O crime de racismo em pleno século XXI

Carlos Costa

Carlos Costa

Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito!  Albert Einstein

Já estamos na metade da segunda década do século vinte e um e infelizmente o racismo continua numa crescente que tem espantado os estudiosos das relações humanas e seus comportamentos. O racismo está se espalhando como um estopim pelos estádios de futebol de todos os países do mundo. Mesmo em países que já sofreram com problemas étnicos como a Polônia, Rússia, Eslovênia, Croácia, Espanha, França e Ucrânia, constantemente jogadores de descendências africanas e latinas são vítimas de insultos por causa da cor das suas peles e suas origens. O racismo é crime hediondo e deve ser combatido como o pior mal dos nossos dias. A descriminação de cor, gênero, região ou raça não deve ser encarada como uma atitude ingênua e inofensiva. Somente quem já foi vítima de descriminação sabe equilatar o quanto ela é perniciosa ao ponto de causar grandes lacunas nos relacionamentos interpessoais. Vale ressaltar que o racismo não é um fenômeno cultural e nem é esporádico.

O ano de 2014 começou com vários casos de racismos que indignou a todos nós. O jogador do Cruzeiro Tinga foi vítima de preconceito racial quando disputava uma partida válida pela Libertadores das Américas no Peru. Os torcedores do time adversário faziam gestos e sons similares aos dos macacos sempre que o jogador pegava na bola. Conheci Tinga ainda menino quando morei no Rio Grande do Sul e posso afirmar que o mesmo é uma pessoa honrada, educadíssima, muito inteligente e desprovido de qualquer preconceito. O preconceito contra Tinga ecoou fortemente em todos nós brasileiros ao ponto de personalidades como a Presidente Dilma Rousseff, políticos de diversos partidos, intelectuais e artistas terem manifestado indignação contra tamanha barbárie.

Lamentavelmente, o racismo se fez presente também nos estádios brasileiros nos últimos dias.  Na última quinta-feira, num jogo realizado no estádio da cidade de Mogi – mirim, o volante Arouca, atleta do Santos Futebol Clube, foi vítima de racismo e teve que ouvir torcedores do time adversário chamá-lo de macaco e negro safado. Em campo ele deu uma resposta espetacular: marcou um belíssimo gol de voleio. Ainda na semana passada, em Bento Gonçalves, o árbitro Márcio Chagas da Silva teve seu carro danificado e foi chamado de macaco e escória humana. Se não bastassem os insultos, os torcedores jogaram diversas bananas no seu carro. Sobre esses incidentes a Presidente Dilma disse que o futebol foi manchado por racismo. Ela disse estar indignada com o preconceito racial sofrido por Arouca, Tinga e Márcio Chagas da Silva.

No dia 4 de março, ultima terça-feira, a equipe de futebol feminino de São Francisco do Conde, numa partida pela Copa do Brasil Feminina, jogando em Araraquara contra a Ferroviária, foi vítima de racismo e descriminação. As jogadoras do São Francisco ouviram insultos do tipo: “nordestino tem que ser exterminado!”, “porcos”, “pobres miseráveis”, “negras safadas”, etc. As agressões foram além das verbais. Cerca de quarenta torcedores do time araraquarense agrediram a delegação de São Francisco do Conde com sapatos, laranjas e garrafas de água. Uma bateria de celular foi arremessada e atingiu o rosto do Mário Augusto, técnico do time baiano. O Presidente da Federação Ednaldo Rodrigues repudiou o comportamento do grupo de torcedores além de ter notificado a CBF e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).  A esperança é que a CBF e o STJD possam punir exemplarmente a Ferroviária, com perda dos pontos do jogo e até que seja suspensa da Copa do Brasil deste ano e dos subsequentes. “O futebol precisa de raça e não de racistas!”

Infelizmente, o racismo não está restrito aos estádios de futebol. Constantemente pessoas são vítimas de descriminação e racismo por causa da cor da sua pele, por causa da sua confissão religiosa ou falta dela, por causa da sua origem e por causa da sua sexualidade. O preconceito flutua por todas as camadas e classes sociais. Muitas brincadeiras tidas como de mau gosto apenas camuflam atitudes preconceituosas. São formas veladas de preconceito quando dizemos que determinado fulano é violento porque nasceu em certa região; quando dizemos que certa pessoa é menos inteligente porque nasceu nesta ou naquela região; quando no sul e sudeste do Brasil uma ação errada e taxada como “baianada”, etc. O racismo é um crime inafiançável e imprescritível: Art. 5º, XLII da Constituição Federal.

O grande líder americano e defensor de uma sociedade americana igualitária, Rev. Martin Luther King disse que tinha um sonho. O seu sonho era ver os seus filhos julgados por personalidade e não pela cor de sua pele. Infelizmente, apesar da sua luta, ele morreu sem ver o seu sonho concretizado! O racismo não é fruto da ignorância. Todo racista sabe que suas concepções estão à margem da verdade e é um pré conceito, apenas um conceito antecipado. O grande poeta chileno Pablo Neruda foi muito feliz quando combateu o racismo com a seguinte frase: a sombra é sempre negra, nem que seja de um cisne branco!  As práticas de racismo e descriminação são inerentes ao ser humano. Devemos compreender que existe apenas uma raça, a humana e que as diferenças devem nos unir e não nos separar! O termo HOMEM vem do latim homo, de húmus, solo, terra. Húmus significa matéria orgânica em decomposição, rica em elementos nutritivos para as plantas, de modo que, em sentido figurado, o gênero humano é fruto da própria terra, fonte de vida. Por isso o termo latino humilis era o homem que se inclinava para a terra, daí vêm as palavras humildade e humilhar. O racismo é a total falta de humildade, de humanidade e de discernimento! É um ódio irracional baseado na aversão a outras raças, credos e religiões.  É obrigação de todos nós a luta sem trégua para que esse mal seja extirpado do nosso convívio. Devemos viver sem fazer acepção das pessoas por causa da sua cor, raça, gênero, classe social ou escolha sexual. Que o racismo e toda forma de descriminação possam ser banidos para sempre da nossa sociedade!


Uma Resposta para “O crime de racismo em pleno século XXI”

  1. Lord Marcos

    Não tenho nem o que comentar depois de tudo que disse Carlos Costa, Somente assinar embaixo e passar pra frente, Para que abra a mente dessas pessoas sem noção.

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