A TARDE
A vitória de Aécio Neves (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT) no segundo turno das eleições não decidirá apenas o comando do país pelos próximos quatro anos, como influenciará no cenário político baiano e no futuro dos principais líderes locais. Principal cabo eleitoral de Aécio na Bahia, o prefeito de Salvador, ACM Neto, se reafirmaria como a estrela maior do DEM na Bahia, em caso de vitória do tucano, segundo o cientista político Joviniano Neto. “Isso permitiria ainda um alento à sobrevivência do DEM a nível nacional”, diz Joviniano. Neto já foi apontado várias vezes pelo presidente do DEM, o senador Agripino Maia, como uma das apostas nacionais do partido. Em eventos de campanha nesta eleição, Agripino já afirmou que Neto “vai longe”. Com Aécio eleito, a Bahia teria duas estruturas ou polos de poder, nas palavras de Joviniano. “A oposição (ao governo petista de Rui Costa) se articularia diretamente com o governo federal, havendo possibilidade de duas estruturas de poder: o governo estadual e a oposição, que poderia criar uma estrutura de poder através dos cargos federais na Bahia e do seu acesso melhor ao governo federal”, aponta Joviniano.
A reeleição da presidente Dilma Rousseff, por sua vez, fortaleceria o governo Rui Costa, que se articularia com maior facilidade com o governo federal, segundo o cientista político. E, em 2015, o agora ex-governador Jaques Wagner sairia fortalecido “a nível local e nacional, como um grande articulador”.
No dia em que viu eleito aquele que escolheu para ser o seu sucessor, Wagner já havia dito que “certamente não ficaria desempregado” e que teria o “maior prazer” em fazer parte do segundo mandato de Dilma, em caso de vitória da petista. Ele já foi ministro do Trabalho e das Relações Institucionais do ex-presidente Lula. E é um dos nomes do PT com vistas à disputa nacional de 2018.
Foco na eleição
Questionado sobre o ganho político que teria com uma eventual eleição do tucano, Neto diz que “isso não está em questão”. “Eu acho que a vitória de Aécio vai permitir a mudança que a sociedade brasileira quer”, afirma.
O prefeito diz que colocará “os interesses da cidade em primeiro lugar”, independentemente de quem vencer a eleição presidencial. “Entendo que a disputa eleitoral se dá até o dia da eleição. A partir daí, tem que ser desfeita. Eu tenho uma função institucional e vou cumprila da forma mais dedicada possível”, acrescenta.
Com a eleição de Rui Costa e uma eventual vitória de Dilma, seria esperado o retorno de um ACM Neto menos crítico ao PT e mais voltado para boa relação administrativa com os adversários políticos, que foi o perfil adotado pelo gestor após a sua eleição, em 2012, até os meses anteriores ao pleito deste ano.
“Vamos ter uma relação com qualquer que seja o presidente, porém eu não posso deixar de dizer que espero que Aécio possa ajudar muito mais Salvador do que Dilma vem ajudando nos últimos anos”, afirma Neto.
Wagner diz não ter preferências sobre possíveis pastas para comandar. “Eu acho que conversar de ministério antes do dia 26 não dá sorte. Vamos aguardar o resultado. Quem é convidado não escolhe. Quem escala o time é ela”, afirma. O petista descarta deixar a política caso Aécio ganhe a eleição, mas não revela qual seria o seu futuro.
PMDB na Bahia
Se Aécio for eleito presidente da República, outro efeito será o fortalecimento, dentro do PMDB, da ala que defendeu o rompimento com Dilma e o PT, lembra Joviniano.
E um dos defensores da quebra da aliança – que acabou mantida, na convenção nacional do partido – foi o presidente estadual do PMDB, Geddel Vieira Lima, que poderia ganhar um cargo federal em um possível governo tucano, após apoiar Aécio. A oposição baiana evita falar no assunto.
“Não vamos falar sobre isso agora. Quem falar sobre isso agora estará cometendo um ato de elevadíssima irresponsabilidade política”, diz Neto. Geddel segue a mesma linha. “Não estamos especulando esse assunto. Não faço análise sobre ‘se’. Vou tocar minha vida com naturalidade”, diz.
Derrotado na eleição para o Senado, Geddel diz que fiscalizará o governo do PT na Bahia. “Faço política com ou sem mandato. Ganhar ou perder é o do jogo”, declara.