Jorge Maia
Uma tira de quadrinhos em um jornal chamou a minha atenção; no primeiro quadrinho a mulher diz para outra: sei que um dia as mulheres serão iguais aos homens. Com uma taça erguida conclui: mas enquanto isso não acontece vamos brindar a nossa superioridade. A fantasia que relata a criação da mulher como resultado do trabalho divino em uma costela, pedaço de osso de um homem, não me parece convincente. Causa-me a impressão de ser uma invenção de homens, cujo objetivo foi sempre colocar a mulher em nível inferior, explicando uma origem de dependência ao homem, o qual ao lhe emprestar um fragmento ósseo, ofereceu-lhe a vida.
Alguns, tentando parecer simpáticos, dizem que há um simbolismo em tudo isso. Querem dizer que a mulher foi feita para viver ao lado do homem, pois foi criado de parte de um dos seus lados. Suponho que querem reforçar a celebre afirmação da existência de uma grande mulher atrás de um grande homem, o que alivia, mas não melhora a condição da mulher.
Ao observar a luta da mulher ao longo da história percebemos a imensidão de esforços para conseguir a sua libertação e conquistar junto à sociedade o lugar de destaque merecidamente desejado.
Das cavernas até às conquistas espaciais, a luta da mulher tem sido algo tão fantástico que se debruçarmos sobre a história da humanidade teríamos nos capítulos destinados à mulher, as páginas mais enternecedoras e inteligentes da existência humana.
Da sua condição de escrava, companheira, mãe, amante, trabalhadora e política, a mulher trilhou caminhos difíceis, e em momentos de fraqueza passou a imitar aos homens no que eles sempre tiveram de pior. Tais enganos apenas confirmam a condição humana da mulher, sem diminuir a grandeza dos seus valores.
Reunidas agora, em Pequim, as mulheres deram uma demonstração de força e coragem; desafiaram governantes, denunciaram abusos de toda natureza cometidos em todas as partes do mundo, e muito mais que as questões relacionadas com a problemática da mulher, não perderam a oportunidade de denunciar as injustiças cometidas contra o ser humano e demonstraram que estão preparadas para assumir o poder, tão estragado pelos homens em milhões de anos.
Deposito esperança na capacidade e generosidade da mulher, a qual não se intimidou diante dos obstáculos que a história lhe criou.
Do Paraíso a Pequim, a mulher deu um salto desmedido, se considerarmos todas as dificuldades criadas contra si e o pouco tempo da tomada de consciência do seu papel social, compreendendo os fenômenos culturais ocorridos nos últimos séculos.
Não pretendo discutir a origem das espécies, entretanto, se a mulher foi criada a partir de algum segmento do homem, tenho certeza de que Deus usou parte do cérebro e do coração, das quais os homens sentem falta até hoje. O que me conforta é a certeza do personagem do quadrinho: um dia seremos todos iguais. Entre homem e mulher não precisará existir mais que uma agradável diferença ( Vit. Conq. 11 de outubro de 1995, ano internacional da mulher realizado na China)