Muito se tem falado acerca da derrota fragorosa do time brasileiro para a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, sem considerar outros fatores muito mais profundos.
Apesar dos equívocos técnicos e táticos que levaram ao resultado, na prática esportiva é salutar saber lidar com as perdas e, mais que isso, algumas experiências desse tipo podem ser pedagógicas e até nos conduzir à maturidade.
Neste caso, todavia, não perdemos um jogo de futebol, mas despertamos da ilusão triunfalista que nos foi vendida pelo governo brasileiro, pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pelos patrocinadores do evento.
Ao custo de bilhões de reais do dinheiro público, dos quais boa parte se perdeu em desvios, corrupções, superfaturamentos e incompetências, prometeu-se a melhor de todas as copas. O mimetismo ainda comprometeu investimentos em áreas prioritárias como saúde, educação e segurança. Entretanto, poucos perceberam a grave violação da soberania nacional quando uma organização privada, a FIFA, passou a controlar desde os espaços esportivos até o calendário civil do país. Tal interferência causou sérios prejuízos a alguns setores da economia, tumultuou o calendário letivo de todo o sistema educacional brasileiro e obrigou os trabalhadores da construção civil a desempenharem jornadas extenuantes e perigosas para cumprir a contrapartida nacional nos contratos abusivos assinados com a federação sediada na Suíça.
Ainda assim, uma percepção distorcida da realidade apossou-se da sociedade brasileira convertida em um grande bloco verde-amarelo após a garantia de resultados esplendorosos como: a qualificação de pessoas para o turismo internacional, a ampliação de área de lazer para o público brasileiro e a conquista inédita do hexacampeonato mundial de futebol. Na prática, os improvisos deram lugar à organização efetiva do evento e tudo foi se acochambrando sem maiores transtornos, por outro lado, ainda não havia como demonstrar a subutilização das arenas milionárias construídas com os impostos arrecadados, no entanto, quando a equipe nacional foi humilhantemente goleada pelos estrangeiros a situação se modificou e sentiu-se o amargo preço da ilusão.
No meio de tantas coisas miúdas ditas sobre o assunto quem mais se destacou foi o zagueiro Davi Luiz, ao declarar, diante do vexame, que “só queria poder dar uma alegria para o povo, para a minha gente que sofre tanto”. Ele tem toda razão, afinal, foi essa a ilusão vendida ao povo brasileiro para camuflar os problemas sociais que vivemos. No entanto, quando a cortina de fumaça de desfez diante do resultado devastador nos demos conta que há muito mais mistérios entre o Mineirão e o Maracanã do que a nossa vã filosofia pode imaginar.
José Dias | Doutor em História Social