Jeremias Macário
Sai 2014, entra o 2015 e o povo brasileiro só levando ferro. Ó tempora, ó mores! como desabafou o cônsul romano Marco Túlio Cícero há dois mil anos contra o ímpeto destruidor de Lúcio Sérgio Catilina (As Catilinárias). Até quando, ó Catilina, abusarás de nossa paciência? No Brasil de hoje, temos corrupção demais e educação de menos. Oh triste educação! Até quando teremos que suportar tantas mazelas juntas? De acordo com o Movimento Todos pela Educação, em nosso país mais de 90% dos estudantes concluíram o ensino médio em 2013 (2014 deve ter sido ainda pior) sem o aprendizado adequado em matemática. Apenas 9,3% aprenderam o conteúdo. Este índice é menor que o de 2011. Em português também não foi diferente. O percentual de alunos com aprendizado adequado na matéria passou de 29,2% para 27,2%. Leia a opinião de Jeremias Macário.
Pelas apurações, chegou-se à constatação que a meta prevista do Brasil alcançar o ensino de qualidade no bicentenário da independência, em 2022, não vai ser possível. Os números mostram que no ensino fundamental só o quinto ano apresentou alguma melhora. A triste realidade, segundo o Movimento, é que o país não cumpriu nenhuma das metas intermediárias.
Embora tenha havido uma melhora nos anos iniciais do ensino fundamental, nas outras etapas, inclusive no nível médio, registrou-se queda no aprendizado. É como nadar e morrer na praia, conforme observação de um especialista em educação.
Vamos a mais alguns dados que nos deixam estarrecidos. Segundo a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, o Brasil tem 3,7 milhões de estudantes do ensino fundamental, entre 13 e 16 anos, que estão atrasados na escola. Entre os 20% mais pobres, a distorção entre idade e série é três vezes maior que no estrato mais rico.
Dizem os números que em 2013 o atraso escolar afetou 54% dos alunos com menor renda e somente 16% dos que figuram entre os 20% mais ricos. O mais vergonhoso é que o Norte e o Nordeste são as regiões onde estão localizadas as maiores distorções do ensino.
O Plano Nacional de Educação não existe na prática, denunciou o pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Freitas. Constatou-se ainda que o problema principal da educação no país não está tanto relacionado ao montante de recursos gastos, mas na falta de gestão.
Todo este triste quadro da educação vai cada vez mais engordando a já obesa ignorância do nosso povo que aceita as injustiças sociais, os desmandos políticos e tira dele a capacidade de indignar-se contra os Catilinas que iludem as multidões com as mágicas do assistencialismo e do paternalismo, quando a saída seria educar, educar e educar cada vez mais a nação.
Enquanto isso, o cinismo e o banditismo são aplaudidos na passarela dos salteadores dos cofres públicos. Como nos bailes de carnavais, ganham o concurso as melhores fantasias de privilégios, e o nosso povo ainda pede bis.
Não se tem mais consciência neste país. Quanto mais safadeza, mais se dorme tranquilo. Já o silêncio está tirando o sono dos bons. O cinismo é tão escancarado que os suplentes de deputados, que foram indicados a cargos nos governos, vão receber polpudos salários de mais de 20 mil reais, mais verbas de gabinete e outros penduricalhos sem trabalhar no recesso parlamentar de janeiro, e o povo que se lasque.
Os ex-governadores se aposentam com 20 mil reais e direito a carros e seguranças. Tudo é visto como normal, e quem for do contra é taxado de elite de direita conservadora. Toneladas de medicamentos e materiais hospitalares não vencidos são jogados fora devido a condições precárias de armazenamento, e os irresponsáveis não são punidos.
Somos ou não somos um país rico de dinheiro e trambicagens avassaladoras? Somos o país mais acomodado do mundo. Não se sabe até quando os absurdos vão perdurar, como o esdrúxulo ministério de dona Dilma. Em salvador, o PDT, criado por Leonel Brizola (deve estar se revirando no túmulo), se aliou ao governo do estado (PT) e ao do município (DEM) para abocanhar os cargos.
Para eles, tudo é normal e tem explicação na política das alianças carcomidas. Que vençam os mais astutos! Bandidos assaltantes, traficantes dos morros e arrombadores de bancos são fichinhas diante da sagacidade insaciável dos homens de ternos que “falam bonito”. Oh triste educação! Ó tempora, ó mores. Até quando vão abusar da nossa paciência?