Meus livros, meus amores

Jorge MaiaJorge Maia

Acordar no meio da noite, sem sono, tentar dormir e não conseguir  me faz levantar e percorrer a casa em busca  de encontrar o sono. Beber água, examinar a geladeira e desistir de atacá-la, o que é sempre recomendável. Ir até a varanda, contemplar o céu e olhar as estrelas tentando encontrar morfeu escondido em uma delas, o que resulta em perda  de tempo, pois quando ele sai da sua casa, desaparece e custa a votar.

Depois dos dezoito é assim; o sono encurta e costuma sumir, perde-se em um desses escaninhos do tempo e para reencontrá-lo é difícil. Não adianta colocar aviso na televisão nem no jornal, ele só voltar quando ele quer.

Descobri um meio de desafiar o sono quando ele teima em não voltar. No silêncio das madrugadas, depois de fazer aquele percurso ao qual me referi acima, faço uma visita à minha pequena, modesta mesmo, biblioteca. Inicialmente contemplo à distância aqueles títulos já tão conhecidos e repassados.

Aproximo-me de uma estante, olho distraidamente para uma prateleira, contemplo aqueles preferidos, pego um exemplar e examino a página  que traz um marcador, abro o livro e vejo frases destacadas, assinaladas com grafite. Outro dia, digo, noite, foi assim. Peguei o exemplar de: “A arte da Guerra”  de Sun Tzu e deparei com a seguinte orientação:: ” O cúmulo da perfeição na disposição da tropa está em fazê-lo de modo que não seja compreensível. Nem os melhores espiões, nem os peritos poderão elaborar planos contra ti” .

Naquele instante compreendi o resultado do jogo Brasil x Alemanha. Os alemães leram ” A arte da Guerra”. Filipão, não. Passei a reler o livro e terminei, depois de algum tempo, adormecendo no sofá. O sono tem inveja dos livros, não pode ver uma pessoa a ler que logo se aproxima, parece que o sono é analfabeto e invejoso.

Contemplar uma biblioteca, por mais modesta que seja, é uma satisfação imensa, uma magia que encanta pela sedução dos títulos e conteúdos. Mas parte disso está por acabar; com o livro eletrônico, esse fascínio deixará de existir.

Sei que o progresso é inevitável, por varias razões. Será impossível emprestar um livro, pois a sua biblioteca está em uma máquina. Você terá que emprestar a máquina. Não existirá a contemplação de títulos e lombadas. O sono poderá vir mais depressa em razão do cansaço visual. Mas creiam, vou filiar-me a uma clube de livro em papel e espero que funcione madrugada a dentro.VC300814

 


3 Respostas para “Meus livros, meus amores”

  1. irene Oliveira Silva

    Olá Dr. Jorge,

    Sempre que posso leio suas crônicas, a propósito pode me emprestar este livro ?
    Comecei agora o curso de Ciências Sociais na UESB, e esse é um dos livros que preciso ler, se der pode responder pelo e-mail. obrigado. Irene.

  2. Tereza

    Eu também irei filiar-me ao clube dos livros de papel… não consigo viver sem olhar, ler e sentir o prazer de te-los.

  3. Jorge Maia

    Irene, procure-me, marcando o dia, que eu lhe empresto o livro.

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