Capitão Nascimento

Valdir Barbosa
Valdir Barbosa
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Assisti matéria veiculada pela imprensa televisiva, em horário nobre, por dois dias sucessivos e reverberada nos meios de comunicação escritos, que versa sobre sequestro ocorrido no mês de abril em Salvador, do qual foi vitima jovem advogado. Desde quando se deu o fato dele tomei ciência, já que fui procurado por grande criminalista baiano, na época em que o rapaz desapareceu buscando informações. Rapidamente soube estar o caso a cargo do COE enfocando devesse seu titular ser contatado, no sentido de revelar detalhes do acontecido, obviamente guardados os interesses investigativos, sobretudo em casos como tais, onde o mais significativo é a preservação da vida do refém.
Mesmo a distancia pude conhecer alguns detalhes da ação criminosa e de nuances esclarecedores, até porque, coincidentemente, tudo começou em prédio onde residi, ainda morada de amigos fraternos, os quais me reportaram circunstancias que me fizeram crer estar a polícia, perto de elucidar o sequestro.
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Destarte sabia de há muito, tudo o quanto se fez declarado pela imprensa por derradeiro. O principal suspeito habitava o mesmo edifício onde vivia o sequestrado; câmeras de segurança revelaram terem saído juntos, na data em que o rapaz desapareceu; ambos foram filmados abastecendo o veículo que usava seu provável algoz, minutos depois de se ausentarem do prédio; ainda naquele dia, imagens mostram o suspeito tentando fazer saque com cartão da vítima, numa agencia bancária de Salvador; houve contato, a partir do telefone do desaparecido cobrando resgate e a conta indicada para deposito da quantia solicitada era da filha menor do incriminado.
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Tempos passaram, então, através profissional de outra banca famosa de Salvador se pleiteou meu concurso, para ajudar na localização do desaparecido. Encontrei-me com a irmã e genitora do rapaz, aflitas. Em lágrimas, a mãe desesperada rogava pudesse emprestar minha experiência, para colaborar com as investigações confirmando serem reais as notícias agora tornadas públicas.
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Disse-lhes que, com tantos detalhes, nada restava à polícia senão laborar para prender o suspeito e encontrar o refém. Afirmei entendia estar guardando os investigadores algo importante para usar na hora precisa, em favor do desiderato, porém me pus pronto a colaborar com a instituição, como sempre fiz e com os indigitados entes queridos, estes sofrendo a angustia que me fez tantas vezes prantear escondido, em casos semelhantes.
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Não mais as vi. Tive por certo que a instituição cuidava de agir da forma correta e me surpreendo com a matéria onde os segredos da investigação são revelados. Pensei comigo: Estão loucos?! Qualquer neófito em gerenciamento de crise sabe que não se pode deixar vazar aos suspeitos, em caso de refém desaparecido a certeza quanto a autoria, sob pena de se por em grave risco a vida do refém. Não se argua trabalhar com a hipótese de que a vitima já esteja sacrificada, em razão dos erros praticados pelo provável autor do sequestro. A polícia não tem que se nortear em achismos e deve manter a esperança de encontrar o refém com vida, até que se esgotem todas as tentativas.
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Enquanto analiso a dispensa do Secretário , “para não criar um fato político” – grampos – volvo a tempo em que todos os casos foram resolvidos com recursos mínimos. Observo soluções atuais, onde sistema consegue grampear centenas de ligações concomitantemente e os resultados são pífios. Fala-se, na campanha, sobre a criação de BOPE, Grupamento Aéreo e aplicação em Tecnologia. Sem querer por pimenta no molho, se promete inventar o que já existe esquecendo prioridades: investir em inteligência privilegiando prevenir e investigar.
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Falou-me cedo o ambulante que me faz rir todas as manhas: “Dr. o pessoal da Polêmica , onde moro, de uns dias prá cá esta querendo votar no RUIM, do BOPE. Acreditam os bobos que se ele for eleito, o Secretário vai ser o Capitão Nascimento”.
Não gargalhei, porque logo voltei a lembrar de Ricardo e das lágrimas de sua mãe.
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valdir barbosa

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