Há um livro, – a Revolução dos Bichos, de Orwel, George – em tal obra, se percebe após uma breve reflexão, o autor descreve a rebeldia de um monte de animais numa fazenda contra a tirania humana. É uma revolução, o ditador é enfim, deposto, expulso, execrado, destruído. A fazenda, o lócus-espaçus tenderia a igualdade. No inicio foi uma maravilha, mas pouco tempo depois a disputa pelo poder, a exploração do bicho por outro bicho e os privilégios dos dirigentes fizeram cair por terra os belos princípios do inicio da revolução. É um símbolo ou seria essa a história da Revolução Bolchevique, a partir de uma visão imperialista da história? Assim é a história onde nem sempre a política caminha ou se coincide com o ocorrido?
Mas,- “ É noite e os homens vão chegando, no porão de uma bela casa, localizada na ladeira da Praça. Todos entram murmurando baixinho e cordialmente: As-Salamm-Alaikum e ouvindo como resposta: Wa-Alaikum-Salaam. É lá que Manoel Calafate reúne negros libertos ou escravizados, para iniciá-los nos ensinamentos do Alcorão e prepará-los para uma batalha pela liberdade. Será a maior revolta urbana de negros. Entretanto, eles não sabem, mas todos os planos já foram delatados para as autoridades policiais. Em pouco tempo, ao invés de lutar pelo povo negro muçulmano, terão primeiro que manter a própria vida. A Revolta dos Malês, assim denominada pelo senhores de escravos e seus historiadores, foi na verdade uma Grande Insurreição Urbana Negra e Muçulmana ocorrida no dia 25 de janeiro de 1835, é dos episódios mais importante e pouco divulgados da História do Brasil. Mostra não só a força e estratégia da população negra, onde fielmente é retratada a resistência daqueles que eram islamizados ao Sistema de Escravidão”.
Enquanto isso, é no século XXI,- vivendo-nos a época de espionagem, em curso por nações tidas como hegemônicas, novamente nos colocamos na trincheira de reafirmar aqui o lugar do negro na luta de classes: em curso ainda o racismo capitalista ultra-monopolista. Recorrendo a nossa aliada história, criou-se então distinções nas relações de produção e trabalho entre centro e periferia, e também dentro dos países centrais periféricos. O desenvolvimento da acumulação capitalista mundial aprofunda tal diferenciação nas relações de trabalho, criando um duplo mercado de trabalho. A esfera superior do mercado de trabalho é onde são praticados salários superiores e salários indiretos por meio de garantias sociais, poupanças, bolsas e mais bolsas, enquanto que na esfera inferior do mercado de trabalho praticam-se salários menores, maiores jornadas de trabalho e onde não há garantia de um salário decente, para pelo menos, consumir 800 calorias diária de alimento. Dessa maneira, a ação do imperialismo produziu uma segmentação centro-periferia que atua inclusive, também dentro de cada país central e periférico. Nessa linha verticalizada, o racismo, se constitue como um dos operadores centrais para viabilizar a segmentação do mercado de trabalho.
Você que neste momento lê esse artigo acha pouco, saiba que outro crime brutal e que dá medo, mas, muito medo mesmo é perpetrado contra a África e todos aqueles ligados a esse continente, como nós do Brasil: “A apenas poucos quilômetros de Umm al-Hiran, no sul do deserto Negev e dentro da Linha Verde, o estado de Israel iniciou outro projeto ambicioso para “concentrar” outro tipo de indesejáveis. É a prisão de Saharonim, vasto complexo de torres de vigilância, muros de concreto, arame farpado e um oceano de câmeras de vigilância que hoje constituem o que o Independent britânico descreveu como “o maior centro de detenção do planeta. Construído originalmente para servir como prisão para palestinos durante a 1ª Intifada, a prisão de Saharonim foi ampliada para prender 8 mil africanos que fugiam de genocídios e perseguições. Atualmente, vivem ali pelo menos 1.800 refugiados africanos, inclusive mulheres e crianças, cercados num local que o grupo israelense de arquitetos Bikrom descreveu como “um gigantesco campo de concentração, onde as condições de sobrevivência são duríssimas. Como as vilas “não reconhecidas” dos beduínos do Negev, os 60 mil migrantes africanos e buscadores de asilo político que vivem em Israel foram identificados como ameaça demográfica que tem de ser expurgada do corpo do estado Judeu. Numa reunião com ministros de seu gabinete em maio de 2012, Netanyahu alertou que o número deles poderia crescer dezenas de vezes, e “causar a negação do Estado de Israel como estado judeu e democrático”. Por isso, seria imperativo “remover fisicamente os infiltradores” – disse o primeiro-ministro de Israel. “Temos de quebrá-los e implantar castigos ainda mais duros”. Jornal Brasil de Fato, edição, 555/2013. Aqui não tenho outra conclusão a não ser essa: o deserto da democracia de Israel quer queimar os africanos.
Portanto, o dia 20 de novembro data da destruição de Zumbi e de Palmares: símbolos da rebelião de escravos, é sim um marco da luta dos Pretos no Brasil. É um dia que marca a atualização da memória da luta contra a escravidão e o processo de colonização. É um marco da luta contra a discriminação e pela valorização da memória e reconhecimento da cultura negra para a formação da sociedade brasileira. Neste dia devemos nos lembrar que raças não existem: apenas uma única raça entre os hominídeos: a raça humana; devemos lembrar que o racismo é fruto de uma ideologia pseudocientífica nascida junto com o sistema capitalista. Para os Marxistas só a luta organizada e a unidade dos trabalhadores podem garantir direitos e conquistas e uma vida melhor para os trabalhadores. E mais: o problema da luta contra o racismo não se separa da luta contra o capitalismo. De forma alguma as políticas de ação afirmativa, pode se descolar de uma perspectiva mais ampla do papel do negro na luta de classes, se convertendo sim num instrumento propositivo de luta e reivindicações, que, questionando as estruturas de poder não deveria em hipótese alguma reproduzir o próprio racismo. Nesse sentido, é preciso deslocar o foco da questão racial para a relação capitalismo/racismo e abstrair como o negro pode e deve se colocar na luta de classes. Por outro lado, devemos refletir de forma propositiva sobre como os trabalhadores devem assumir em seu conjunto a luta contra o racismo. Tenho a impressão que vivemos momentos terríveis da história tida como humana: discursos eliminacionistas florescem aqui, ali e acolá. É a estigmatização da África, aliás, queimar os africanos ou quem sabe ressuscitar o profeta Noé, para enfim, na Africa promover um dilúvio e varrê-los da terra.
Joilson Bergher, professor Licenciado em História, Uesb, da Rede pública Municipal em Brumado, Bahia. Graduando em Filosofia, Uesb. Pós Graduado em Metodologia do Conhecimento Superior, Uesb e Pesquisador Independente do negro no Brasil.