Administrações Beócias – Segunda parte

Jorge Maia

Jorge Maia

Ao fim da leitura do primeiro relatório, publicado na semana passada, fez-se intervalo e foi servido o jantar. A perplexidade era a tônica dos comentários e haviam os mais exaltados pregando a revolução com aplicação de severa punição aos corruptos. A conversa corria solta e os temas eram variados. Alguém informou que Dr. Francis chegara da Noruega, esta em período de férias e que possivelmente apareceria por ali, pois sempre desejou conhecer a Beócia. Na varanda outra pessoa falava sobre a Insustentável Leveza do Ser, do eterno conflito da liberdade e da opressão, concluindo que ” tudo que é solido se desmancha no ar”. Podemos afirmar que o papo era agradável. Bem cativante. Fernandão que chegou naquele momento, aproximou-se de um grupo que discutia qual era a série era melhor: Braking bad ou Família Soprano, sempre defendendo o segundo, particularmente penso que são bem diferentes não cabendo comparação.

A noite avançava quando Hamlet de La Mancha recomeçou a reunião, anunciando que o próximo relatório trataria de aspectos relacionados com o Legislativo da Beócia e cujo documento seria lido por Inocêncio Justos, que de imediato começou: O legislativo da Beócia resolveu contratar um advogado para auxiliar os vereadores nos trabalhos do dia a dia, em assuntos pertinentes aos aspectos jurídicos dos seu trabalhos. Não havia possibilidade de fazer concurso de imediato e resolveram contratar pelo REDA um profissional da área.

Convidaram alguém que é filho do município, ou seja valorizando a prata da casa. Assinado o contrato, o rapaz passou a emitir os seus pareceres e a opinar quanto às diversa consultas que lhe eram apresentadas. Enfim, tudo dentro dos padrões esperados.
Em fevereiro, o Presidente do Legislativo convocou o rapaz ao seu gabinete e informou que ele deveria devolver o salário recebido no mês de janeiro pois, sendo período de recesso, não houve trabalho, então, não deveria receber pagamento. O advogado tentou explicar que não era bem assim, mas nada convenceu o Presidente de que ele esta errado.

Por fim o Sr. Vereador, encontrando uma solução, disse: façamos o seguinte, para compensar o salário do mês do recesso, sem trabalho, você vai permitir que meu gado permaneça um mês na pastagem da sua fazenda e estamos quites. O advogado perdeu a voz e não teve como responder àquela proposta.

Já passava de uma da manhã. Foi servido um suco de melancia com gengibre, de excelente qualidade, importado de Aracatu,. Ao longe, o urro de uma sussuarana rompia a madrugada fria. Em outros tempos, na colonização da região, o velho Felinto Maia sairia com seu alforje de caçador e enfrentaria a fera. Não sabia ele que no futuro as feras a serem enfrentadas seriam outras.VC120414


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