Opositores políticos ao governo Dilma Roussef se regozijam com a derrota e ainda mais com placar surpreendente da seleção anfitriã numa semifinal de uma Copa do Mundo, mas o que realmente está em jogo é o uso político do sucesso ou fracasso dos jogadores que vestem a amarelinha. A paixão do brasileiro pelo esporte é tão ou maior do que décadas atrás, porém o ambiente político, mesmo que ainda bastante contestado, é bem diferente e mais complexo do que no período onde os generais davam as cartas.
Desde os anos de 1920, o futebol brasileiro foi utilizado politicamente. Por exemplo, o presidente Arthur Bernardes concedeu uma fortuna para a CBD não levar jogadores negros ao Campeonato Sul-Americano, por causa de uma visão racista do governo. Em 1950, todas as candidaturas à presidência foram lançadas durante a Copa e não cansaram de se utilizar dos jogadores para fins políticos. É importante destacar que foi a partir do último governo de Getúlio Vargas que a associação de futebol e política passou a gerar uma exaltação nacionalista, embora as duas lógicas sejam totalmente distintas. Entretanto, foi durante a ditadura militar (1964/1985), principalmente ao longo da década de 1970, que ocorreu a maior tentativa de se obter ganhos políticos associando o futebol a uma ideologia nacionalista ditada pelo Estado. Durante os “Anos de Chumbo” a seleção brasileira foi militarizada e utilizada para atender os interesses políticos dos militares e das oligarquias estaduais. Havia agentes infiltrados na comissão técnica do “escrete canarinho”, sendo que chegamos a ter um militar como preparador físico, depois como técnico da seleção brasileira.
Agora estamos reaprendendo, quase que aprendendo, a viver em uma sociedade democrática. A sociedade brasileira é muito mais complexa do que as pessoas achavam. A política não se resume a PT e a PSDB, é muito mais ampla, e nem se resume só a processo eleitoral. Qualquer candidato que use a decepção do brasileiro com o resultado da Copa do Mundo pode dar um tiro no pé. Que vão utilizar de uma forma de outra, vão, porém deve ser de forma bem mais cautelosa.