Jorge Maia
Naquela tarde o voo foi cancelado e tive que retornar para o Hotel Beócia. Não foi a primeira vez que tive voos cancelados ali. Embora uma cidade muito grande e um fluxo de passageiros que justifica um novo aeroporto, a Beócia continua dando pouca importância ao seu potencial de crescimento e para isto falta um bom aeroporto.
Voltei para o hotel. A noite era fria e preferi ficar vendo televisão para conhecer a programação local. Permaneci no restaurante, vendo o programa eleitoral que iniciou naquele dia. Era dezenove horas, apareceu o primeiro candidato à presidência da República da Beócia. Em seguida os demais foram aparecendo sempre falando de saúde, segurança e educação. Todos tinham solução para esta tríade centenária que ninguém consegue resolver, era o que falavam as demais pessoas que assistiam ao programa, gente da terra. Permaneci calado, afinal, na condição de estrangeiro, não seria de bom tom manifestar-me sobre política. Nenhum candidato falou sobre a situação do Poder Judiciário.
Já passa de uma hora da manhã quando me dei conta que o horário político não havia terminado. Exclamei a minha estranheza sobre a duração do programa e fui informado que era assim mesmo. A Beócia tem trezentos e sessenta e cinco partidos. Cada partido tem um minuto de apresentação na televisão. Quando há coligação, os partidos transferem o seu minuto para o partido que tem o candidato à presidência. Eram cinco partidos com seus presidenciáveis, cada um dos partidos possuía 73 minutos do tempo da televisão.
Fiquei assustado e perguntei se não era demais tudo aquilo. Alguém respondeu que não. Outro confirmou que os países com poucos partidos são atrasado e citou como exemplo: Suécia, Suíça, Noruega, Dinamarca e Canadá, países com poucos partidos políticos. Acrescentou que a Beócia é um país de muita diversidade e que era preciso contemplar todos os seguimentos da sociedade. Mais uma vez bom senso recomendou-me permanecer em silêncio. Não deveria meter-me em política estrangeira.
Eu não queria perder a oportunidade de aprendizado e indaguei como ficava a situação do eleito, apoiado por tantos grupos políticos. Responderam-me que, em razão da coligação, cada partido teria um ministério, era a única forma de acomodar os apoiadores do candidato eleito.
O último representante a falar foi o do PQP – Partido Quer Poder- uma nova agremiação que surgira pouco tempo antes do prazo eleitoral e coligou para a eleição majoritária em troca um ministério, ou seja, mais um partido de aluguel, e provavelmente seria o Ministério da Saúde.
Retirei-me silencioso para o meu apartamento. O meu voo para o Brasil seria às sete da manhã. Precisava descansar, afinal os efeitos do jet lag poderia prejudicar o meu dia. A diferença de fuso horário da Beócia para o Brasil é de apenas cinco minutos, mas considerando os efeitos do realismo mágico que reina ali, é como se fosse de cinco horas. No dia seguinte na saída do hotel, um out door anunciava o nome de um presidenciável, um candidato apoiado pelo PVPP. VC190714