A manhã em que eu fui ao motel

Jorge Maia

Jorge Maia

Na vida nem sempre tudo é o que parece, sempre estamos cometendo erros em nossos julgamentos. Imaginem a minha alegria ao ser intimado, naquele tempo por oficial de justiça, para uma audiência esperada anos a fio. Era uma ação que motivava o advogado, pois provocante devido a sua complexidade. O mandado intimava para indicar as provas pretendidas e o prazo para indica-las, inclusive para apresentação do rol de testemunhas.

Procurei entrar em contato com a cliente, mas nenhum dos seus telefones atendia. O prazo era longo e fiquei tranquilo entendendo que havia tempo para cumpri-lo, mas não posso negar que a preocupação começou a bater de modo inquietante e continuei a procurar o contato com a cliente, sem, contudo, obter resultado.

À medida que o tempo avançava a preocupação aumentava e passei a buscar informações sobre o endereço da cliente, uma vez que ela não atendia as minhas ligações e as correspondências foram devolvidas pelos Correios. Enquanto isso, o meu prazo fluía de modo impiedoso. Fiquei preocupado, depois de tanto tempo esperando por aquela audiência e perder a oportunidade de fazer as minhas provas, seria um desastre.

Busquei informações entre pessoas conhecidas e ninguém sabia o paradeiro daquela pessoa. Naquela época não existia google, nem rede sociais e que hoje facilita encontrar pessoas, nem havia programa de tv que ajuda a procurar pessoas desaparecidas. Confesso que eu estava disposto a anunciar em rádio local, tentando localizar a cliente.

Finalmente, alguém me informou que a conhecia e que ela era dona do motel X. Não consegui o telefone do motel e aí foi que começou o problema, pois o prazo avançava e eu tive que ir ao motel encontrar a minha cliente, tudo no bom sentido.

Era uma manhã de céu claro, com poucas nuvens e de temperatura estável. Uma manhã gostosa para sair, viajar e curtir a vida. Localizei o motel, o qual ficava à beira de uma rodovia e por onde circulavam muitos veículos.
Cheguei à portaria e disse que precisava falar com a madame Xis, em pouco tempo ela veio até a entrada do motel atender ao meu chamado, e ali trocamos as informações necessárias para a nossa audiência. Marcamos um horário no escritório, onde examinaríamos a situação do processo e demais cuidados para dar seguimento à defesa dos seus interesses.

Os fatos seguintes foram os comentários de amigos e conhecidos, os quais me viram ou tomaram conhecimento de eu estava na porta do motel às dez da manhã. Todos queriam saber sobre os fatos. Inicialmente eu respondi que fui manter um contato com uma cliente, o que gerou muitas brincadeiras. Em seguida, para outros, tratei de mudar a resposta, informando que fui tratar de negócios, piorou. Ninguém acreditou.

Tudo isso me levou à reflexão de quanto somos apressados em nossos julgamentos. Há coisa que parecem e não são, e há coisas que são e nem parecem. Todos julgaram que fui ao motel com outro objetivo. Não consegui convencer, a ninguém, restando-me apenas a continuar informando a todos que ali eu fui a trabalho, manter contato com uma cliente. Vit. Conq.21,12.13.


Uma Resposta para “A manhã em que eu fui ao motel”

  1. Luciano Sepulveda

    Prof. Jorge Maia sempre inspirado. Exemplo para todos os operadores do direito!

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