Setembro chegou para varrermos, não para debaixo do tapete, as flores esmagadas em um agosto de muitas perdas. À véspera da primavera, somos obrigados a exigir um debate sobre o tratamento dado ao jardineiro(a), responsável pelo roseiral: o professor. Agosto de 2014 foi o mês do desgosto de figurarmos no topo do ranking mundial da violência contra a classe profissional responsável pela qualidade na geração de todas as outras classes profissionais.
O importante agora é levantar a questão de como a sociedade brasileira caminha, insultando, arrastando pelo cabelo, dando chutes e pontapés no profissional que deveria ser o esteio moral e intelectual de toda uma nação. Nada justifica o comportamento da juventude escolar em relação a seus orientadores que, em um passado não muito distante, eram respeitados em sala de aula e em toda malha social, apesar da histórica baixa remuneração.
Segundo dados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDEs) da Presidência da República, a remuneração média dos professores brasileiros é um terço da média dos países considerados desenvolvidos. Houve, contudo, avanços na educação brasileira nos últimos anos. Os investimentos no setor, de 5,9% do PIB no Brasil, estão próximos da média mundial (6,1%), que reúne várias economias ricas. Entre 2000 e 2014, o nível de investimentos em educação no Brasil, em termos de percentual do PIB, quase dobraram.
É a transferência de papeis da família para o professor, portanto, que promove o caos nas redes públicas e particulares de ensino. Pais omissos em suas funções de educadores domésticos esperam que a implantação de valores e de limites seja feita pela escola que acumula um fardo pesado na sua obrigação de transferência de conhecimento. Claro que a escola também é responsável pela formação de valores, mas quando constatamos que os discentes estão cada vez mais sem limites, e ainda mais se distanciando da presença dos pais em suas práticas escolares e sociais, precisamos de que seja incentivada imediatamente uma ruptura familiar com hábitos nocivos à saúde mental de seus jovens, como a centralização da felicidade nos hábitos de consumo, a permissividade excessiva, entre outros hábitos corriqueiros nesta geração. Dispensando também medidas paliativas hipócritas, como os abençoados sistemas religiosos corporativos, pois a violência escolar é democrática e permeia em todos os grupos sociais e religiosos.
A familiarização com a agressividade e a violência virou matéria do cotidiano, corriqueiras a ponto de serem consideradas normais. Entretanto, a proliferação indiscriminada desses comportamentos mostra que a escola perdeu – ou vem perdendo – o poder normativo e ignora ou negligencia os recursos pedagógicos para o estabelecimento de limites entre o que é aceitável e o que ultrapassa essa condição. O professor, nesse contexto, é destituído de autoridade e autonomia, e essa lacuna dá margem para que o aluno mesmo ou sua família, em sala de aula, no espaço da escola ou fora dela, arbitre sobre o que é justo ou injusto, certo ou errado, segundo sua visão pessoal. A violência é, assim, relativizada em seu valor de transgressão, e seus autores não se sentem transgressores: pelo contrário, agem com tranquilidade, não se julgando fora dos princípios da boa educação ou da ética, pois se conduzem de acordo com o que estipulam ser o preceito correto e legítimo.