Taboca e quebra-queixo

Jorge Maia

Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando um som de triângulo despertava-me para outra realidade. Não falo do triangulo que acompanha a sanfona e a  zabumba do forró, mas daquele meio sem ritmo e que era acompanhado do grito anunciando taboca. Era o vendedor de taboca que em seu ting-ling- ling convidada a meninada a comprar taboca. Não creio que as crianças de hoje saibam sobre isto, porém uma taboca tinha o sabor doce queimado, pelo menos era assim que eu percebia,com leve sabor de chocolate. 

Mas,  hoje, todos  conhecem taboca, sem que saibam do seu nome e muitos a desprezam, não consomem, jogando-a na lixeira mais próxima. Taboca na verdade é a casquinha de sorvete, aquela de forma cônica na qual são colocadas as bolas de sorvete. Imagine, comprávamos sempre e consumíamos como se fosse um manjar.

O som do triângulo também anunciava o quebra-queixo, que ainda encontro nas feiras livres da nossa cidade. Taboca e quebra-queixo faziam a nossa festa e realizava o sonho de consumo da gente nossa idade, naquele tempo, pois agora o colesterol, a glicemia e o triglicérides tornaram-se fatores impeditivos para aquele consumo.

Eu me lembro que naquelas ocasiões, o comum   era correr para pegar algum trocado, ou se não o tinha, tentava ganhar de algum adulto, o que me permitia comprar o doce vendido sob a musicalidade triangular e o grito do vendedor. Às vezes faltava o dinheiro, em outras ocasiões faltava quem me desse o dinheiro, enquanto o som se perdia na distância e eu voltava a minha atividade preferida: brincar.

Aquele som se perdeu nas brumas do tempo e foi substituído por outros, eletrônicos, dos som dos carros com músicas de qualidade duvidosa, as quais somos obrigados a ouvir, o que parece uma penitência sem fim. Neste ano o barulho aumenta com os carros fazendo propaganda política, quando ouviremos tantas promessas irrealizáveis e tantos pedidos de votos que penso que vou escolher para votar  um candidato que não seja barulhento e que não prometa ao povo uma vida doce como taboca e quebra-queixo, mas sim que desperte o povo para o amargo sabor da realidade, que deve ser enfrentada a cada dia, sem temer, mas com a coragem confeitada com o doce sabor da esperança permeada de luta por dias melhores. VC050514


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