Eu era menino, e não faz muito tempo, e em uma daquelas matines do Cine Ritz assisti ao filme: O homem que sabia demais. Foi ali que conheci Hitchcock , Doris Day e James Stewart. O filme é de suspense e para a época podemos dizer que era também um filme de ação, muito bom e sem qualquer efeito especial. Confesso que já o assisti muitas vezes. Não permita Deus que eu morra sem assisti-lo outras tantas vezes.
Havia algo especial, era a música do filme, que é como chamávamos a trilha sonora. Um canção adocicada que Doris Day se recusara, inicialmente, a gravar, justamente por ser adocicada, mas que terminou ganhando o Oscar do ano a que concorrera pela Academia de Cinema.
Também acho a canção adocicada, mas não melosa. O tema da canção é sobre uma menina que pergunta a sua mãe o que ela será quando crescer: serei bonita. serei rica? E outras questões às quais sua mãe responde que: o que será, será.
Quando a menina se casa e tem filhos, estes também perguntam sobre os mesmos temas e ela, agora, mãe, responde: o que será, será. Estas questões se repetem a cada geração. A vontade de saber como será o futuro e como será a nossa vida é algo que pertence a todos nós. A ânsia de conhecer antecipadamente os rumos. Ás vezes ouvimos tantas histórias que aconteceram com os outros e pensamos que não teremos histórias para contar, isto é apenas uma parte da história da cada um.
As surpresas vão se sucedendo, em alguns momentos engrandecendo a nossa alma, em outros amesquinhado-a. As decepções por tudo que foi, quando queríamos saber o que seria, e não foi o que queríamos, mas apenas foi o que foi, quando a canção dizia , o que será, será.
Hoje, já não mais criança, olho para trás e vejo uma porção muito grande de passado e talvez a canção seja: o que foi, foi. O futuro torna-se pequeno e algumas pessoas, não mais jovens, já não perguntam mais o que será. Limitam-se a falar do passado e esquecem que a vida prossegue sempre e com várias possibilidades.
Em alguns momentos surpreendo-me cantando a minha versão masculina daquela música ” When I was just a little boy, I asked my …” . Recordo-me de Doris Day com voz e expressão angelical cantando aquela expressão em português: que será, será. Sigo em frente. Embora pense que o meu futuro tenha dimensão menor que o passado, sôbre ele pergunto sempre: que será? Será? VC210614
2 Respostas para “Que será, será”
Ana Isabel Rocha Macedo
“O Homem que Sabia Demais”. De fato, Jorge, muito bom filme.
Embora o meu “o que foi, foi” já seja muito muito mais extenso do que aquilo que há de vir, ainda ouso esperar, sonhar e fazer acontecer um futuro de SOL e de SAL (luz e sabor), sem muita sombra e nada insosso.
Abraço, Jorge! E parabéns!
Jorge Maia
Ana Isabel, quanta honra. Receber um cometário seu leva-me a crer que terei ainda muito por que perguntar: que sera? sera?