Cardápio pronto

Jeremias Macário

Jeremias Macário

A questão, meu camarada, é seguir o cardápio do politicamente correto e nada de sair por aí expressando sua própria opinião. Tem que acompanhar o consenso geral, senão você está ferrado! Condenar a corrupção já é visto como de “direita”. Ser contra as cotas universitárias e políticas é racismo. Contra casamentos gays, nem falar! Além de ser taxado de homofóbico, você corre o risco de ser linchado.

É isso aí! O rei fala; faz suas alianças com o diabo e os súditos escutam calados. Descumprir as regras do cardápio e ser politicamente incorreto é crime de lesa pátria. Nada de sair por aí criticando e falando o que não deve, sem antes observar as normas de conduta, ou sem ler a cartilha do poder. Viva a mediocracia e abaixo a meritocracia! Você quer ser execrado e excluído do processo? Então é só fazer sua escolha fora dos padrões recomendados.

O monstro de quatro cabeças é quem manda e nem está aí ligando para manifestações de ruas. Nada de reformas eleitorais, mais educação, mais leitos nos hospitais e mais segurança pública. Nem imaginar em corte de mordomias! Não se irrite, camarada, porque vamos ter Copa do Mundo e logo depois vem o voto para alegria de todos e dever de cidadania! Não é circo que querem?
Tudo isso não passa de uma lavagem cerebral coletiva onde imperam a patrulha e o medo de ser recriminado. A impressão que se tem nesse país é que estamos a todo tempo sendo vigiados, passo a passo. As câmaras estão de olho! Você está sendo filmado! Para não seguir esse cardápio pronto é preciso ter coragem e personalidade de pensamento, mesmo correndo o risco de ser rejeitado e apedrejado.

É, mas diante de tanto deboche, a coisa está ficando feia. O Palácio de Versailles pode ruir e a Bastilha ser depredada. Aliás, a panela pode até ser de pressão, mas se forçar muito ela pode estourar. Estava previsto o que vem ocorrendo e o maior culpado é o monstro de quatro cabeças que há muitos anos promete, engana, enrola e desinforma.

Uma pesquisa séria de uma universidade detectou que os chamados “vândalos” que quebram bancos, metrôs e equipamentos públicos são consequência direta da ausência do Estado que vem perdurando por muito tempo. Sabe daquela história do cara desesperado que entra numa repartição pública ou num hospital destruindo tudo pela frente porque já chegou ao seu limite de tolerância e conformismo?

Há séculos o povo brasileiro é classificado aqui e no exterior como conformista que nunca se indigna com os abusos do poder, com os absurdos, com a corrupção descarada, com a ladroagem escancarada, com os paradoxos, com as desigualdades, com as injustiças, com a falta de educação e saúde, com o cinismo e com as mentiras de que tudo vai muito bem.

Estamos cansados desse cardápio onde o filé mignon, a lagosta, o camarão e o caviar são servidos pra eles, enquanto a maioria fica com músculo, acém, farofa, arroz e feijão. Podem falar por aí que isso é incitação, mas, a verdade é que está na hora do povo marchar; exigir seus legítimos direitos; e derrubar essa quadrilha de “malfeitores” que há décadas “gozam” e escarram em nossa cara.

Não é marchar apenas em “rolezinhos” de shoppings que visam a inclusão no desastrado e mortífero consumismo capitalista. Esse só faz mais encher os bolsos deles para mantê-los em seus confortáveis palacetes e mansões cercados por todos os lados de altos muros e dispositivos elétricos de última geração.

Como disse o compositor Geraldo Vandré lá pelos tempos da ditadura, “vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Chega de ser marcado como gado, e de nos fazer de coitadinhos, dizendo, na “santa ignorância”, que é Deus que quer, ou tenha fé e esperança. Não pode cada um ficar defendendo sua própria pátria e fingir que nada está havendo de errado. Basta de tanta hipocrisia e falsidade!


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