Edwaldo Alves Silva
As eleições presidenciais, no primeiro turno, revelaram ampla vitória da presidenta Dilma no nordeste, alcançando quase 60% dos votos, excetuando-se o estado de Pernambuco onde triunfou Marina Silva, por motivos conhecidos de todos. Na região norte, Dilma obteve votação superior a 50% dos eleitores. Nas outras regiões do país o desfecho foi diferente, mas não impediu que a presidenta fosse a grande vitoriosa do primeiro turno. O quadro abaixo mostra o resultado eleitoral entre Dilma e o segundo colocado por região:
Candidatos Nordeste Norte Sudeste Sul Centro-oeste
Dilma 59.58% 50.52% 36.32% 32.43% 32.55%
Aécio 15.38% 28.26% 47.21% 39.4% 40.99%
Claro que em cada região ocorreram variações nos estados que a compõe, destacando-se o estado de São Paulo favorável a Aécio e Pernambuco com expressiva maioria pró Marina.
Esses resultados, frutos da vontade democrática de cada brasileiro, desencadearam uma tempestade de críticas, xingamentos e alto dose de intolerância e preconceitos contra os nordestinos, principalmente em São Paulo. Aliás, contra os baianos, porque naquele estado todos os nordestinos são denominados “baianos”, como se cada estado do nordeste não tivesse suas características, costumes e culturas próprias. Logicamente, quando se fala de preconceitos e discriminações dos paulistas contra os outros brasileiros, estamos nos referindo à elite paulista, aqueles que se intitulam “quatrocentões”, que atualmente formam a burguesia paulista composta pelos grandes industriais, fazendeiros e comerciantes. Historicamente não vejo nenhum motivo para essas famílias se orgulharem do seu passado. Envaidecem-se da descendência direta dos bandeirantes, que na verdade eram bandoleiros que perseguiam e assassinavam índios e escravos em busca de fortuna e poder. O bandeirante Domingos Jorge Filho, glorificado nos livros de história, retornou para São Paulo exibindo 3.000 orelhas de homens, mulheres e crianças negras após dizimar o Quilombo dos Palmares, um dos mais belos episódios de luta pela liberdade no Brasil. Em 1932, a oligarquia paulista se levantou em armas para tentar reverter as reformas sociais propostas pelo governo Vargas e retornar à política do “café com leite” da velha república. Sem senso do ridículo, tentam reeditar o domínio de São Paulo e Minas, certamente como farsa. O golpe militar de 1964 teve no grande capital paulista um dos principais sustentáculos na sua preparação, no desenvolvimento e introdução da supressão das liberdades democráticas, da repressão e da tortura. A “operação bandeirante”, percursora e inspiradora dos famigerados “Doi-Codi”, foi armada e financiada pela burguesia paulista. Em 1989, na disputa de Lula contra Collor pela presidência da república, o presidente da FIESP divulgou, amplamente na mídia, que a vitória de Lula significaria a fuga de 800.000 empresários para fora do país. Lamentavelmente, a vitória eleitoral de Aécio em São Paulo confirma que grande parcela daqueles eleitores, nessas eleições, ainda está sob o predomínio ideológico da burguesia, diferentemente dos nordestinos que, apesar da decrescente influência do coronelismo, percebem o que é bom para o seu povo e sua região.
Logo, o ódio e o preconceito da oligarquia contra os nordestinos-baianos porque votaram maciçamente em Dilma não surpreende ninguém. É simplesmente ridículo afirmar que o nordestino é burro e não sabe votar. Bastar analisar os motivos dessa escolha para se compreender perfeitamente porque o nordeste votou preferencialmente em Dilma.
As políticas e programas sociais iniciados pelo governo Lula e ampliados por Dilma mudaram positivamente o Nordeste. Os objetivos estratégicos do governo consistiram em cumprir o “fome zero” e acabar com a miséria absoluta. Órgãos internacionais respeitados atestaram o sucesso dessas propostas, a FAO riscou o Brasil do mapa da fome e a ascensão social de milhões de brasileiros que saíram da linha da miséria comprovam que o Brasil mudou e está mudando para melhor. O bolsa-família, a recuperação do valor do salário mínimo, programas sociais como o luz para todos, água para todos, incentivo à agricultura familiar, os incentivos para estudantes pobres e negros adentrarem à universidade, o aumento dos salários na apropriação da renda nacional enfim, inverteu-se a lógica do papel do estado e das prioridades nos investimentos públicos. O Nordeste e o Norte como regiões mais pobres do país foram as mais beneficiadas. O mais importante é que não se tratou simplesmente de políticas assistencialistas, ao contrário, criou-se a um novo tipo de desenvolvimento com distribuição de rendas, fortalecendo o mercado interno consumidor popular, que é um dos fatores do crescimento econômico.
O desenvolvimento do PIB (produto interno bruto) no nordeste no primeiro trimestre de 2014 cresceu 2.12% e no segundo trimestre pontuou 2.55%, índices bem superiores ao resto do país. Dados que revelam que, além de melhorar a vida do nordestino, a política dos governos Lula e Dilma tem, também, diminuído a desigualdade regional que historicamente deforma a estrutura socioeconômica nacional.
Então apenas a cegueira política e o preconceito podem supor que o baiano votou maciçamente em Dilma por ignorância. Ao contrário, foi por inteligência e sabedoria. Escolheu o projeto de Lula e Dilma porque sabe que é o melhor para o Brasil e especialmente para o nordestino que tem sentido a melhoria em sua vida nos últimos anos.
Quanto aos meus conterrâneos paulistas que abandonem análises preconceituosas e estúpidas, porque em 26 de outubro estaremos decidindo o futuro do Brasil e não apenas de uma região.
Edwaldo Alves Silva é paulistano, paulista e fundamentalmente BRASILEIRO.
5 Respostas para “O baiano não sabe votar?”
Luis Carlos
Infelizmente,tenho que concordar com os paulistas.
Como diz na musica do Paralamas do Sucesso:
“Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados”
Daniel
Excelente texto!!!!
Zete
Boa tarde,
Gostaria muitíssimo de parabeniza-ló pela a observação que voce fez em relação a votação do Estado do Nordeste.É isso mesmo.
Att:Zete
Erle
Não sabe mesmo! só pensam nas bolsas, saúde, educação e segurança não passa pela cabeça de quem votou no PT. Pelos cometários do jornalista está mais que claro que jo é um petista doente.
Erle
Não sabe mesmo! só pensam nas bolsas, saúde, educação e segurança não passa pela cabeça de quem votou no PT. Pelos cometários do jornalista está mais que claro que é um petista doente.