Jeremias Macário
Ia visitar no dia do Natal meus amigos Ricardo Benedictis e Paulo Andrade que estão se recuperando de um tratamento de saúde, mas aconteceu um imprevisto no aeroporto, que é a maior vergonha de Vitória da Conquista. Meu filho que ia embarcar para São Paulo, às 7 horas da manhã, e depois para o Rio de Janeiro se sentiu mal e terminou vomitando na sala de entrada. Foi impedido de embarcar por questão de segurança no avião.
Até aí, tudo bem, mas o que nos deixou constrangidos foi o tratamento dos atendentes no balcão da Passaredo e da viação Azul. Ficaram irredutíveis e houve uma ligeira discussão em ambas as partes. Ao invés de tentar ajudar, pois o rapaz estava passando mal, chamaram a polícia (um militar e uma militar) que chegou aos gritos. Na confusão tive que responder à altura e, por pouco, não fui preso por “desacato à autoridade”.
Sei que meu estilo passando a limpo dos fatos desagrada e torce a cara de muita gente, mas a realidade tem que ser dita. Meu filho não é nenhum marginal e precisava chegar ao Rio na quarta-feira de Natal. A situação só fez piorar seu estado de saúde e entrou em crise. Só acho que não era necessário chamar a polícia que apareceu em menos de cinco minutos. Fosse um assalto em algum ponto da cidade, talvez nem aparecesse com tanta precisão.
Para o sr. governador do estado e demais autoridades, digo que o aeroporto de Conquista é uma vergonha para a cidade, pois não está preparado e não tem estrutura para receber passageiros, nem solucionar um imprevisto desse. Há mais de cinco anos que o novo projeto não sai do papel e, enquanto isso, o quadro só faz piorar e decepciona moradores e visitantes.
A única coisa que fizeram foi uma pequena reforma com aquela divisória que deixou mais feio o local. É bom que a sociedade fique sabendo que o projeto do novo aeroporto só vai receber aviões de pequeno e médio porte. Para descer uma aeronave de grande porte a pista tem que ser ampliada e aí cabe outro projeto que vai se arrastar por mais cinco ou dez anos.
Passamos por um tremendo constrangimento e ficamos abalados, principalmente no meu caso como pai. Para viajar, meu filho comprou outra passagem na Azul até Belo Horizonte e de lá para o Rio. Tentei convencê-lo a ficar em Conquista e entrar com um processo na Justiça, mas, como todo brasileiro, disse que não, justificando que não confia numa ação reparadora no Brasil. Preferiu pagar outra passagem do próprio bolso.
Como estou no passando a limpo, um grupo de empresários vem se reunindo na tentativa de criar um movimento para agilizar projetos importantes para Conquista, como é o caso do aeroporto e da construção da penitenciária, outra obra que se arrasta há anos.
Acontece que esse grupo teme melindrar vaidades de determinados dirigentes de entidades e aí pode não encontrar apoio. Cada um tem seus interesses e acha que qualquer movimento tem que passar primeiro pelo seu crivo. Demora-se tempo em conversas de bastidores para se tomar uma decisão. Precisamos de lideranças fortes com mais “agressividade” e menos diplomacia e enrolações.
Outro caso aqui em Conquista que me deixa constrangido é o do menino Maicon, morto numa ação desastrada da polícia há um ano. Até agora quase nada ficou esclarecido. Demorou-se um ano para se realizar uma audiência de indiciamento dos prováveis culpados pelo desaparecimento do menino, tempo suficiente para desfazer provas e até ameaçar testemunhas.
Meu constrangimento no aeroporto no dia de Natal é insignificante diante da dor dos pais e dos familiares do menino Maicon. Já são duas festas de “confraternização” sem seu filho. O que mais me espanta e me deixa triste nisso tudo é a falta de solidariedade e apoio das pessoas, embora tanto se fale nesta palavra. O caso do pedreiro Amarildo, do Rio de Janeiro, teve uma solução bem mais rápida porque lá houve pressão da mídia e da sociedade.
Bem, para não ficar falando só de tristezas, o Natal da Cidade, promovido pela Prefeitura Municipal, merece elogios pelo nível dos artistas (Erasmo Carlos, Nando Reis, Milton Nascimento, Margarete, Maria Gadú e outros). Só acho que a programação carece de outra estrutura para receber tanta gente, inclusive de um maior espaço fechado. É uma programação cultural bem diversificada, não deixando de fora os artistas da cidade. Por ser um dos melhores da Bahia, precisa de mais divulgação lá fora.
2 Respostas para “Passando a limpo”
Luciano
É necessário esclarecer que o novo aeroporto terá uma pista com capacidade para a operação de aeronaves de grande porte. As dimensões e a resistência do pavimento permitirão o pouso e a decolagem de aeronaves do tipo Boeing 737-800 e Airbus A320 (aeronaves utilizadas, respectivamente, pela Gol e pela TAM). O projeto do novo aeroporto contempla ainda um plano diretor, que orienta para futuras ampliações, dentro de um horizonte de 30 anos. A pista, havendo demanda, poderá chegar a mais de 3.000 de comprimento. Por ora, o que será construído atenderá plenamente as nossas necessidades. PS: Certamente o Sr. conhece poucos aeroportos; só isso explica o fato de considerar o aeroporto local como “a maior vergonha” da cidade. O aeroporto, a despeito das suas pequenas dimensões, garante aos usuários um satisfatório nível de conforto,além de possuir equipamentos para apoio à navegação aérea que poucos no Nordeste possuem.
Carlos Alberto Silva
Vitoria da Conquista vai continuar sempre essa província vergonhosa, uma PM que não cumpre com sua obrigação e um monte de puxas sacos que aparecem para defender descaradamente os políticos incompetentes dessa cidade e estado.
Jeremias, toda minha solidariedade para você e seu filho.