Tem um provérbio chinês que diz: “Enquanto se briga por um quarto de porco, perde-se um rebanho de carneiros”. A discussão em torno da condenação e da prisão dos mensaleiros nos fez clarear como as leis não são iguais para todos, embora a Justiça se esforce para nos dizer o contrário. Todos nós sabemos que as penitenciárias no Brasil estão cheias de presos com doenças graves, como cardiopatias, AIDS, tuberculose, diabetes e acabam morrendo à míngua sem tratamento justo, adequado e humano. Quem importa com isso! Qual condenado no regime semiaberto neste país consegue um emprego tão rápido, com tão alto salário?
Essa é a cara do nosso país com seu jeito torto, paradoxal e contraditório, que vem se arrastando desde os tempos coloniais, convivendo com os piores índices do mundo em competitividade, produtividade, educação, saúde e segurança. Esse sempre foi o país do futuro, desde quando eu era um menino inocente do primário. Assim ensinavam nossos diletos e dedicados professores, quando estava se tentando introduzir a qualidade na educação e no saber cultural, mas lá se foi a preciosa joia do reino.
Depois de um tempo ausente, tomei a liberdade de fazer algumas anotações de notícias que ocorrem em nosso “Brasilzão”, as quais podem servir para nossa reflexão, ou crítica, a depender da interpretação de cada um. Uma delas se refere às polêmicas cotas universitárias para negros. Já sei que vou ser taxado de racista como o palestrante que foi impedido por um grupo de estudantes e professores de falar na Feira do Livro, em Cachoeira, na Bahia. Os alunos perderam a chance de ouvir a opinião do convidado. Lembrei-me da frase do filósofo Voltaire sobre o contraditório. Não demora muito e logo vamos ter a polícia do pensamento. Nada de ousar pensar, falar e escrever. Bem, digo que as cotas em nada adiantam se não for melhorada a qualidade do ensino básico para todos, sem distinção de cor, e não me venham com essa de reparação. Se não houver uma revolução no ensino público, a desigualdade entre pobres e ricos vai continuar e aumentar. Sem essa de cor de pele, gente!
Por falar em cotas, o deputado federal Luiz Alberto apresentou o projeto de criação de cotas para parlamentares negros, No seu projeto, se for aprovado, vamos ter eleições especificas onde o eleitor daria dois votos, um para seu candidato negro (não importa se tem mérito ou não) e o outro para os demais. Numa entrevista à imprensa, o cantor Saulo conta que um dia foi tirar sangue e a enfermeira olhou para ele e disse: Eu não gosto de branco, mas eu gosto de você porque você canta a minha cor. Se isso não é racismo declarado, é o quê? Estou deixando de ler artigos dos movimentos negros, porque sempre estão carregados de racismo raivoso e segregacionista.
De uma anotação a outra, a Câmara de Vereadores de Itaberaba, na Bahia, abriu no mês passado uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar quem jogou fezes na geladeira da cantina da Casa. A população passou a chamar de “CPI da Bosta”. Viram a “carteirada” do coronel José Dirceu Pereira (olha aí o nome do cara!) flagrado quando dirigia embriagado! Você sabe que sou coronel! – apelou o “comandante” para o guarda. E eu pensava que a Lei Seca era para todos, mas é só para o civil pobre. Aprendendo a mesma lição do coronel, outro policial bêbado no trânsito disse para o outro: Eu sou seu colega, cara! Manera aí!
No Brasil, ou no nosso sistema capitalista consumista, os animais silvestres e domésticos têm mais valor e são mais importantes que os seres humanos. Por que os medicamentos na área veterinária têm isenção de impostos e os remédios para os humanos não são isentos? Por que os impostos para bicicletas são mais altos que os cobrados em automóveis (40,5% contra 32%)? Está comprovado que os homens têm vida mais curta que as mulheres, mas são elas que se aposentam primeiro. Não se fala tanto em igualdade para todos!
O Senado, que recentemente comprou 28 toneladas de café por R$235 mil, aprovou um projeto que transfere para a alçada das Assembleias Legislativas a incumbência para a criar mais 180 municípios no Brasil. São mais prefeituras, mais câmaras de vereadores, mais gastos e mais corrupção. O país já tem 27 estados e 5.664 municípios. A Assembleia Legislativa de São Paulo criou o “Dia do Ovo” e teve festa com omelete e tudo, com a presença do governador. Não é bonito! Enquanto isso, o empresário “Senhor X” (Eike Batista) deu calote, inclusive no dinheiro público da Caixa Econômica Federal e no Banco de Desenvolvimento Econômico e Social, que não tem nada de social.
Viu aquela do vereador José Paulo Carvalho Oliveira, da Câmara Municipal de Piraí (Rio de Janeiro) ao falar na tribuna que mendigo tinha que virar ração de peixe e que morador de rua não deve votar. Achava que isso eles (políticos) falavam no escurinho do cinema. O prefeito de São Paulo, Fernando Hadad deu entrevista dizendo que paga o IPTU com alegria. É a primeira vez em minha vida que ouço um brasileiro afirmar que paga imposto com satisfação e felicidade. Só rindo para não chorar. O técnico da seleção brasileira de futebol, “o Filipão”, em tom ufanista, tratou o jogador Diego Costa como traidor da pátria porque o atleta escolheu a Espanha. O presidente da CBF, José Maria Marim, até sugeriu uma ação para cassar a cidadania do rapaz. É patético demais!
Fizeram um Vudu e mandaram para a Câmara de Vereadores de Santo Antônio de Jesus, na Bahia, no último dia 31 de outubro. A casa recebeu uma boneca barbie espetada com 14 agulhas, além de um charuto, duas velas (uma vermelha e outra preta) e um punhal enfiado em seu coração. A Câmara tem 14 vereadores. A administradora da Câmara, que é evangélica, fez uma reza forte e mandou queimar o despacho para quebrar o feitiço. Coisas bizarras do Brasil onde as escolas federais de nível superior são para os ricos. Pobre tem que pagar faculdade particular.
A Prefeitura de Xique-Xique, na Bahia, fez um pregão inusitado e a empresa Calvert de Lima Barros foi a vencedora da disputa comercial que lhe rendeu R$250.700,00, para prestar serviços funerários ao município, incluindo caixão, flores, velas e outros acessórios especiais ao verbo “defuntar” do escritor português José Saramago. É muita preocupação com os mortos! Lá no Ceará, município de Iracema, a prefeitura apresentou em setembro gastos de R$447 mil pelo fornecimento de 100 caixões e serviços funerários, mas a população protestou e se referiu ao episódio como o “apocalipse zumbi”. Lembra da fictícia cidade de Sucupira, na obra o Bem Amado, do escritor Dias Gomes. Nela o prefeito Odorico Paraguaçu só dependia de um defunto para inaugurar o cemitério, mas ninguém morria. Essa é a cara do nosso Brasil.