Coisa de louco

 

Jorge Maia

Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando ouvi a história narrada por Enésio. Para quem não se lembra ou não sabe, Enésio era engraxate e tinha a sua cadeira ali na esquina da praça Monsenhor Olímpio,  no passeio da loja da COOPMAC, no prédio de José Rodrigues, e que fica em frente ao chamado “Bigode de Pedral. Antes era um posto Shell, de José Rodrigues, e cumpria o seu  papel de posto de gasolina no meio da praça, como  é comum nas pequenas cidades. Depois, desapropriado, construiu-se um pequeno jardim elevado, na ocasião as escavações fizeram aparecer  uma ossada que na época atribuíram a um antigo cemitério indígena, apenas especulações. Hoje, o nosso viaduto.

Em uma manhã de verão, quando o sol aparecia prometendo um dia bonito, Enésio; “o engraxate da família conquistense, era o seu slogan, sentado em sua cadeira, olhando para o outro lado da rua, onde hoje funciona um grande magazine, avistou certa pessoa, e, surpreso por aquela presença, gritou o seu nome, no que foi atendido com a pessoa vindo em sua direção e cumprimentaram-se efusivamente, pois eram de certo modo, amigos.

Enésio, Neso, para os amigos, sabia que aquele cidadão estava doente e que tinha sido internado no Afrânio Peixoto, hospital psiquiátrico da nossa cidade. Estava curioso por saber da vida do amigo e perguntou como estava, o que fazia da vida. Essas coisas que servem para iniciar uma conversa, no que ficou surpreso, pois as respostas eram perfeitas e com muita razoabilidade, demonstrando muita sanidade.

Às suas perguntas, respondeu: que estava bem, mas estivera doente e internado. Chegou a afirmar que ficara louco e que foi preciso usar camisa de força para ser conduzido para o seu internamento, admitindo a sua loucura, o que era salutar, pois os loucos nunca admitem que sejam loucos, ou que estiveram loucos, é o que diz o conhecimento popular, pensou Enésio.

As  informações eram precisas, sobre pessoas, coisas e fatos. Em nenhum momento aquele homem deixou transparecer seu estado doentio e sua aparência era de plena normalidade, o que alegrara a Enésio, pois era bom saber que um amigo estava bem. Pelo menos é assim que pensam todos que desejam o bem estar dos amigos.

Depois de risos e conversas o cidadão resolver despedir-se e confessou a sua pressa, alegou a necessidade ir ao cartório do registro civil “tirar” uma segunda via do seu registro de nascimento, pois naquele dia ia para Brasília registrar a sua candidatura para presidente da República. Enésio aceitou a despedida e ficou pensativo, entendendo que o seu amigo não estava bem.

Não sei o nome daquele cidadão. às vezes fico pensando se não foi ele um desses loucos que foi presidente do Brasil, ou quem sabe se ele tivesse sido eleito este País não estaria melhor? O certo que por outras informações eu soube que era um cidadão de bem, tão de bem, que enlouquecera. VC.030514

 


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