Andando em círculo

Foto: Blog do Anderson
Foto: Blog do Anderson

Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando me encontrava em sala de aula  no IEED ( Escola Normal) e ouvia a Professora Marilene Robatto a falar sobre Geometria. Embora o conteúdo não fosse dos mais fáceis não escondia o meu fascínio por aqueles misteriosos traços e linhas. Leia na íntegra a crônica de Jorge Maia.

Acostumado a compreender algo sempre com a mania de primeiro saber a definição, o que talvez vez não seja tão positivo, mas é o mais cômodo para tentar compreender algo mais rápido, é a lei do menor esforço atuando em favor da nossa preguiça. Penso que Sócrates tem razão, tentar extrair o conhecimento do aluno, levando-o  a compreender o objeto e a formular os seus juízos e conceitos pode ser interessante para fazer o aluno a pensar melhor, o que é bem difícil nesta era digital em que a pressa é a tônica.

Querendo cortar caminho, perguntei à Professora qual era definição de circunferência, pois aquele era o desenho que estava no quadro e era o objeto de estudo. Sem pensar duas vezes, culta e bela, a Professora respondeu de imediato, e aqui tento reproduzir a definição ouvida há tantos anos, se faltar algo a culpa é da minha memória e não Professora: “circunferência é uma linha reta, curva, plana em que todos os seus pontos se  tocam”.

Perfeito! Era a Grécia atacando mais uma vez. Aquilo era filosofia, nada na Grécia deixa de ser filosofia, mesmo que seja azeite de oliva. Euclides e tantos outros viram na circunferência  o simbolismo do ritmo da vida, cujo caminhar conecta o homem ao universo, tal qual os pontos de uma circunferência se tocam, pois podem ser ligados um ao outro, e outro ao um, sem distinção.

Alguns anos depois, Fernando Meireles dirigiu o filme 360 graus- o circulo perfeito. Ao assistir ao filme veio-me à memória aquela aula em fim de tarde na Escola Normal, a definição profunda da circunferência era a definição própria vida e o filme procura mostrar os encontros e desencontros da existência, a depender da linha escolhida para ligar a um dos tantos pontos do círculo.

No interior do círculo traçamos retas, curvas, ângulos, triângulos…, Muitas vezes caminhamos por hipotenusa, outras vezes por catetos, sem saber ao certo qual o caminho mais curto. Afinal, nem todo triângulo é equilátero e caminhamos longamente, em circulo sem chegar ao destino. Alguns caminham por quarenta anos e continuam perdidos. Não compreendem  que o caminhar é feito de acasos, mas também de  escolhas. 290315

 


Uma Resposta para “Andando em círculo”

  1. Mary Santos

    Parabéns cronista Jorge Maia. Fico feliz em fazer uma leitura breve, análoga e tão contundente com o sistema o qual estamos vivendo. A impressão q tenho é q essa safra de referências e talentos como vc não vai ser perpassada. Fico preocupada com essa geração da NET q não lê, não assiste a um documentário, não escreve, qnto mais fazer uma leitura breve como fiz agora neste fim de tarde… é salutar. Fazer analogias principalmente com matemática, demonstra uma visão aguçada sobre a interação do homem ( comportamentos, atitudes, habilidades e pensamentos ) comparando a conceitos e conhecimentos diversos contextualizados. E fazer de forma tão precisa não é pra qualquer um. Abraços e sucessos.

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