Jorge Maia
A literatura e a vida real estão cheios e exemplos de paixões amorosas, algumas chegando ao exagero negativo da escola romântica que adoeceu a alma nacional. Bom, de qualquer modo tudo isso é bem antigo e poderíamos tomar como ponto de partida o Livro de Gênesis, relembrando de Jacó e Raquel.
Jacó serviu Labão por sete anos para que tivesse direito a casar com Raquel. mas Labão entregou para o casamento a sua filha Lia, pois não queria ficar com a filha mais velha encalhada em casa. Jacó trabalhou mais sete anos para casar-se com Raquel. Ficou com a s duas, mas o preço foi para casar-se com Raquel.
Foram catorze anos de trabalho, que, calculado em base um salário mínimo, corresponde a uma fortuna em tempos de hoje, acrescido de: férias com um terço. 13° e FGTS. Podemos imaginar a que Jacó renunciou em dinheiro para ter a sua amada. Claro, nenhum ser humano tem preço, exceção feita àqueles que se vendem e que não são poucos.
Fico a pensar: se fosse exigível, hoje, que o noivo deveria trabalhar sete anos para o seu sogro para que pudesse casar com a filha que ele pretendente apontasse, certamente não teríamos casamentos. O mundo mudou profundamente e estabelecemos preços para tudo que é consumível e o ser humano barateou tanto, que aqueles que se vendem estão sem mercado, pois a oferta é maior que a procura.
Já não é preciso mais trabalhar para o pai da noiva, nem pedir por meio de carta a mão da mulher amada, nem pedir a intervenção de terceiro para convencer o pai fera, a permitir o namora ou casamento. As pessoas se conhecem na rede, não as do Ceará, e se casam sem história de vida e sem partilhar os dramas inter-familiares que anunciam os problemas e as qualidades que enriquecem a vida.
Hoje, os jovens ficam, e às vezes ficam muito pouco, e fazem isso como se fosse uma novidade, como se tivessem inventado esse tipo de relacionamento. Ora, isso é antigo. Em 1821, Dom Pedro I já dizia que ficava. E ficava mesmo, basta lembrar da Marquesa de Santos, das mucamas e tantas outras. Enfim, ficava com todas com quem pudesse ficar.
O tempo transforma os modos e o jeito de ser dos amores, paixões e namoros. Conteúdo e forma se revezam ao longo da existência e em cada tempo paga-se o preço que for inventado. Na verdade, eu não poderia ser original falando de tudo isso, afinal, não há nada de novo debaixo do sol. VC290314