdão. Viver na convicção de que tudo ressurge, sobretudo na esteira dos nossos atos probos, os quais nos farão renascer dignos, ainda mais, quando as vestes da vida passageira nos despirem deste corpo atual.
Há que fazer brilhar em nós e espargir no semelhante, a cada manhã sucedânea, os raios vívidos de brilho colorido e energia pura, apenas presentes, nos que renovam em si mesmos, doces e enlevados desejos de paz.
SSA, 12 de novembro de 2013
valdir barbosa