PY6APV- América – Portugal – Vitória

Jorge Maia

Jorge Maia

É engraçado avistarmos crianças com menos de cinco anos portando tablete, celulares e demonstrando certo domínio sobre tais equipamentos, causando inveja às pessoas que nasceram antes de 1970. De outro lado temos os adultos que não largam o celular, em todos os lugares e momentos, inclusive quando estão ao volante, criando uma situação de risco para todos nós. Fico a pensar, indagando o que é que as pessoas tanto falam? E ainda falam na falta de diálogo.

Mas nem sempre foi assim. Até a década de setenta do século vinte as os contatos telefônicos eram caros e difíceis e uma chamada cobrar deixa o dono da casa de cabelo em pé, pois temia receber a ligação e o assunto não seria do seu interesse e ainda ter que pagar aquela fortuna. As pessoas falavam menos e pensavam mais.  

Naquele tempo residi no CEUSC- Centro dos Estudantes Universitários e Secundaristas de Conquista, criando em outubro de 1971, pelo então Prefeito Nilton Gonçalves. Havia um telefone para usos comum, mas era trancado com um cadeado de modo a evitar excessos pelos moradores e o uso era limitado a três minutos para cada um em ligação local. Ligação para outra cidade só a cobrar.

Em 1972/73 quando Nonô chegou ao CEUSC trouxe consigo um equipamento de rádio amador que lhe fora dado de presente por seu pai: Waldenor Alves Pereira, cuja companhia desfrutei mais tarde, na condição de temporariamente, meu Vice–Presidente na OAB, em Vitória da Conquista.

Aquele rádio foi a salvação para as nossas comunicações. Todos os dias, a partir das 12h30min nos reuníamos no local destinado às nossas festas e eventos e aguardávamos a chamada: PY6APV- América- Portugal- Vitória. Era como se iniciava o contato, usando uma linguagem própria do meio e seguia–se os recados que o Waldenor transmitia para Nonô sobre as notícias de Conquista. Eram informações dos pais que pediam aos filhos para que mandassem notícias.

As notícias eram variadas: nascimentos de irmãos, de sobrinhos, doenças e internamentos de parentes e às vezes de óbito. Em contra partida as noticias que seguiam eram: mande dinheiro, ou mande alimentos, aquele documento que eu esqueci, ou simplesmente diga a meu pai e a minha mãe que estou com saudades.

As despesas com telefone diminuíram. As ligações a cobrar foram reduzidas em quantidade e era uma alegria receber noticiais da terra. O curioso era que as noticias eram compartilhadas e todos ao redor ouviam as noticias de cada um, e embora as notícias não fossem sigilosas, não havia temor em estar sendo gravado. Não havia Eduward Snowden. No Final, o tradicional: câmbio. Desligo.  VC260114

 


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