Sala de aula

Jorge Maia

Jorge Maia

A sala de aula é um santuário, pelo menos deveria ser. É um lugar sagrado,pois cuida do saber. Para o professor é um trabalho, portanto a medida da liberdade, é assim que deve ser visto o trabalho. Mas é muito mais. É um retrato do mundo. Precisa ser retocado, sem fotoshop. O retoque é apenas para aparar as arestas e contornos necessários para que seja garantido o exercício da autonomia  do saber, sem perder a sua condição de território livre, onde ideais e pensamentos sejam discutidos livremente, sem censura. O saber não tem fronteiras.

A sala de aula é também mundana, é parte do mundo.Fala-se do mundo o tempo todo, portanto o professor precisa conhecer bem a parte do seu mundo e tentar compreender o mundo dos alunos, permitindo estabelecer  diálogo maduro e proveitoso.

O professor é o maestro, em português e em espanhol, mas também é o diretor e autor da peça que apresenta a cada dia. Os personagens são, normalmente, quarenta expectadores, todos sequiosos de saber e questionadores. Conduzir a peça e reger a orquestra ao mesmo tempo requer esforço e persistência. Vez por outra uma nota dissonante, ou uma fala sob a forma de “caco” pode perturbar o andamento da peça.

Em uma greve por melhores salários, os governos não deviam oferecer percentuais de aumento, deveria perguntar ao professores: que salário querem receber, e pagar. Em verdade, não há salário que pague o trabalho do professor. Pagar  um valor digno, é apenas pagar algo que seja aproximado do que seja ideal.

De qualquer modo, a sala de aula é um lugar fascinante em que encontramos: dramas, romances, aventuras e muito humor. Em me lembro do professor Thomas Bacelar, grande mestre penalista quando disse: um dia publicarei  todas as perguntas esquisitas ouvidas em sala de aula, e que, entre tantas, havia uma que nunca conseguira entender, quando uma aluna lhe perguntou: professor, o código está dentro do código? Ele jamais pode responder àquela pergunta, pois não a compreendera.

Certa vez, querendo dar uma oportunidade a um aluno, em prova oral, perguntei: quais as diferenças, do ponto de vista trabalhista, entre o trabalho rural noturno e o trabalho rural diurno ( percentual do adicional noturno), depois de muito esforço o aluno respondeu: o trabalho noturno é mais fresco, porque o trabalhador não trabalha debaixo do sol.

Bom, o aluno era do curso noturno. Fiquei pensativo e não me irritei, afinal era noite, o tempo estava fresco, não esquentei a cabeça e o aluno foi para a prova final. Não podia ser diferente. VC200914


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