Jorge Maia
No princípio era a fogueira, em redor da qual todos se reunião para contar os fatos do dia, contar causos e planejar o dia seguinte. Com as últimas chamas, despediam do dia que acabara e iam para o descanso. Era causos de todos os tipos. A conversa transitava sobre a vida alheia e seguia pelos mistérios do além, e fazia muita gente tremer de medo.
Hoje, a fogueira é eletrônica. A televisão tomou conta da vida, substituiu o calor das brasas e o colorido das chamas pelas imagens em tempo real, falando do mundo inteiro, ou contando histórias de todos os tipos. Senhora da casa, enquanto ela fala ou mostra algo, ninguém fala nada. Aí de quem ousar interromper. Ouvirá uma saraivada de protestos e terá que ficar calado.
Tudo é mostrado de modo resumido, evitando qualquer esforço de compreensão, tudo mastigado e todos somos presos pelos encantos do som e das imagens, sem a necessidade de questionar com mais ênfase, como era no tempo da fogueira.
A televisão tem sim importância, mas acabou por roubar uma das coisas gostosas da vida: a conversa, o diálogo da família, a conversa com o vizinho, porém sobre tudo, quer impor sua vontade, pois ela não nos ouve de imediato, e muitas vezes o encanto com que se apresenta retira de nós o imediatismo da análise e da resposta mais rápida, como acontece nos debates e nos diálogos.
Quando falta energia no bairro, no exato instante, ouve-se quase um coral organizado: ah, a luz foi embora! De imediato busca -se uma vela, ou quem sabe, uma lanterna para procurar a vela, que encontrada, reúne todos em sua volta e retornamos aos velhos tempos da fogueira.
Os país fazem sobras com as mãos imitando animais, em especial o cachorro e o coelho, que eu fazia tão bem, e as conversas seguem mansa e gostosa. Os mais velhos são valorizados, pois nesta ocasiões são convocados para contar os seus causos. As lembranças nos remetem à situações cômicas já esquecidas e agora mais uma vez motivo de risos.
De repente, a luz retorna e ouve-se um outro coral: ahhhhh. Tudo volta ao que era antes. O televisor é ligado, cada um vai ligar o televisor do seu quarto, todos se isolam e aquela experiência é esquecida até que em outra oportunidade falte energia.
Se alguém começar um movimento do tipo: sem energia por duas horas, em uma noite por semana, vou aderir, assim conversaremos mais, a natureza agradecerá e a conta de luz será menor.VC160814
Uma Resposta para “Ah, a luz foi embora!”
Lília
Nossa, fiz uma viagem no tempo! E olha que não fui muito longe,mas consegui visualizar momentos inesquecíveis ao lados de meus avós maternos ao redor do fogão de lenha,ouvindo as cantigas e noutras horas causos de assombração.Ai que saudade!!!