Jeremias Macário
Confesso que não entendi muito bem esse movimento dos comerciantes da Avenida Brumado e adjacências do bairro Brasil contra o sistema binário implantado pela Prefeitura Municipal, no sentido de desafogar o tráfego e permitir o uso de bicicletas com maior segurança através das ciclofaixas.
Aliás, a via de mão única nas avenidas Brumado, Maranhão e Pará tardou a chegar. O ordenamento era um clamor antigo da população. Antes se criticava a bagunça que era a Avenida Brumado, com estacionamentos de veículos nas duas faixas e nos passeios, dificultando a circulação de motoristas e pedestres.
Agora os lojistas fazem coro contra a medida que alivia o trânsito, alegando que o comércio caiu porque os carros não podem mais parar em frente de seus estabelecimentos. Então, vamos voltar à bagunça de antes, com trânsito engarrafado, confuso e perigoso? Assim é melhor!
Imagine a grita que será no dia que um prefeito resolver mudar aquele terminal sujo e fedorento da Lauro de Freitas para outro local mais espaçoso fora do centro! Não seria mais confortável e renderia mais para o comércio urbanizar aquela área da cidade? Acontece que nos acostumamos e nos acomodamos com aquela imagem que, por sinal, não é nada boa para uma cidade do porte de Conquista.
A cultura do individualismo e do comodismo está tão arraigada em nossa gente brasileira que as pessoas reagem negativamente diante de qualquer mudança que fira interesses particulares. Infelizmente ainda somos aquele povo onde cada um procura defendera sua pátria, e não a pátria como nação. Cada categoria aqui levanta sua bandeira em detrimento do coletivo.
Essa faceta está bem estampada na política onde o Congresso lobista é dividido em bancadas isoladas, como dos evangélicos, dos ruralistas, dos financistas, dos sindicatos e até do tráfico, mas não existe a bancada do povo ou a bancada da nação. É por essas e outras que as manifestações de junho passado não foram ouvidas.
Voltando à questão do sistema binário do bairro Brasil, em Vitória da Conquista, todos deveriam se adequar aos ajustes para que o trânsito flua, beneficiando, principalmente, os dependentes do transporte público que já sofrem horrores e apertos nesses ônibus.
Com mais de 100 mil veículos rodando nas ruas de Conquista, entendo que estas mudanças no tráfego são paliativas. A terceira maior cidade da Bahia carece de grandes projetos de infraestrutura com visão de futuro. Conquista tem que ser pensada como cidade grande e não como Barra do Choça, Anagé ou Belo Campo.
Mesmo com estas interferências, os gargalos continuam nas principais vias, especialmente no centro. A situação fica mais grave diante da precária fiscalização para multar os infratores que estacionam em qualquer lugar e invadem semáforos, principalmente motoqueiros, a maioria sem carteira e documentos.
Falando particularmente de Conquista, criou-se aqui o hábito de cada empresa, órgão ou entidade reservar seu espaço ou espaços para estacionarem seus carros, como se fossem donos do pedaço. Muitas lojas de veículos aqui em Conquista invadem ruas onde seus proprietários realizam ali mesmo seus negócios.
A formação é a base, mas a falta de educação em nosso território é o que mais gera individualismo e comodismo. O sujeito pode ter nível universitário e continuar maleducado e egoísta. Ter educação não significa ter mestrado, doutorado e ser campeão de títulos acadêmicos. Desde os tempos coloniais, o brasileiro só se corrige e respeita o outro se for à base do rigor e da disciplina. É lamentável, mas é fato.
Por isso é que, aliado à falta de estrutura (fiscalização e vias alternativas), nosso trânsito continua caótico, piorando ainda quando se estaciona em fila dupla em pleno centro da cidade, como na Otávio Santos e na Siqueira Campos.
O motorista maleducado para na rua e liga o sinal de alerta como se esta atitude deplorável lhe credencie a infringir a lei de trânsito. A Avenida Frei benjamim, por exemplo, é tomada por carros estacionados nas duas faixas. É bom lembrar que em Salvador o prefeito está requalificando o trânsito nos bairros, rebocando os carros dos passeios e locais proibidos, sem reações contrárias do comércio.
5 Respostas para “Só queria entender”
Augusto Brito
Parabéns pelo o elogio e pela ideia acertadamente da Prefeitura.
Achille Camcelare
Parabéns , Sr. Macário! Até que enfim, uma pessoa de boa visão, como o Sr. , publica uma crônica tão louvável como essa. Infelizmente, são poucas as pessoas que possuem esse nível de percepção.
Cássia
A sua crônica é bem significativa, principalmente quando remete ao egoísmo e má- educação da população, muitos só pensão no próprio umbigo, sem se preocupar com os menos favorecidos, como é o caso dos ciclistas que precisam transitar na quela via para trabalhar, várias vezes vi reclamações sobre a necessidade desta medida devido aos acidentes e mortes de ciclistas na Brumado, mas realmente as pessoas estão acomodadas e não querem melhorias para a nação é sim privilégios para alguns.
Gustavo Sans
Resumiu bem o cenário do caótico trânsito da terceira maior cidade do estado. lamentável, mas é fato.
Paulo
Parabéns Sr. Jeremias Macário pela crônica, parabéns a Prefeitura de Vitória da Conquista pela obra. Temos que fazer críticas construtivas quando necessário e temos que elogiar nos acertos.