O Sentido humano e cristão da morte

Foto: Blog do Anderson
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José Mozart Tanajura Junior

O ser humano, ao longo de sua existência terrestre, deparou-se com determinadas questões intrigantes. Somente visualizadas sob a ótica de alguma crença, consegue elaborar perspectivas e projetos escatológicos. Tais questões, de certa forma, dão sentido ao caminho percorrido e traçado por cada pessoa: De onde venho? Para onde vou? O que faço neste mundo circundante? Ao lado dessas questões existenciais, nos deparamos com uma realidade misteriosa que parece pôr um fim em todas essas questões e propor novas. Trata-se do mistério da morte, realidade indiscutivelmente misteriosa que, se bem entendida, nos proporcionará caminhos de reflexão para se tentar entender a dimensão escatológica do ser humano.

Ao trilharmos um itinerário conceitual acerca da morte, queremos, na verdade, compreender melhor a nossa existência humana, cuja vocação se configura às realidades eternas. Neste sentido, já podemos estabelecer uma importante inferência: A pessoa humana é chamada a ultrapassar a barreira limitada desta existência imanente e se encaminhar, pela graça do Criador, para uma nova existência, libertada de todas as fragilidades e limitações, pois torna-se participante da eternidade do amor misericordioso de Deus.

Nesta perspectiva, podemos afirmar que a morte não consiste no fim existencial da pessoa humana. A morte não é destruição ontológica do homem. Mas, passagem para uma nova realidade vital. É redirecionamento da vida humana ao infinito. É bem verdade que ninguém escapará deste fim. É uma experiência individualizada e singularizada. O homem é, na expressão do filósofo Heidegger, um ser-para-a-morte[1]. É impotente, contingente, frágil, limitado…finito. A todo instante o homem se depara com a morte. O ser humano vive e morre a cada instante em sua existencialidade ôntica. A morte extingue todas as relações imanentes que a vida humana estabeleceu ao longo de seu estar-no-mundo. Aniquila nossas atividades no mundo circundante. A morte traz consigo o fim biológico da pessoa humana.

Contudo, para além da morte, há um sentido para a vida humana. Há a esperança, cujas bases se edificam no sentido que se dá ao projeto existencial nesta vida. Assim, insere-se a perspectiva cristã, a qual se orienta pelo projeto de Cristo Jesus em propor um reino de fraternidade e amor misericordioso.

De um modo geral, podemos afirmar que o NT refere-se a este tema relacionado à conseqüência e ao castigo do pecado. Entretanto, a concepção neotestamentária da morte está fundamentada sobretudo na vitória de Cristo sobre a morte, quando o Senhor ressuscitou, garantindo-nos a salvação eterna. Os relatos evangélicos estão elaborados a partir do anúncio da morte e ressurreição de Jesus, fato notável na vida de Jesus. A encarnação do Verbo divino, o Filho de Deus, desemboca em sua morte. Neste contexto, argumenta Comblin[2] : “Ser homem é enfrentar a morte”. Jesus não contraria essa assertiva, assume tal condição desde o início, sendo obediente ao plano salvífico mesmo que este lhe exija a doação da própria vida em favor de seu amor pela humanidade.

A fé em Cristo traz a certeza ao homem de que ele não morrerá para sempre, mas terá a vida eterna quando participante da ressurreição. A humanidade estaria mergulhada na sombra da morte sem Cristo.

Assim, Cristo, ao morrer por todos, extinguiu todo o poder do pecado, anunciando-nos a boa-nova da vida eterna e reconciliando-nos com Deus. Cumpre-se, portanto, a vontade do Pai. A partir desse fato, a relação entre o homem e a morte sofreu uma profunda transformação, pois o Senhor libertou toda a humanidade do poderio da morte.

Em suma, poderíamos dizer que a morte marca o fim de nossa existência biológica (física) e o início de uma nova realidade ontológica que permanece velada à espera de cada um em determinado momento exato ou prematuro.



[1]HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Parte II. Trad. Márcia Sá Cavalcante. 12 ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p.34

[2] COMBLIN, José. Antropologia Cristã. 3ed. Petrópolis: Vozes,1994. Col. Teologia e Libertação.

vol I.p.10


3 Respostas para “O Sentido humano e cristão da morte”

  1. Fabiano Brito dos Santos

    Parabens !!! Otimo texto Mozart, forte abraço.
    Fabiano.

  2. toninho

    Todas as especies são fruto de uma evolução. A morte em todas elas é apenas uma consequência. Por que a morte da especie humana é encarada de tao arrogante forma de descriminação. A inteligencia e minha pouca experiencia é suficiente para acreditar que o ser humano como especie apesar de ter alcançado uma inteligencia um pouco mais avançado que outras especies se assemelham no contexto da vida e portanto sujeita as mesmas leis da natureza: A vida evolutiva e a morte inovativa.

  3. Helder

    Toninho,

    A evolução, mais especificamente a macro-evolução não passa de uma teoria, meu caro. Por mais variações genéticas que os indivíduos de determinada espécie sofrem, não existe nenhuma prova científica de que uma espécie se transformou noutra.
    O ser humano não é somente um animal mais perfeito/complexo, do ponto de vista biológico, do que os outros. Ele tem uma alma imortal e com várias faculdades. O homem é livre, tem vontade, é capaz de abstrair, busca uma finalidade para aquilo que faz, coisas que não estão simplesmente vinculadas ao corpo/matéria e que, portanto, nenhum outro animal faz.

    Isso não é arrogância, é a verdade, é um fato inegável e que cada um que observe a realidade pode perceber. Quem nega a existência da alma, no fundo quer negar a existência de Deus, e esse sim, está sendo arrogante, pois as coisas existem e para que elas existam é necessário que alguém, com uma vontade e um poder supremo, lhe deem a existência.

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