Na reta final de uma campanha eleitoral marcada pela criatividade, a candidata a deputada federal Nadjara Régis Lima, pelo Partido Socialista Brasileiro, reuniu apoiadores e simpatizantes de sua candidatura na sede do Rotary Club de Vitória da Conquista, no último final de semana. Em entrevista ao Blog do Anderson logo depois do evento, Nadjara falou sobre diversos temas e fez um balanço de sua caminhada rumo ao Congresso Nacional. Como de costume, a advogada não tergiversou ao tratar de temas polêmicos, como a declaração da candidata ao senado pelo seu partido, Eliana Calmon, que chamou o próprio partido de “vendido”. Disse Nadjara: “Essa situação de prefeitos e vereadores do PSB adesistas a outros projetos políticos é um desvio sério, mas que deve ser tratado com mais aprofundamento, não como mágoa decorrente de circunstâncias eleitorais”.
Blog do Anderson: Faltando uma semana para o pleito eleitoral, qual o seu balanço?
Nadjara Régis: Furamos o muro de contenção criado nas últimas duas décadas contra a entrada de uma nova geração na política da Bahia. Colocamos uma candidatura de mulher, Vitória da Conquista nunca teve uma candidata a deputada federal. As mulheres são menos de 50 na Câmara Federal, de um total de 513 cadeiras. Também tem o alerta de que Vitória da Conquista, quando tinha menos eleitores, já fazia dois deputados federais “da terra”: primeiro foi com Raul Ferraz e Elquisson Soares, mais adiante foi com Guilherme Menezes e Coriolano Sales. Agora, Conquista tem mais de 220 mil eleitores e apenas um representante na Câmara Federal. Isto enfraquece muito Conquista e região. Mas não basta quantidade, tem que ter qualidade. E a qualidade, para mim, começa no compromisso ético de a deputada ser a porta-voz das reivindicações da população. Quando o político do legislativo cumpre sua função de levar a voz da população ao Executivo, a democracia se fortalece, diminui o descontentamento, melhora a organização da sociedade e todos ganham com isso. Hoje o que vemos é uma série de deputados que andam de braço dado com prefeitos e governadores, que se acovardam perante o Executivo, não fazem mais denúncias, não participam de mobilizações sociais, não mediam os conflitos. Muitos dos candidatos aí acham que basta estar com o prefeito ou o governador que o voto vem. Essa é uma prática de uma velha política, infelizmente ainda dominante.
Blog do Anderson: A senhora que acaba de chegar ao PSB, como tem observado a opinião de Eliana Calmon: O PSB é um partido vendido?
Nadjara Régis: Eliana Calmon é uma “mulher verde” na vida partidária, e isto se demonstra nesta sua declaração precipitada. Os partidos políticos, todos eles, hoje, a meu ver, não são mais ambientes de vanguarda, não são espaços de pensamento, e, portanto, não estão à frente do senso comum da sociedade. Então essa situação de prefeitos e vereadores do PSB adesistas a outros projetos políticos é um desvio sério, mas que deve ser tratado com mais aprofundamento, não como mágoa decorrente de circunstâncias eleitorais. Quem é militante sabe que uma vitória não se dá só nas urnas, a gente lança candidatura, antes, para fazer o debate, para aferventar a democracia. Eliana Calmon precisou experimentar isto na pele: candidatar-se para defender um projeto político maior do que sua vontade pessoal de vitória eleitoral.
Blog do Anderson: Sua campanha é inteligente, tem conquistado apoios de pessoas de prestígio social, como conquistou os apoios?
Nadjara Régis: Cada pessoa tem uma consciência, há candidatos que desmerecem isto; eu acho que o compromisso é dialogar com todos, não achar que sou dona da verdade ou mesmo que só existe uma única e imutável verdade. Isto é básico para uma democracia que deseja autonomia de pensamento para cada pessoa. Falamos que não basta um projeto do ter, a democracia do consumo da geladeira, da TV, da moto, do DVD. Acredito no desenvolvimento humano, que a riqueza de uma nação se dá com o investimento na qualidade técnica, intelectual e moral de cada pessoa. Quais são os valores que temos cultivado na prestação do serviço público? Qual a qualidade no atendimento de um Cras, na escola, no posto de saúde? E aí a gente fala de como as administrações públicas estão tocando essa quantidade enorme de equipamentos após a inauguração das obras. Será que só fazemos acumular números de obras e atendimentos? Enfim, nossa campanha vem falando de valores, fazendo propostas para além da mediocridade que tem afastado muitas pessoas da política. Não tenho medo de convencer e nem de ser convencida. Temos assim o um voto sincero, como disse Márcio, hoje, em nosso encontro Conquista +1 Federal. Pois não entramos nessa de não responder sobre um tema que é polêmico, divide opiniões… Isto é um estelionato, é querer furtar o voto. Cada pessoa precisa saber exatamente o que a candidata pensa, eu tenho feito isto. Falamos que a redução da maioridade penal é só um modo de desviar a atenção do real problema da violência, falamos da falta de percentual mínimo de investimento pelos governos na segurança pública, propomos o fim das emendas individuais para os parlamentares porque isto garantiria na Bahia a construção de cinco hospitais gerais por ano, enfim, demos qualidade e acho que isso ajudou a atrair muitas pessoas.
Blog do Anderson: Segundo turno ao governo do Estado, você vai de Rui Costa ou Paulo Souto.
Nadjara Régis: Anderson, eu vou de Lídice da Mata. Não acho que Lídice represente uma ruptura com o projeto atual do PT, mas ela oxigenaria e necessariamente buscaria pessoas fora deste maniqueísmo do bem e do mal que se instalou. Prefiro ficar com a esperança de que ela vai para o segundo turno.