Carnaval de Vitória da Conquista se expressa como espaço de resistência

Elinaldo Leal

Embora seja uma festa de origem europeia, criada na Grécia Antiga para agradecer aos deuses pela fertilidade do solo e pela boa colheita, o carnaval tornou-se, na contemporaneidade, uma expressão cultural universal. No Brasil, foi introduzido pelos  portugueses ainda no período da colonial. Em Vitória da Conquista essa expressão popular já habitava o imaginário coletivo antes mesmo da sua emancipação política. Portanto, estamos diante de uma instituição milenar que perpassa continentes, ideologias, governos e classes sociais. No nosso país, além de ser um espaço de expressão cultural, passa a ser, também, um espaço de resistência e de diversidade social. O exemplo disso são as misturas de ritmos, gêneros, cores e reivindicações sociais e políticas.

O Carnaval Cultural de Vitória da Conquista também se manifesta como espaço de resistência, visto que contrariou as avaliações de parte do segmento de produtores culturais e dos dirigentes políticos que declaravam o fim do carnaval na nossa cidade. Mas, a inspiração nos antigos carnavais de marchinhas, nos quais a criatividade, a irreverência e o humor eram as credenciais para a alegria, fez ressurgir o carnaval, livre das cordas, dos abadás e dos camarotes. Ele renasce como um espaço do, com e para o folião, dado que, em tempos de pertencimento, participação, engajamento, transparência e controle social a mercantilização dessa expressão cultural, na sociedade contemporânea, perde seu sentido. A expressão de ordem é: faça você mesmo. Forme seu bloco, crie sua fantasia, faça sua maquiagem, ocupe as ruas, as praças, as avenidas e externe sua alegria, reivindicação ou protesto.

Isso significa que somos capazes de construir o nosso próprio carnaval. Nada de replicar modelos, quer seja de Veneza, Rio de Janeiro ou Salvador. Cada cidade é única, cada cidade tem sua história e sua folia. Afinal, é carnaval cidade, acorda para ver. Nesse sentido, parabenizo os organizadores e foliões dos blocos: Fita Amarela, Salsa Club, Grito do Rock, Omolú Asé, Curtaki e Na Farofa pela iniciativa de captar e viabilizar o verdadeiro espírito do carnaval. Porém, lamento o fato do governo local, nos últimos anos, não ter contemplado em sua agenda oficial de eventos essa importante expressão cultural, comprometendo, com isso, a garantia de uma infraestrutura mais adequada para a realização do evento. Mas, mesmo sem iluminação, ornamentação, sinalização, serviço de saúde e segurança pública adequados, a festa carnavalesca da capital do Sudoeste da Bahia foi um sucesso, visto que tudo ocorreu de forma ordeira e pacífica. Parabéns Vitória da Conquista!

Elinaldo Leal
Professor da UESB