Jorge Maia
Eu era menino, e não faz muito tempo, e acostumava ouvir uma série de ritmos musicais das mais diversas fontes, de modo que tenho um gosto variado, que vai dos Beatles a Cascatinha e Inhana. Ouvia a Rádio Clube, a Radio Bandeirantes com Hélio Ribeiro, a Rádio Jovem Pan com BIG Boy, Aroldo de Andrade da Globo, pela manhã. Algumas vezes ouvi a narração de futebol de Fiori Gigliotti: abrem-se as cortinas, começa o espetáculo torcida brasileira, era a copa do mundo, pela rádio bandeirantes.
Durante o dia isso era ouvido pelas ondas de um rádio muito antigo, certamente produzido na época da segunda guerra mundial e que meu pai adquirira sob a informação de que aquele aparelho pertencera ao Coronel Marcolino Moura, de Brumado, um dos poucos que possui aparelho de rádio naquela região e que durante o dia informava ao público em geral, o que ouvia na BBC durante à noite.Era a única fonte de noticias para toda aquela região.
Hoje, basta ligar a internet e o mundo está dentro da nossa casa, em tempo real. Se ligarmos o televisor assistiremos entediados as diversas guerras do momento e vemos mortos e sangue, enquanto tomamos uma sopa. O mundo é digital, mas a vida é analógica e não nos permite examinar a realidade com a velocidade em que as transformações ocorrem.
Conquista, na década de sessenta possuía serviço de alto falante, sua localização era na Praça da Bandeira, onde eu trabalhava e habituei-me a ouvir ” A Voz de Conquista” das dez ao meio dia e das dezesseis às dezoito, tendo na locução Geraldo Mangangá, assim conhecido pelo vozeirão grave. Por meio dos seus programas tínhamos notícias e músicas.
Em me lembro do programa do final da tarde: a hora da saudade, quando ouvíamos, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Luiz Gonzaga e tantos outros de quem aprendi a gostar. Eu era um garoto que amava os Beatles e os antigos cantores brasileiros.
A tarde já estava a cair quando Geraldo anunciava o inicio da “hora da saudade” com a fatal apresentação de Augusto Calheiro: ” Cai a tarde tristonha, serena, em macio e suave langor…” Na verdade eu sempre achei a voz de Augusto Calheiro muito diferente, mas a música é de uma tristeza que nos leva a melancolia.
A Ave Maria de Calheiro era o sinal de que o dia estava acabando. Era hora de fechar o comércio. Em seguida íamos em direção à Praça Barão do Rio Branco, quando ainda ouvíamos os últimos acordes daquela música e a despedida de Geraldo Mangangá. Tomávamos o taxi de ” Seu Dagmar” e voltávamos para casa. Era um tempo simples e as coisas e fatos eram mais permanentes.VC310514
2 Respostas para “A voz de Conquista”
Vicente
Mermão, estava pensando naquele alto-falante e, surpresa, vejo sua coluna. Estou longe de Conquista, mas o chorinho “Branca”, de Zequinha de Abreu, não sai de minha cabeça, da minha lembrança. Valeu, cara!
Vicente
Jorge, tenho boa memória, mas não consigo lembrar-me de você. Temos a mesma idade (parece), mesmo gosto musical. Ah, o cheiro da memória gruda que nem perfume.