Luís Carlos Fernandes, por Elton Becker

Foto: Blog do Anderson
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Elton Becker

No ano de 1916, por ocasião da morte do poeta Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, seu maior amigo, escrevia: morre jovem aqueles que os Deuses amam e que isto era um nobre preceito de antiquíssima sabedoria. Em um dado momento do epitáfio, Pessoa diz ainda que Sá-Carneiro foi-se muito cedo porque os Deuses lhe tiveram muito amor e ele sofrera a própria grandeza. Leia na íntegra.

Foram estas palavras que me vieram à lembrança quando soube da morte prematura do historiador Luis Carlos Fernandes (1969-2015), meu amigo de 45 anos apenas (faria 46 em julho). Parece que nesta vida nada cresce de nobre que não se vá muito antes do tempo. E a morte, assim aparecida, não tem qualquer espécie de sentido e a presença de Luis entre nós se nos parece como uma pequena demora… Um momento ou um entroncamento, de passagem.

Atque in perpetuum, frater, ave atque vale! Sim, é para sempre, irmão, porque a tua palavra escrita, como historiador, há-de permanecer. Mas, o acabamento que consome a vida, o que chamamos morte, morre a vida em ela própria e fica uma saudade doída, um choro amargo e um inevitável/inacreditável “como?”.
Assim que soube da notícia, perdi-me dentro de mim como num labirinto ou numa miríade de lembranças de conversas que tivemos sobre história, sobre a vida, sobre nada ou apenas conversando como um diálogo numa alma, no momento em que “os seres são almas”. Corri ao velório, mas já era tarde.
Felizmente, uma amiga me levou ao cemitério e no momento em que o féretro descia à cova, o corvo de Alan Poe martelava na minha cabeça “never more, never more”, e eu pensava: “Sim, nunca mais. Nunca mais a sua alegria, o seu amor à história e à pesquisa. Nunca mais… Uma série de tantas outras coisas a fazer. A sua existência já não era vida. Esta aqui que conhecemos”.

E agora o que sou é um sonho que está triste… A Taberna da História do Sertão Baiano estará fechada mas inquieta, como os corações de todos que o amavam. É difícil dizer isso: mas, adeus Luis! Vá em paz… Nesta ida que, afinal, é um regresso!


2 Respostas para “Luís Carlos Fernandes, por Elton Becker”

  1. (Prof. Dill Marques (Edilson Marques dos Santos)

    Um saudoso adeus ao nosso amigo e exemplo de historiador Luís Carlos!!!

  2. Wellington Gusmão Meus amigos mais queridos vão sem que eu os veja no leito de morte. Foi assim com Jaime MArtins de FReitas, poeta, com ANtonio Moreira, fotógrafo, com um amigo mais que irmão, MAuricio Melo, jornalista, e agora com o duplamente coleg

    Meus amigos mais queridos vão sem que eu os veja no leito de morte. Foi assim com Jaime MArtins de FReitas, poeta, com ANtonio Moreira, fotógrafo, com um amigo mais que irmão, MAuricio Melo, jornalista, e agora com o duplamente colega jornalista e historiador LUiz FErnandes, a quem a morte nos rouba tão precocemente. Apesar de conectado quase o dia inteiro no face, só de madrugado vi a fatídica notícia a qual custei acreditar, tendo que buscar outros links e blogues. Muitos projetos interrompidos, uma história no meio do caminho… Amanhã lhe seguiremos, Luiz. Por enquanto, um domingo de páscoa com a alegria da ressurreição de alguém que nos deixou há dois mil ( para nós, historiadores, outro dia) e a tristeza de quem ainda vai ter que esperar por esse reencontro. E aí, então, vamos falar desse dia, hoje, com a animação de dois amigos que se reencontram.

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