Peter Pan ou de Dorian Gray?

Jorge MaiaJorge Maia

Tenho Perguntado aos meus alunos qual a coisa mais difícil da vida. Falo coisa porque assim é o nosso hábito, coisificar tudo para comunicar e ser compreendido, o que não merece censura na linguagem coloquial. Mas, na verdade não é uma coisa no sentido comum que a palavra indica significar. Quero dizer sobre um estado, um jeito de ser. Vendo a dúvida em seus olhares e certa timidez por não querer errar antecipo a resposta: a coisa mais difícil do mundo é ser adulto.

Cito a celebre afirmação de São Paulo: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. 1 Coríntios 13:11. Vejo nos olhos dos alunos certa dúvida quanto ao que falo e complemento o que penso sobre o assunto, sem, contudo discutir aspectos bíblicos.

Deus sabe lá, quando aquela afirmativa foi escrita, certamente há milhares de anos, mas a experiência humana já entendia a dureza de ser adulto. Enterrar os nossos mortos. Sentir as forças e a saúde exaurir com o passar do tempo, assumir as consequências dos nossos atos ou dos atos de outrem a quem estamos vinculados por tantos laços. Assistir as dificuldades com maturidade e servir de exemplo para outros. Ser forte diante da vida e nunca fugir da luta, embora possamos fraquejar vez por outra.

Encontramos adultos com voz de criança e comportamento infantil, ou adolescente quando já passaram desse tempo, o que não significa que perderam a validade. Refugiam-se em um tempo que não lhe pertencem e procurando demonstrar ingenuidade, o que na vida adulta é prova de despreparo e ignorância.

Sininho e Peter Pan ficam muito bem nos sonhos e imaginação de crianças, mas para os adultos devem permanecer apenas como doce recordação da literatura infantil que povoou nosso universo mágico. Não raro encontramos cocotinhas de quarenta anos usando mini saia e decote generoso, como se fosse mocinhas. Também encontramos senhores metidos a garotões comportando como se estivesse na flor da idade. Claro, ser adulto não significa ser um velho resmungão e ignorar as coisas boas da vida, mas, compreender que há tempo para plantar e tempo para colher os frutos de cada idade sob pena cair em ridículo.

O velho e malvado Dorian Gray é um retrato cruel do gozo desenfreado da vida, o desejo da eterna juventude a qualquer preço e sob qualquer bisturi, não importando os sacrifícios ou o preço a pagar. Não importa que pacto. A alma esvaziada é compensada pela juventude eterna, perdendo-se os demais valores na vala comum da insignificância.

Cultivar as nossas rugas como marcas significativas da nossa existência, marcos históricos do viver, e lembranças perenes do compasso do tempo é demonstrar que assumimos a vida adulta, com todas as suas misérias e consequências. Entre Peter Pan e Dorian Gray escolho ser adulto, ainda que cometa erros e pecados, mas com a grandeza do aprendizado que a experiência se encarrega de fazer. VC. 28.12.13


Uma Resposta para “Peter Pan ou de Dorian Gray?”

  1. Sormany Portela

    É preciso uma análise interior em cada um de nós, para podermos perceber, se não estamos com dificuldades de aceitarmos a maturidade. Pois facilmente encontramos pessoas adultas, que se comportam como se estivessem no limiar da adolecência!!!!

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