Fazer uma análise sobre o golpe de 64 nunca é fácil, devido as consequências nefastas daquele momento histórico. E que fique claro, trata-se de um golpe e não revolução, que roubou a liberdade, vidas e os sonhos de milhares de cidadãos brasileiros, além de retardar o surgimento de lideranças que poderiam mover o Brasil nos trilhos do progresso com inclusão social. O desenvolvimento do “país do futuro” foi arrancado por um regime ditatorial corrupto e que só em Vitória da Conquista cerceou a liberdade de 35 pessoas, com destaque para os casos de Ruy Medeiros e o ex-vereador Péricles Gusmão, Camilo de Jesus Lima, Everardo de Castro, Vicente Quadros dentre outros
No evangelho de São João a uma passagem que diz: “Queiram a verdade, porque a verdade vos tornará livres”, é desta verdade eu me tornei um perseguidor incansável. A luta para a elucidação da verdade sobre o regime militar se dá, sobretudo, por uma convicção ideológica que ela deve ser exposta, porque liberta e faz justiça a memória daqueles que lutaram pela Democracia.
Com Jango, antes do golpe, finalmente parecia que o nosso “país do futuro” se tornaria uma nação onde os sonhos da democracia, liberdade, direitos civis e justiça social seriam realizados. Porém veio o Golpe, e mais do que obstruir os avanços sociais em curso, os militares demonstraram ter apego ao poder.
As reformas de base se concretizadas a época, com avanços na educação, infraestrutura, reforma agrária, transportes, economia e reforma urbana, colocariam a população brasileira em uma situação mais confortável nos dias de hoje. Pelo contrário, o país foi mergulhado nas trevas por longos 21 anos.
As forças reacionárias, apoiadas pela mídia burguesa, não aceitavam o caráter progressista do Governo Jango. O regime adotou a tortura como política de Estado, executada por agentes públicos, interrompendo a vida e esperanças de centenas de jovens e militantes que sonhavam com um país mais justo e com menos desigualdades.
O cinquentenário do Golpe nos traz reflexões. Devemos celebrar este ciclo que representa o maior período de democracia e liberdades de nossa história, ao tempo que devemos repudiar as crescentes tentativas de devolver o Brasil às trevas, propagadas nas manifestações pela volta do regime militar. Por entender a importância de celebrar a democracia, apresentei um projeto na Câmara de Vereadores que proíbe que ruas, praças e prédios públicos tenham nomes de torturadores e assassinos que cometeram crimes contra humanidade.
Aqui em Vitória da Conquista não foi diferente. Durante o período da ditadura, a Câmara municipal chegou a homenagear o golpe, aprovando moções de aplausos e cassando mandatos de vereadores e até mesmo o de prefeito. Na ocasião as dependências da câmara foram tomada por soldados do exército, comandada pelo Capitão Bendoc Alves Filho, obrigando os vereadores a cassarem o prefeito. Já Rui Medeiros foi preso e torturado graças à sua participação em movimentos de resistência ao regime. A primeira prisão ocorreu em 1968, quando protestava em defesa da liberdade dos líderes estudantis, presos pelos militares por causa da realização do Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Ibiúna. No mesmo período, viu aberto contra si um Inquérito Policial Militar, instaurado no Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS, por panfletagem em uma greve de professores num curso básico em Salvador.
Portanto é chegada a hora de reparar esses erros, como o da versão oficial apresentada pelos militares segundo a qual o ex-vereador de Vitória da Conquista, Péricles Gusmão Régis, teria cometido suicídio nas dependências do Nono Batalhão da Polícia Militar no ano de 1964 é fortemente combatida pela família, e nesse sentido a Comissão da Verdade têm realizado esforços, com rigor na apuração dos fatos para que possamos de fato nos redimir perante a memória daqueles que lutaram pelo ciclo de democracia que vivemos nos dias de hoje.
Uma Resposta para “O golpe de 64 e a opção pela verdade”
Himilcon de Azevedo
Esqueceu-se de mencionar Pedral, prefeito à época e cassado naquela oportunidade, em seguida, levado para Salvador, onde foi mantido preso. Certamente, a mais expressiva liderança daquela época, liderança que teve continuidade décadas a fio.