Menino curioso

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Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando às onze e trinta da manhã me dirigia para o trabalho de meu pai levando a marmita com o seu almoço, pois não almoçava em casa, tendo que trabalhar muito para dar conta de cinco filhos. O meu roteiro era seguir a rua das sete casas, atravessar a Caixeiros Viajantes( onde está o monumento ao índio) em que eu atravessa  tranquilamente, não havia sinaleiras e nem tantos carros.  Eu já almoçara e estava vestido com a farda da Escola Normal ( IEED), pois no retorno já era hora de ir para a escola.  Cruzava a praça e seguia pelo passeio do Cine Glória, hoje uma igreja. Antes de seguir olhava os cartazes dos filmes anunciados e me encantava, esperando o domingo chegar para assistir ao filme de faroeste ali anunciado.

Cumprida a primeira parte da missão, seguia em frente, passava pela casa do elefante no jardim, vizinha ao cine glória e continuava a caminhada. Foi nesse momento que observei duas senhoras as quais caminhando vagarosamente, comentavam um caso ocorrido em  uma família que conheciam. O fato comentado era tão  interessante que eu mudei o passo. Comecei a caminhar devagar para ouvir aquela história, o que me surpreendeu é que  não era do meu hábito escutar o que não devia.

A história era empolgante. Uma mulher traia o seu marido e foi surpreendida por ele, na cama com seu amante e toda a cidade estava surpresa. O amante era deficiente visual e saiu correndo, sem nada enxergar e chegando à rua pôs-se a correr sem rumo e sem direção.  O homem, completamente cego, corria e gritava que esta sendo atacado por um pistoleiro. ninguém conseguia entender o que acontecia. O pobre do cego tropeçou em um cachorro que saiu gritando.

Nesta altura da história, seguindo eu  sempre devagar atrás das senhoras, já tínhamos passado pela sinfonia móveis e pelo quitandinha que ficavam no lado oposto da rua, foi quando as duas senhoras perceberam a minha presença e olhavam para mim meio desconfiadas e eu entendi tudo, mas o assunto era interessante e eu não queria perder.

Foi naquele instante que as duas senhoras pararam e olharam para mim. Eram bem elegantes, usavam colares e sapatos com saltos bem altos. Vestiam roupas adequadas para  idade, com vestidos de seda estampada e um ligeiro decote. Demonstravam bom gosto, pois eram discretas.  Perguntaram: garoto você está interessado na conversa? aproxime-se para ouvir melhor.

Confesso que gelei, mas percebi que estava na esquina da Francisco  Santos com a Travessa Adriano Bernardes, na esquina, onde funcionava o consultório de Dr. Luiz Barreto. Um casarão de certo modo imponente  que dominava a paisagem. Entrei naquela esquina e segui sem ouvir o resto da conversa e por isso não sei o final desse episódio tragicômico. Alguém  sabe? VC.080314.


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